Redação –
Morreu vítima de consequências da Covid-19, na noite desta quarta-feira (3), aos 92 anos, o presidente da NCST (Nova Central Sindical dos Trabalhadores) e da CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria), José Calixto Ramos. Ou simplesmente Calixto, como todos o conheciam. Ele estava em Recife (PE), sua terra natal, e se recuperava bem das sequelas do vírus, mas teve parada cardíaca fulminante.
Calixto, pode-se dizer, teve uma vida intensa e uma militância sindical fulgurante. Ocupou todos os postos que o movimento sindical lhe reservou e permitiu.
Calixto foi ministro classista temporário no TST (Tribunal Superior do Trabalho) representante dos trabalhadores, pela CNTI, no período de 1989 a 1995. Presidia a Nova Central, desde sua fundação, em 29 de junho de 2005, até então.
Sob sua coordenação, foram criadas 2 estruturas sindicais de 3º grau — a CCT (Coordenação Confederativa dos Trabalhadores) em 1996; e o FST (Fórum Sindical dos Trabalhadores) em 2003 —, que foram embrionárias da NCST.
“Calixto foi um grande apoiador da luta das mulheres brasileiras, abrindo as portas da CNTI para encontros e congressos de entidades de mulheres. Grande amigo e colaborador”, lembrou a jornalista e ex-presidente da Federação das Mulheres do Distrito Federal, Eliana Reis.
Trajetória sindical
Nascido no município de Ipojuca — um dos integrantes da Região Metropolitana do Recife, distante cerca de 43 quilômetros ao Sul da capital pernambucana —, Calixto iniciou sua militância sindical na década de 60, do século passado, no setor metalúrgico.
Foi ativista e delegado sindical na base do Sindicato dos Metalúrgicos de Recife, quando em agosto de 1965 chegou à presidência da entidade. Em seguida, fundou a Federação dos Trabalhadores na Indústria do estado de Pernambuco. Ocupou na Federação, o cargo de secretário até transferir-se para Brasília, na condição de vice-presidente da CNTI, fundada em 19 de julho de 1946 e reconhecida pelo Decreto 21.978, de 25 de outubro do mesmo ano.
Assumiu a presidência da CNTI em outubro de 1983, em razão do afastamento do então presidente Ary Campista. Foi eleito presidente da entidade, em pleito nacional, em 1985, sendo reconduzido sucessivas vezes até então.
Quando foi eleito presidente da Nova Central, Calixto já tinha muita estrada rodada e experiência acumulada para ajudar o movimento sindical a superar as dificuldades e aproveitar os avanços que obteve na chamada Era Lula (2003-2010).
Figura humana esplêndida
Calixto era uma dessas figuras que não se esquece após o 1º contato; figura humana muito acessível, afável e tranquila. Foi um excelente quadro político do movimento sindical. A despeito de sua idade já avançada, se movimentava com desenvoltura de jovem nas lides sindicais, que são intensas e desgastantes.
Em 2008, quando as centrais sindicais foram regulamentadas por meio da Lei 11.648, de 31 março, Calixto e diversos presidentes de confederações sindicais de trabalhadores já haviam iniciado a estruturação da Nova Central, que a lei reconheceu e reforçou. Desde então, o experiente dirigente sindical, com os presidentes das demais centrais, protagonizavam ações políticas e sociais, dentro e fora do Congresso, no sentido de garantir e ampliar conquistas para os trabalhadores, que o impeachment da ex-presidente Dilma e os governos Temer (2016-2018) e Bolsonaro, em curso, estão suprimindo sem considerar que foram conquistados à duras penas.
Calixto era figura diferenciada no movimento sindical. Era amplo e firme em suas convicções. Se adaptou com desenvoltura à era das centrais sindicais, pois percebeu que apenas a estrutura das confederações não seria mais possível corporificar a imensa massa de demandas e novidades advindas do mundo do trabalho e as novas relações surgidas com os avanços tecnológicos, que se mostram irreversíveis e desafiadores.
Sentimentos, condolências e Fórum das Centrais
Há um sem número de mensagens de sentimentos e condolências circulando nas redes sociais, aos familiares e aos dirigentes da Nova Central e da CNTI, pela passagem do velho combatente que feneceu e vai fazer muita falta ao movimento sindical.
Registre-se a do Fórum das Centrais Sindicais — CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CSB: “Parte um grande companheiro de décadas de lutas em defesa da classe trabalhadora, incansável na dedicação à proteção sindical dos trabalhadores e das trabalhadoras, na organização do sindicalismo, nas mobilizações, nas lutas, nas negociações e na representação institucional. Parte um companheiro que contribuiu com este Fórum e com nossos esforços de unidade.”
E conclui: “Deixamos nossos sentimentos e solidariedade aos familiares e aos dirigentes sindicais na NCST e da CNTI. Grande Calixto, presente!”.
Uma poesia do poeta revolucionário
Quando escrevíamos este texto, lembramos da poesia do maior poeta russo do século 20, Vladimir Maiakovski (1893-1930), ele defendia que “sem forma revolucionária não há poesia revolucionária”.
Sua obra ajudou a verter para a poesia os ideais da grande Revolução Russa (1917) e foi traduzida, no Brasil, por nomes do porte de Boris Schnaiderman e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Meu Maio, poema de Maiakovski que o DIAP reproduz hoje, em homenagem justa e póstuma ao velho combatente e dirigente sindical de larga e longa história dedicada às lutas do povo brasileiro, que a pandemia do coronavírus acaba de levar. Leia:
Meu maio
(Vladimir Maiakovski)
A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês –
Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!
Fonte: DIAP
MAZOLA
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