Redação –
Oito integrantes da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo pediram desligamento nos trabalhos da operação ao procurador-geral da República, Augusto Aras. Os membros do grupo afirmam haver “incompatibilidades insolúveis” com a procuradora natural dos casos da Lava Jato, Viviane de Oliveira Martinez, que era a chefe dos demais procuradores, mas não atuava diretamente nos processos da força-tarefa. A saída não será imediata e deve ter um prazo de transição de algumas semanas até a conclusão.
O grupo e a procuradora travavam um embate desde março, quando ela assumiu o quinto ofício da procuradoria da República em São Paulo – este braço do Ministério Público é responsável pela Lava Jato no estado. No entanto, os demais membros afirmam que Viviane não quis atuar nos casos da Lava-Jato e deixou a coordenação do grupo sob a tutela da procuradora Janice Ascari, que chegou a assessorar o ex-procurador geral Rodrigo Janot.
DEBANDADA – Entre os membros que deixam a força-tarefa, estão os procuradores Thiago Lacerda Nobre, Guilherme Rocha Göpfert, Paloma Alves Ramos, Marília Soares Ferreira Iftim, Paulo Sérgio Ferreira Filho e Yuri Corrêa da Luz. A debandada do grupo acontece um dia depois do coordenador da força-tarefa no Paraná, Deltan Dallagnol, anunciar sua saída da operação.
Dallagnol afirmou que sua saída ocorreu por motivos de saúde de sua filha de um ano e 10 meses que passará por exames e tratamento médico. Ele será substituído por Alessandro José Fernandes de Oliveira, que atualmente faz parte do grupo de trabalho da Lava Jato da Procuradoria-Geral da República (PGR) e que tem perfil mais discreto e moderado.
SINDICÂNCIA – No último dia 4, a Corregedoria-Geral do Ministério Público Federal (MPF) mandou abrir uma sindicância para apurar se houve irregularidade na distribuição de investigações conduzidas pelos integrantes do grupo paulista. A suspeita é de que houve descumprimento de regras para a escolha dos responsáveis pela condução de inquéritos.
Os procuradores se insurgiram contra a sindicância e disseram que o ocorre é justamente o contrário. Viviane teria dificultado o andamento das investigações e remetido para outras divisões os casos da força-tarefa. Além disso, teria adotado o entendimento de que várias das investigações em curso em São Paulo não deveriam tramitar no estado. Para o grupo, a postura da chefe inviabilizou os trabalhos.
AÇÃO CONTRA SERRA – Em outro ofício, mas desta vez ao Conselho Superior do Ministério Público Federal os procuradores dizem que Viviane teria se omitido de suas atribuições. Um desses casos diz respeito a um pedido de adiamento de uma operação contra o senador tucano José Serra. O motivo seria a possibilidade de uma eventual decisão do Conselho Superior do MP enviar o caso a Brasília.
Serra, que governou o estado entre 2007 e 2010, é investigado pelos procuradores por supostamente receber propinas da Odebrecht nas obras do Rodoanel. Ainda assim, a força tarefa informa que conseguiu levar adiante a operação contra Serra. Ele chegou a ser denunciado pela força-tarefa em julho junto com sua filha Verônica. No entanto, em decisão na semana passada, o ministro Gilmar Mendes ampliou liminar concedida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, e suspendeu a ação penal contra o tucano.
GESTÕES TUCANAS – Na Lava Jato de São Paulo, correm investigações sobre grandes obras, como rodoanel e metrô, durante gestões tucanas. Além dos governos de Serra, o Ministério Público também mira nas gestões de Geraldo Alckmin, e sobre familiares dos ex-presidentes Lula (PT) e Michel Temer (MDB). Lula e Temer também já foram alvos de denúncias.
No entanto, o avanço das investigações sempre esbarrou na falta de estrutura. Além de não haver um juiz único para agilizar os processos, o grupo sempre sofreu com baixas constantes no número de procuradores, cuja maioria nunca teve dedicação exclusiva e tinham de acumular casos complexos como os da Lava-Jato, com outros procedimentos de seus locais de origem.
Fonte: O Globo
MAZOLA
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