Por Ricardo Cravo Albin

“Sem uma imprensa livre, os olhos do país estarão cegos, bocas mudas, ouvidos surdos. E espíritos aprisionados.” – Bertrand Russel, um dos fundadores do Pen Clube Internacional.

Paralelamente à iniciativa articulada pela Faculdade de Direito da USP em defesa da democracia e do funcionamento regular do sistema eleitoral brasileiro, que recebeu quase um milhão de assinaturas e que foi lida em São Paulo há pouco, as associações que representam empresas de jornalismo assinaram outro precioso documento em defesa de três liberdades básicas, de imprensa, da democracia e do atual processo eleitoral brasileiro. O documento abriga instituições de renome e crédito público como a Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT).

Por décadas seguidas mantenho relacionamento muito chegado com esta última, a ABERT, da qual fui representante dos autores de rádio e televisão (indicado pelo Boni) por anos e anos a fio, inicialmente na luta contra a censura dentro do próprio Conselho Superior de Censura, e posteriormente (até hoje) no CONAR (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação da Publicidade), órgão sugerido por Pompeu de Souza (representante da ABI) e por mim (representante da ABERT) para aliviar a aspereza da censura por sobre anúncios comerciais veiculados pelas emissoras naquela época, para atingir indiretamente o jornalismo e as novelas da Globo. Oh tempora, oh mores.

O documento que a ABERT me enviou ontem destaca que a missão jornalística só pode ser levada aos brasileiros com abrangência e transparência em ambiente de liberdade política, solidez das instituições e respeito à Constituição.

Com base em seus princípios de defesa das liberdades de imprensa, de opinião e informação, as entidades de comunicação que acabam de trazer à luz este documento vieram a público reiterar seu compromisso com o Estado Direito e as decisões soberana das eleições, referendadas por uma Justiça Eleitoral cuja atuação e credibilidade obtêm amplo apoio internacional. O documento sobre o qual me debruço aqui absorve outras cartas das mais de três dezenas de instituições da sociedade civil em defesa da democracia, que se agregaram ao fato público relevante que foi a leitura ontem da carta da USP, no histórico Largo de São Francisco. Aliás, quero registrar ainda o abaixo-assinado de amplo movimento empresarial coordenado pela FIESP (a poderosa Federação das Indústrias de São Paulo), e assinado por grandes investidores e empresários.

Já que me referi à ABERT, aproveito para agradecer de público neste artigo ao antigo representante da entidade no Rio, o homem de tevê e comunicação Flavio Cavalcanti Junior, que doou há tempos ao Instituto que presido no Rio os objetos do Museu do Rádio Roberto Marinho, despejado que foi pelo Governo do Estado de casarão colonial no centro carioca. Nas últimas semanas venho empregando meus finais de semana para analisar o acervo doado que esteve sob guarda do Arquivo Nacional nos últimos dez anos. E agora sendo compartilhado com nosso parceiro, o Museu da Música em São Fidélis. Nossa Instituição foi contemplada pela ABERT, através de Flavio Cavalcanti Junior, filho de quem o nome está a indicar. O acervo Museu Roberto Marinho foi recolhido de doações discográficas de emissoras de todo o país, em especial daqueles fundados pelo próprio Roberto Marinho, como a Rádio Globo.

O acervo do Museu do Rádio está sendo preservado com luvas de pelica. E luxos como talquinhos e fraldinhas, de que são merecedores bebês centenários como as antigas mídias, hoje sem serventia prática nas emissoras. Senão para colecionadores que destinaram suas vidas à preservação de bens consolidadores da alma e do espírito do país.

Muitas vezes até desatento à grandeza de sua memória, origem e fontes.

***

P.S-1: Uma lágrima de saudade em preito à atriz Maria Fernanda, uma das três Marias de Cecília Meirelles. E amiga querida deste escriba por mais de trinta anos, desde que morava em apartamento do pequeno prédio na Lagoa, que tinha como vizinhos de porta Walmir Ayala e Fausto Wolff.

P.S-2: E outra enorme saudade de Jô Soares. Emitindo sempre o brado eterno: “Viva o gordo!”.

P.S-3: Registro minha enorme satisfação ao ver recuperada a memória da escritora carioca Julia Lopes de Almeida, que seria uma das fundadoras da Academia Brasileira de Letras. Se fosse admissível à época a presença de mulheres. A Academia Carioca de Letras ostenta em seu salão belo óleo que retrata a escritora, cujo estilo e humor crítico permitiram a ela ser uma abolicionista e feminista de primeira – diria de primeiríssima – linha.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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