Redação –
O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, comunicou que pediu à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República a abertura de um inquérito para investigar a publicação de uma charge pelo jornalista Ricardo Noblat. Na ilustração, feita por Renato Aroeira, é utilizada uma suástica, símbolo nazista, para criticar o presidente da República Jair Bolsonaro.
Em uma publicação feita nesta segunda-feira (15), nas redes sociais, o ministro argumenta que o pedido da investigação se enquadra na Lei de Segurança Nacional (veja a íntegra), que “trata dos crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social” e cita o artigo 26, que prevê a pena de reclusão de um a quatro anos para quem “caluniar ou difamar” o presidente da República, do Senado, da Câmara ou do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na publicação, Mendonça também afirma que a charge faz uma “alusão da suástica nazista” a Bolsonaro.
Solicitei à @policiafederal e à @MPF_PGR abertura de inquérito para investigar publicação reproduzida no Twitter Blog do Noblat, com alusão da suástica nazista ao presidente Jair Bolsonaro. (…)
— André Mendonça (@AmendoncaMJSP) June 15, 2020
Pela manhã, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) utilizou o perfil oficial nas redes sociais para comunicar que Noblat e Aroeira responderão pelo crime de “falsa imputação” por terem associado, sem provas, Bolsonaro ao nazismo. “O senhor Ricardo Noblat e o chargista estão imputando ao Presidente da República o gravíssimo crime de nazismo; a não ser que provem sua acusação, o que é impossível, incorrem em falsa imputação de crime e responderão por esse crime”, publicou a secretaria no Twitter.
Falsa imputação de crime é crime. O senhor Ricardo Noblat e o chargista estão imputando ao Presidente da República o gravíssimo crime de nazismo; a não ser que provem sua acusação, o que é impossível, incorrem em falsa imputação de crime e responderão por esse crime. https://t.co/VTtDz6M1ti
— SecomVc (@secomvc) June 15, 2020
Ao Congresso em Foco, Noblat disse que cabe à Justiça analisar se houve crime. “Acho que a Justiça saberá examinar e distinguir o que é o direito à expressão de pensamento e o que é o cometimento de um crime em nome da liberdade de expressão.”
Ele também analisou a reação às críticas demonstradas na charge como algo comum de um governo autoritário. “Não é de se estranhar que o governo reaja assim a tudo que o incomoda porque é claramente um governo autoritário e que aposta o tempo todo na ruptura democrática”, concluiu.
Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) diz que ameaças “não calarão”, quem defende a liberdade de imprensa e democracia. “A aversão à crítica é própria das ditaduras e dos candidatos a ditador. No entanto, as ameaças não calarão os defensores da liberdade de imprensa e da democracia”. A ABI também citou falas de Bolsonaro, entre elas, em defesa da tortura e guerra civil.
Leia a íntegra da nota da ABI
Nota da ABI sobre a ameaças contra Aroeira e Noblat
[Sobre a tortura]: “Eu defendo a tortura; vocês sabem disso. O erro foi torturar e não matar. Se tivessem matado mais gente teria sido melhor.”
[Sobre o país]: “Só vai mudar com guerra civil, matando uns 30 mil.”
[Sobre honestidade]: “Eu sonego imposto. Sonego o que for possível.”
[Sobre a Amazônia]: “A Amazônia não é do Brasil. Devemos entregá-la aos Estados Unidos porque não sabemos explorá-la.”
As frases acima são uma pequena amostra das barbaridades ditas por Jair Bolsonaro ao longo de sua carreira. Elas dão bem uma ideia do que é o presidente.
Por isso, é estarrecedor que o ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, anuncie a abertura de um inquérito policial contra o chargista Aroeira e o colunista Ricardo Noblat, devido a uma ilustração criada pelo primeiro e reproduzida pelo segundo, associando Bolsonaro ao nazismo.
A aversão à crítica é própria das ditaduras e dos candidatos a ditador.
No entanto, as ameaças não calarão os defensores da liberdade de imprensa e da democracia.
Aroeira e Noblat têm, neste momento, a defesa incondicional da ABI.
Paulo Jeronimo
Presidente da ABI
Fonte: Congresso em Foco
MAZOLA
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