Redação –
O governo de Jair Bolsonaro fez 48 inserções da propaganda da “Nova Previdência” no canal de Youtube do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, e veiculou por 13 vezes propagandas no site flaviobolsonaro.com, página na internet que divulga ações do mandato do senador. A informação consta em um relatório feito pela consultoria legislativa da Câmara e divulgado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI mista) das Fake News.
Flávio Bolsonaro não foi o único parlamentar a ter anúncios do governo divulgado em seus canais. A Secretaria de Comunicação (Secom) também veiculou propaganda no canal de um deputado petista. Trata-se do Canal Resistência, que pertence a Paulo Pimenta (PT-RS). A página do petista recebeu 26.778 veiculações de propaganda da reforma da previdência.
Aliado fiel de Jair Bolsonaro, o deputado pastor Marco Feliciano (Republicanos-SP) recebeu 113 veiculações da propaganda. Já a deputada Bia Kicis (PSL-DF) recebeu uma veiculação.
A remuneração a criadores do YouTube que são elegíveis para veicular anúncios em seu conteúdo é resultado de uma combinação de fatores e não depende, exclusivamente, da quantidade de vezes que o vídeo foi visualizado. Com isso, é possível que os anúncios públicos tenham gerado receita para os deputados e senadores. Os valores variam a depender do tipo de conteúdo e até mesmo audiência no canal. O usuário também pode definir quais anunciantes podem ou não serem veiculados em seu canal, selecionando as URLs de anunciantes específicos e bloqueando-os. Ou ainda pode bloquear assuntos.
Segundo dados do Business Insider, site de notícias norte-americano, divulgados pela Tec-Mundo, o Youtube costuma remunerar seus criadores de conteúdo com valores que variam de US$ 2 a US$ 34 por mil impressões. Por isso é difícil estimar ao certo quanto o cada parlamentar pode ter lucrado com os anúncios do governo.
A veiculação das propagandas fica a cargo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), e os dados foram repassados para a CPI mista, por meio do Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC).
No dia 3 de junho veio a público um relatório que apontou que o governo havia veiculado propaganda em sites e canais que espalham fake news e/ou cometem crimes virtuais. À época, a Secom afirmou que as verbas publicitárias eram direcionadas pelo Google Adsense e que “cabe à plataforma as explicações pertinentes sobre a ocorrência”. Porém, o anunciante tem opções dentro da plataforma do Google para dizer em quais canais deseja ou não veicular suas propagandas. Se a Secom gastou dinheiro público em canais de parlamentares, isso se deu por não ter bloqueado esses canais dentro da plataforma do Google Adsense.
Conforme divulgou a Agência Pública no último dia 7, o governo também gastou dinheiro público veiculando propaganda da nova Previdência em canais infantis e religiosos.
Deputados que fazem parte da CPI mista afirmaram para a reportagem que estão aguardando uma nova leva de relatórios e que os conteúdos devem gerar ainda mais barulho. Esses novos relatórios abarcam um período maior de análise e promete ser mais detalhado do que os feitos até então.
Para o deputado Paulo Pimenta, a veiculação de propaganda favorável à reforma da Previdência em seu canal, demonstra um “um descontrole completo” por parte da Secom com o dinheiro público. “É uma demonstração de que não havia nenhuma linha de comunicação clara. Ao ponto de que na época eu era o líder do PT na Câmara”, diz Pimenta, que na mesma época fazia forte oposição a essa matéria.
A equipe do senador Flávio Bolsonaro disse que “somente a ferramenta AdSense pode explicar os critérios escolhidos para definir quem receberia a publicidade. O algoritmo deve ter considerado os canais do senador Flávio Bolsonaro como os mais eficientes para levar a mensagem e a ferramenta, sozinha, decidiu publicar”.
A resposta da Secom também foi nessa mesma linha. “Esclarecemos que não houve direcionamento da exibição do anúncio mencionado para sites ou parlamentares especificamente determinados. Apenas para melhor compreensão do processo, são as agências contratadas que, com base no briefing da Secom, planejam a divulgação nos diversos meios de comunicação, entre os quais a plataforma Google Ads”, respondeu a Secom.
O Congresso em Foco questionou o órgão, sobre quais foram as métricas utilizadas para configurar os anúncios, ou seja, quais foram as diretrizes que a Secretaria deu ao Google. Em resposta, a Secom apenas afirmou que “as agências configuram a plataforma conforme o público-alvo e os parâmetros aprovados pelo anunciante como, por exemplo, custo máximo e tempo mínimo para visualização da peça (vídeo). A ferramenta do Google realiza a entrega dos anúncios para o perfil da internet (usuários) que tenha manifestado interesse pelo tema. Trata-se, portanto, de uma inteligência artificial, sob a responsabilidade do Google, programada para buscar o público-alvo onde ele estiver”.
O Google, porém, afirmou ao site que o anunciante consegue, de maneira precisa, bloquear canais e sites de parlamentares, ou qualquer que seja o alvo do bloqueio. Isso se dá de maneira simples dentro da plataforma. “Entendemos que os anunciantes podem não desejar seus anúncios atrelados a determinados conteúdos, mesmo quando eles não violam nossas políticas, e nossas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos”.
Sendo assim, segundo o Google, era possível que a Secom bloqueasse a veiculação em canais de parlamentares antes e durante a campanha. A reportagem questionou o órgão sobre quando teve ciência de que a propaganda estava sendo veiculada em canais de congressistas e se teria bloqueado tais canais nesse momento, mas essa pergunta não foi respondida.
O Congresso em Foco procurou as equipes dos deputados Marco Feliciano e Bia Kicis, mas não obteve resposta.
Nota do Google na íntegra:
“O Google tem ajudado parceiros do setor privado e do setor público a usar a publicidade digital para levar suas mensagens a milhões de brasileiros de modo eficiente, com escala e alcance.
Temos políticas rígidas que limitam os tipos de conteúdo nos quais exibimos anúncios, como a que não permite que publishers busquem enganar o usuário sobre sua identidade ou produtos. Quando uma página ou site viola nossas políticas, tomamos medidas imediatas e removemos sua capacidade de gerar receita.
Entendemos que os anunciantes podem não desejar seus anúncios atrelados a determinados conteúdos, mesmo quando eles não violam nossas políticas, e nossas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos.
Cientes do dinamismo do ecossistema digital, também trabalhamos no aperfeiçoamento de nossas plataformas para oferecer os melhores resultados possíveis para nossos parceiros. Preservar a confiança no ambiente de publicidade digital é uma prioridade.
Agimos diariamente para minimizar conteúdos que violam nossas políticas e impedir a ação de pessoas mal-intencionadas em nossa rede. Somente em 2019, conforme nosso mais recente relatório de transparência, encerramos mais de 1,2 milhão de contas de publishers e retiramos anúncios de mais de 21 milhões de páginas, que faziam parte de nossa rede, por violação de políticas.”
Nota da Secom na íntegra:
Esclarecemos que não houve direcionamento da exibição do anúncio mencionado para sites ou parlamentares especificamente determinados. Apenas para melhor compreensão do processo, são as agências contratadas que, com base no briefing da Secom, planejam a divulgação nos diversos meios de comunicação, entre os quais a plataforma Google Ads.
As agências configuram a plataforma conforme o público-alvo e os parâmetros aprovados pelo anunciante como, por exemplo, custo máximo e tempo mínimo para visualização da peça (vídeo). A ferramenta do Google realiza a entrega dos anúncios para o perfil da internet (usuários) que tenha manifestado interesse pelo tema. Trata-se, portanto, de uma inteligência artificial, sob a responsabilidade do Google, programada para buscar o público-alvo onde ele estiver.
Por fim, reiteramos que a Secom tem orientado as agências contratadas a realizar as entregas de publicidade na internet com a máxima estrita observância dos normativos internos e da legislação vigente sobre veiculação de propaganda.
Fonte: Congresso em Foco
MAZOLA
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