Por Roger Mcnaught

Recentemente, o grupo ativista conhecido como “Nova Resistência” tem sido protagonista em diversas polêmicas envolvendo apoio a candidaturas nas eleições de 2020, agressões virtuais a pessoas discordantes e caos ideológico.

Seguindo os rastros de uma dessas polêmicas, encontramos uma que remete às origens do grupo – cuja semelhança no nome e na comunicação visual levanta sérias suspeitas sobre ligações externas com um grupo estadunidense chamado “New Resistance” e seu líder, o entrevistado James Porrazzo.

De acordo com publicações encontradas na internet, há versões conflitantes sobre as origens do grupo, culminando inclusive em uma suposta foto feita em um evento onde James é retratado como “líder” em uma projeção. O embate público entre James e diversos membros da Nova Resistência é algo corriqueiro e revela uma animosidade não natural em relação a uma pessoa que, segundo uma das versões, deveria ser completamente estranha à organização brasileira.

O conflito de versões se estende a níveis internacionais quando o motivo do suposto desligamento da “Nova Resistência” da sua contraparte estadunidense “New Resistance” é denunciado publicamente como sendo traição. Segundo James, a lealdade da organização brasileira estaria na Rússia – algo negado publicamente pelo grupo político.

O histórico de registro do site oficial deles, no entanto, mostra que até a última atualização o site era hospedado na Federação Russa, algo que apenas aumentou o volume de rumores. O site encontra-se atualmente hospedado em outro provedor.

A LIDERANÇA

O líder do grupo brasileiro, identificado como Raphael Machado, está no centro de diversos rumores em publicações digitais. Recentemente, ele participou ativamente da campanha para contestar as afirmações feitas por uma comunicadora digital de orientação nacionalista de nome Cibele Laura.

De acordo com capturas de tela obtidas da internet e enviadas até a data desta publicação por fontes, observa-se uma postura bastante incômoda nas colocações de Raphael acerca de diversos assuntos delicados, enquanto em outros o posicionamento se alinha com o nacionalismo que ele e seu grupo alegam defender.

A Entrevista

Diante da presença do nome de James Porrazzo em várias discussões acaloradas, buscamos ouvir o que ele tinha a dizer sobre o assunto. A Entrevista, feita em Inglês, foi traduzida.

O que é o movimento “Nova Resistência”?

James Porrazzo – NEW RESISTANCE é uma rede global de revolucionários nacionais da diáspora europeia e europeus , arqueofuturistas, nacionalistas populistas, dissidentes de direita de várias tendências e outros radicais. Nosso movimento se engaja em atividades políticas e educacionais, bem como em funções sociais, e como um meio de ajudar nossos membros a melhorar suas vidas.

O que você pode nos dizer sobre a quarta teoria política?

James Porrazzo – Essa é uma ideologia que Alexander Dugin vem desenvolvendo há cerca de uma década. É algo vago, estritamente para acadêmicos. Para ilustrar isso, há alguns meses eles tiveram uma conferência para discutir qual deveria ser o “assunto” do QTP. Depois de dez anos eles estão apenas fazendo essa pergunta? Isso é muita contemplação do umbigo.

Existe um movimento brasileiro chamado “Nova Resistência”. Está relacionado ao movimento dos EUA?

James Porrazzo – Já foi. Convidamos o Raphael Machado para fazer parte do NR depois de conversar alguns anos com ele, achando que ele era um cara legal e que suas ideias eram próximas às nossas. Demos a ele permissão para usar nosso nome, os símbolos que projetamos e os slogans que criamos. Isso foi aproximadamente em 2014, cerca de quatro anos depois de renomearmos a ‘American Front’ para ‘New Resistance’.

Ao longo do último ano ou mais tivemos conflitos crescentes com a NR-B, e dúvidas sobre as decisões de Machado, falta de lealdade, integridade questionável e direção confusa. Estas provaram ser mais do que válidas.

Agora não temos nada a ver com eles, exceto alguns velhos camaradas que permanecem em contato conosco enquanto trabalham para alavancar uma mudança na liderança do NR-B. Não é algo que endossamos.

Acreditamos que Machado provavelmente causou danos irreparáveis ao nome do NR no Brasil. E bons militantes estariam melhor servidos caso se dedicassem a outros movimentos não associados à dissimulação.

O que você pode nos contar sobre a liderança do movimento brasileiro? Sobre seu passado político e / ou seus objetivos neste movimento?

James Porrazzo – Machado estava muito focado em questões étnicas quando se juntou a nós. Ele havia sido membro do culto de Nimrod de Rosario, que são nacional-socialistas esotéricos, e também aluno de Miguel Serrano, outro nacional-socialista esotérico. Na verdade, houve uma discussão acalorada sobre não deixá-lo entrar por esses motivos. Mas ele concordou que não defenderia o “nacional-socialismo esotérico” usando nosso nome e símbolos. Que tudo isso era apenas um assunto pessoal para ele.

Não muito depois, o culto de “De Rosario” parece ter expulsado Machado por questões de sua composição étnica após ver fotos de seus pais. Este parece ser um problema recorrente para ele. Em sua adolescência, ele era um skinhead nacional-socialista do “Rock Contra o Comunismo” , ativo no Rio e em Stormfront. Ele foi expulso desses círculos de forma bastante dramática. Ainda há alguns vídeos dele circulando por aí, que foram bastante rudes com ele.

Quanto aos seus objetivos para o NR-B, foram algo que nos levou a não confiar nele e a romper com eles. Machado parece bastante obcecado com a ideia de NR-B convencer o PDT e até mesmo PSOL e outros grupos menores que eles são de fato de esquerda, em um esforço para usar uma estratégia “entrista” para ganhar influência e poder.

Para tornar isso crível, Machado colocou vários ex-comunistas e até mesmo antifa em posições-chave do NR-B.

Por exemplo, seu chefe de segurança é um “ex” organizador antifa dos Skinheads Contra o Preconceito Racial (SHARP). Como isso não é um risco para seus membros que vêm de origens nacionalistas?

Para nós, tudo isso tinha um cheiro estranho de Soros. Com Machado ainda defendendo em particular as idéias de Rosario e Serrano, e mantendo um punhado de satanistas nazistas em papéis de liderança da Ordem dos Nove Ângulos, trabalhando lado a lado com estalinistas e maoístas conspirando juntos.

Também vimos essa falta de espinha dorsal ideológica em outros lugares. Como exemplo, Machado constantemente acusa outros de serem sionistas, ao mesmo tempo em que endossa o principal tradutor de Dugin para o inglês, que é um sionista tão radical que o partido que ele apoia foi proibido em Israel. E quem faz apresentações sobre como o sionismo é uma expressão legítima do QTP.

Isso tudo era bobagem demais para nós.

O objetivo final de Machado para o NR-B? Provavelmente para continuar a agir como procurador para agentes russos e chineses, enquanto espera fortemente que eles possam se tornar uma facção dentro do PDT ou em algum lugar semelhante.

Pode ser algo a ter em mente que nos nove anos que conhecemos Machado não tomamos conhecimento dele trabalhar um dia sequer, algo capaz de pagar suas contas ou colocar comida em sua mesa. Mesmo morando com os pais, parece provável que o dinheiro venha de outro lugar para outra coisa que não um trabalho honesto.

Você mencionou alguns nomes de organizações nas respostas anteriores. Você pode descrever alguns em detalhes? (Nimrod de Rosario, Stormfront)

James Porrazzo – Nimrod de Rosario era o pseudônimo de Luis Moyano, um autor argentino e líder de culto. Suas idéias eram uma mistura de gnosticismo anticristão (ele acreditava que o Deus da Bíblia era na verdade o maior inimigo da humanidade e Lúcifer um defensor da humanidade), de que o povo judeu seria o servo desse “Deus maligno” cujo sangue os torna inimigos de pessoas brancas em uma guerra eterna. Ele também considerou Hitler um ser divino. Machado fazia parte de seu culto que continuou após a morte de Moyano, até ser expulso. Mesmo depois de ser expulso, até hoje, ele defende em particular as crenças de Moyano. Uma estranha combinação com a linha política que ele defende externamente à NR-B.

Stormfront era um fórum nacionalista branco com sede nos Estados Unidos. Foi o primeiro de seu tipo e o maior operado por pessoas associadas a David Duke, KKK e grupos nazistas americanos. Uma combinação de idiotas completos, agentes da polícia e lunáticos enlouquecidos. Meu próprio povo foi banido de Stormfront desde sua fundação, não que jamais teríamos participado lá de qualquer maneira.

Já estamos nos preparando para as eleições no Brasil e há um candidato concorrendo associado ao símbolo NR brasileiro, você está ciente disso?

James Porrazzo – Sim, esta foi uma grande polêmica. Leo tem uma história de ser um líder hooligan antifa, e a associação de NR-B com ele causou extrema suspeita. Seria difícil pensar em uma aliança mais inadequada. Não temos evidências disso, mas o rumor recorrente é que há dinheiro envolvido para “forjar” essa aliança e ninguém envolvido nela é sincero.

Você tem conhecimento de alguma possível associação extremista da NR brasileira? (grupos extremistas ou indivíduos)

James Porrazzo – Bem, todos nós temos opiniões diferentes sobre quem é extremista ou não, mas pelo nosso entendimento a legislação brasileira está sendo violada por Machado e pela NR-B ao trabalhar abertamente com o Hezbollah por exemplo. Eles rotineiramente participam de conferências online das quais o NR-B se gaba sobre. Eles também parecem estar obcecados com as ideias Revisionistas do holocausto – que dizem que nunca aconteceu – que repetem online com muita frequência. Considerando que Machado afirma ser advogado, e parece estar na academia de polícia do Rio Grande do Sul para se tornar policial, ele saberia que isso é ilegal no Brasil também.

Você mencionou que eles estão se infiltrando em organizações políticas do Brasil. Você tem algum ideal por quê? Eles têm algum planejamento para isso?

James Porrazzo – É um antigo método trostskista chamado “entrismo”, também praticado por uma Ordem Satânica que tem membros na liderança do NR-B (o quadro NR-B obeso frequentemente visto nas fotos ao lado do Capitão Leo é um desses Satanistas, um membro da Ordem dos Nove ângulos). A ideia é se juntar, ascender a posições de autoridade – papéis de liderança são almejados, também alas juvenis e qualquer braço de segurança que possa existir, para então empurrar a organização em uma direção que a NR-B (e seus mestres) aprovam, enquanto recrutam membros promissores da “organização anfitriã” para o NR-B. Se isso falhar, a próxima opção é sabotar a organização internamente. Tudo isso foi discutido abertamente pelo NR-B em seus grupos privados de membros do FB e grupos do WhatsApp, embora essas coisas certamente tenham sido apagadas agora.

Existe um blog chamado “Legio Victrix” que mostra alguns conteúdos relacionados ao assunto desta entrevista. Existe uma relação?

James Porrazzo – Este é o blog pessoal de Raphael Machado. Ele manteve isso por muito tempo, antes de permitirmos que ele ingressasse no NR, antes do NR-B, e continua até hoje. Você deve ter notado que seu símbolo é uma águia fascista. Estranho para uma pessoa que se diz antifascista para quem quiser ouvir, não na NR-B.

Um dos candidatos (não se tem certeza se é membro ou apenas alguém apoiado por eles) “André Bicho Solto” foi afastado da disputa em São Paulo após ser denunciado.

James Porrazzo – Isso não me surpreende. Mostra o quão pouco o NR-B respeita o PDT que eles empurrariam um cara como Solto, cujo histórico qualquer um pode descobrir em poucos minutos. Suas declarações sobre os judeus são coisas que Machado disse no Twitter há algumas semanas, então essa parece ser a linha política do NR-B. Nós nos perguntamos se o NR-B está comandando pessoas com essa história para que, se eleito, eles possam arranjá-los para serem expostos e danificar a reputação do PDT, ou se o NR-B é apenas completamente incompetente na política real. Espero que as organizações nas quais eles estão tentando se infiltrar revertam isso e os façam pagar. Vimos em primeira mão a falta de integridade na liderança do NR-B. Eles carecem completamente de qualquer senso de honestidade ou honra.

* Este que vos escreve traduziu de forma mais literal possível as palavras de James Porrazzo e não endossa ou questiona as afirmações, apenas transmitindo a opinião dada pelo entrevistado.


ROGER MCNAUGHT – Jornalista, Cinegrafista, Fotógrafo, Colunista e Membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Este texto não reflete necessariamente a opinião de Tribuna da Imprensa Livre