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Fome recua quase pela metade, mas ainda afeta 14,3 milhões de brasileiros – por Pedro do Coutto
A ONU alertou o governo brasileiro, em 2018, sobre a fome e seus indicadores (Foto: Omar Havana/Getty Images)
Opinião

Fome recua quase pela metade, mas ainda afeta 14,3 milhões de brasileiros – por Pedro do Coutto

Por Pedro do Coutto –

O levantamento da ONU sobre a fome no mundo revelou um índice de extrema gravidade, com 733 milhões de pessoas tendo dúvida se vão poder ou não se alimentar no dia seguinte; o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África, de acordo com o último relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo publicado nesta quarta-feira por cinco agências especializadas das Nações Unidas.

O relatório anual, lançado este ano no contexto da reunião ministerial no Brasil da Força-Tarefa do G20 para uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, adverte que o mundo está falhando gravemente em alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável , Fome Zero, até 2030. O relatório mostra que o mundo retrocedeu 15 anos, com níveis de desnutrição comparáveis aos de 2008-2009.

ALARMANTE – Apesar de algum progresso em áreas específicas, como atraso no crescimento infantil e amamentação exclusiva, um número alarmante de pessoas continua a enfrentar insegurança alimentar e má nutrição, já que os níveis globais de fome estagnaram por três anos consecutivos, com entre 713 e 757 milhões de pessoas desnutridas em 2023 – aproximadamente 152 milhões a mais do que em 2019, considerando-se a faixa intermediária (733 milhões).

O relatório aponta que a população em situação de insegurança alimentar no Brasil caiu de 32,8%, no período entre 2020 e 2022, para 18,4% entre 2021 e 2023. Na prática, a redução quase pela metade (-43,9%) significa que entre 2020 e 2022, 70,3 milhões de brasileiros estavam em insegurança alimentar moderada ou grave; já entre 2021 e 2023, 39,7 milhões de brasileiros ainda estavam nessa condição – e outros 30,6 milhões tinham deixado o quadro de insegurança alimentar.

A insegurança alimentar moderada é quando as pessoas enfrentam incertezas sobre sua capacidade de obter alimentos e são forçadas a reduzir a qualidade e/ou a quantidade de alimentos que consomem devido à falta de dinheiro ou outros recursos. A insegurança alimentar grave ocorre quando, em algum momento, as pessoas ficam sem comida, passam fome e, no caso mais extremo, ficam sem comida por um dia ou mais.

Josué Apolônio de Castro, mais conhecido como Josué de Castro, foi um influente médico, nutrólogo, professor, geógrafo, cientista social, político, escritor e ativista brasileiro do combate à fome (Divulgação)

RASTRO – A porcentagem ainda é alta num país com 200 milhões de habitantes. O combate à fome no mundo  avançou nos últimos anos, e deixa um rastro sinistro de carência, pois a alimentação é a primeira coisa que alguém tem que fazer para a sua saúde.

A meta do governo Lula, inclusive, é terminar com esse tipo de situação. Mas terminar com a fome é algo que exige ações muito profundas porque depende de recursos num processo de redistribuição de renda para que possa ter êxito. Fica a advertência de que o caminho a ser traçado pode estar certo, mas é demorado em sua execução.

São milhões de pessoas entre as estatísticas, mas pode ser que na realidade seja um número maior. O déficit alimentar pode pesar para distorcer as estatísticas e aí está a raiz do problema.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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