Por Iata Anderson –

Diria Nelson Rodrigues que se um turista visse as escalações de Flamengo e Fluminense não teria dúvidas em apontar o rubro-negro como favoritíssimo ao título carioca, conquistando, finalmente, o primeiro tetracampeonato do outrora campeonato mais charmoso do país.

Mas futebol não é assim, no papel, é jogado e mais nada, o resto é o resto. E a diferença chama-se aplicação, esquema de jogo definido, vontade de ganhar.

Quem olha, passeando pelas ruas das Laranjeiras, jamais diria que Manuel e Lucas Claro formam uma dupla de área, quase intransponível, que nenhum clube compraria sem vê-los jogar. O Fluminense atropelou mais um, em clássico, mantendo a liderança e a esperança do torcedor em mais um título. Eu também pensaria o mesmo, vendo o que o time – mesmo misto – jogar. Na verdade, a dupla Fla & Flu tem dominado o futebol carioca nos últimos anos. Tem sido assim e será assim por muito tempo ainda, enquanto Vasco e Botafogo pensam em vender seu futebol e voltar à primeira prateleira, não é assim que dizem? O Vasco tem, na verdade, uma excelente promessa, chamado Pec, muito habilidoso, talentoso, muito chão pela frente, muita grama para percorrer se quiser gravar seu nome na riquíssima história do futebol na Colina, Juninho vem sobrando na turma e o interminável Nenê, disputando artilharia e esbanjando vitalidade aos 40 anos. Muito talento – fora as desnecessárias quedas, “à Neymar”, ainda brilha como nos velhos tempos. Mais nada. Sobrou para o Botafogo, o primo pobre da estória, esperando a bolada que ainda não entrou nos cofres, para retomar o protagonismo do futebol do Rio, onde brilhou intensamente, inclusive com a camisa da seleção, goleando a Argentina, no Maracanã, com olé e tudo. As esperanças no menino 17 anos, Matheus Nascimento, pinta de jogador, estilo Roberto Miranda – sem comparar, claro – que poderá ser muito importante para a arrancada do glorioso. Mais nada.

Tudo isso foi confirmado no fim de semana, vitória do Flu, empate vergonhoso do Fla e goleada que o Botafogo sofreu, para usar a palavra da moda na mídia “Histórica” e nova derrota do Vasco no segundo clássico pela Taça Guanabara.

Com time reserva, Fluminense supera Vasco e mantém liderança

Acho oportuno falar de treinadores europeus, no momento em que os portugueses fizeram e fazem muito sucesso por aqui, com justiça. Preciso excetuar Paulo Souza, do Flamengo, que ainda não mostrou muita coisa, mesmo considerando o pequeno período em que dirige o time, sob a sombra de Jorge Jesus, pelo jeito, inesquecível. Vamos lá. O time não tem a sua cara, nem a de JJ, muito menos a de Guardiola. Não tem cara de nada, de ninguém. Já deveria ter, pelo menos, uma base, não tem. Isso se consegue em treinos e manda a campo. Time muito mexido, difícil de definir, é uma regra. Faz-se a base e vai mudando aos poucos, pelo menos eu faria assim. A torcida do Flamengo, todos sabem, é muito impaciente e vai aos extremos da cobrança, vaiando, xingando. Lá o cara joga ou não joga, é fácil ser ídolo, mas tem que correr, suar a camisa, dar “carrinho” se for preciso. Se não, cai. João Gomes, o melhor dos dois últimos jogos, não tem mídia mas está sobrando, como o torcedor gosta. Faz tudo e um pouco mais, tem cara de ídolo, é só deixar jogar. Alguns jogando com o nome, outros nem isso. É fácil reconhecer jogador de grife e “cobra”, como gostava de falar João Saldanha, que continua fazendo muita falta, diante de tanta mediocridade nas transmissões, tipo 4-1-4-1 que inventaram e não existe, na prática. No empate contra o Resende, ficou mais claro ainda. Mesmo com quatro mudanças no intervalo, uma novidade para o nosso futebol, que aprovo totalmente, nada mudou. Empatou com gol de pênalti, bem marcado, mas fica a dúvida, enquanto tudo é definido individualmente. Trocou 6 por meia dúzia, nada mais que isso, ainda falta um time.

Gabigol, um conselho, não faz mais gestos para a torcida, fica frio e joga, você ganha muito bem para isso e não está jogando nada.

Flamengo leva susto contra Resende e escapa da derrota nos acréscimos. Rubro-Negro perde muitos gols e fica distante do líder Fluminense

Tudo é modismo, basta prestar atenção. Inventaram, sei lá quem, que jogador destro tem que jogar pela esquerda e canhoto pela direita. O que fariam com Garrincha, Julinho, Gento, Pepe e tantos outros ? O fraco e previsível Carlo Ancelotti, de tantos títulos, usa Asensio pela direita, buscando um deslocamento para o centro onde tenta o chute a gol. Um bom treinamento defensivo do adversário e ele não faz nada, como sábado, contra o débil Rayo Vallecano, magríssimo 1×0, jogada de Vinicius Jr para Benzema marcar com o gol escancarado, ele pela direita. Impávido, nosso treinador com as mãos nos bolsos – fazia muito frio – mascando seu indefectível chicletes, nada faz para mudar o jeito do time jogar a não ser as tradicionais mexidas, tira Asensio, põe Rodrygo, saca Modric, disparado o melhor do time, põe Ceballos, isso lá pelos 40 minutos do segundo.

Ele, o responsável pelo maior crime cometido contra a arte, barrar Marcelo por Mendy.

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.


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