Redação –
A intenção aqui jamais seria me nivelar a Nelson Rodrigues, mas se o Fla-Flu surgiu 40 minutos antes do nada, a disputa ferrenha entre Flamengo e Franca, no basquete, demorou para chegar. Franca, conhecida como a cidade apaixonada por basquete, já tem uma equipe há mais de 60 anos. No Flamengo, o esporte é prática no clube de regatas há mais de cem. Os dois são os maiores vencedores do basquete nacional, acumulando títulos seja qual for a era e o nome da competição. Mas nunca calhavam de se colocar como forças expressivas ao mesmo tempo. De dois anos para cá, isso finalmente aconteceu. A decisão do Super 8 neste sábado, às 12h50 de Brasília, é a terceira seguida entre as equipes. Uma rivalidade que ainda engatinha, muito por um capricho da História.
Franca conta 11 títulos brasileiros, concentrados nas décadas de 70, 80 e 90, quando o Flamengo ainda não se mostrava tamanha potência. Já as sete conquistas rubro-negras vieram todas de 2008 para cá, época que coincidiu com um breve declínio da equipe paulista, até a recente retomada nos últimos anos. O que vemos agora são duas instituições destinadas a serem grandes rivais. Só é possível prestar atenção de verdade a esses antagonismos quando eles importam de fato. Dominar o basquete nacional o suficiente para monopolizar as decisões de títulos é uma das formas de fazer as pessoas se importarem.
“Acho que é a maior rivalidade hoje no basquete brasileiro. São os dois times de maior plantel e que vêm jogando o basquete mais bonito”, acredita o ala Marquinhos, do Flamengo.
É bem verdade que ainda não aconteceu aquele “click” que torna o duelo um símbolo de uma geração do esporte. Primeiro porque, a rigor, é apenas o segundo ano em que Franca e Flamengo vão caminhando à frente dos outros, decidindo – e ganhando – os títulos. Segundo porque ainda não é possível perceber nenhum tipo de animosidade ou de vontade extra de bater o rival. Não no discurso.
“O Super 8 é um título importante que a gente deseja ganhar. Independente de ser em cima do Flamengo, a gente joga para ganhar”, reitera o pivô Rafael Hettsheimeir, do Franca.
“Eu entro em quadra e quem esteja na frente eu quero vencer. Sendo Franca ou outro time. Essa rivalidade é mais para torcedor. Nós tratamos todos os times da mesma maneira”, diz o armador Franco Balbi, do Flamengo.
Adicionar ingredientes para esquentar a rivalidade foi exatamente o que os torcedores de Franca fizeram na decisão do último NBB, quando vaiaram intensamente o pivô Anderson Varejão, que foi chamado de mercenário por ter escolhido retornar ao Brasil para defender o Flamengo e não Franca, onde ele iniciou a carreira. Os fãs das duas equipes se acostumaram a criar ambientes hostis aos visitantes, seja pela veia futebolística da torcida rubro-negra ou pela ligação profunda com o basquete da cidade de Franca. No entanto, nas decisões já disputadas, o fator casa não foi preponderante. O Flamengo venceu o Super 8 e o jogo 5 das finais do NBB atuando fora de casa. Desta vez, a situação se inverte. É o Flamengo que defende o título no Rio.
“No ano passado a gente bateu na trave com eles duas vezes. Eles vieram aqui na nossa casa e ganharam da gente duas vezes. Mas esse ano vai ser diferente”, opina Lucas Dias, do time paulista.
Na realidade, se o Fla-Fra (confesso, a sonoridade não é a melhor, mas vale a referência) é agora digno de menção como rivalidade, não é casualidade. Ambos apresentam projetos sérios e, não à toa, disputam os principais nomes do basquete quando eles aparecem disponíveis. Entre idas e vindas da NBA, Leandrinho defendeu as duas equipes. Antes de renovar com o Flamengo, Marquinhos foi procurado por Franca. Lucas Dias acertou com o time paulista sendo objeto de cobiça do rubro-negro. A própria situação de Varejão, que vinha de uma carreira vitoriosa nos Estados Unidos, é um exemplo disso. (O pivô, aliás, segue sem clube…será que o pessoal em Franca mudou de opinião?). Além disso, apostaram também em formar times de dentro para fora. Didi, principal joia brasileira no momento, saiu do Espírito Santo para ser lapidado em Franca antes de voar para o draft da NBA.
“Tanto Flamengo quanto Franca têm grandes estruturas. Não são simplesmente equipes que montam o time e acabou. As duas se preocupam com as categorias de base, se preocupam em envolver a comunidade, os torcedores. Têm boas estruturas físicas e de basquete”, diz Gustavo de Conti, o Gustavinho, comandante do Flamengo.
Pensar no sucesso de forma sustentável é meio caminho para que esse clássico justifique cada vez mais a alcunha e dure muitos anos mais. Helinho, técnico de Franca, já viu vários outros surgirem e depois retraírem.
“O basquete é feito de ciclos. Já teve o de Franca, Sírio e Monte Líbano. Franca e Vasco. Vasco e Flamengo. Vasco e Ribeirão Preto. São sempre grandes clássicos, que geram interesse da mídia, dos torcedores e fazem a motivação aumentar. Isso é muito legal”, diz.
“A rivalidade vai se acirrando cada vez que a gente decide um campeonato. Já são várias decisões em sequência. Espero que continue como tem sido. De uma forma saudável. É competição dentro de quadra e acabou”, acrescenta Gustavinho.
Assim, a possível Era do Fla-Fra, que ainda não se concretizou mas já se desenha, poderá ser lembrada com saudades no futuro.
Fonte: Agência Brasil, por Igor Santos – repórter do programa da TV Brasil Stadium.
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