Por Miranda Sá

“Gravamos tudo! A forma como eles festejam é totalmente diferente dos nossos costumes” (Ana Paula Padrão)

Enquanto milhões morrem por causa da pandemia do novo coronavírus, milhares de imigrantes africanos sucumbem tentando atravessar o Mediterrâneo, refugiados ucranianos abandonam os seus lares e soldados russos caem nos campos de batalha, os poderosos fazem festas ao redor do mundo.

Na Inglaterra, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, participou de uma festa surpresa em comemoração ao seu aniversário, desobedecendo o confinamento pela pandemia imposto pelo seu próprio governo. Foi pressionado pela Câmara dos Comuns a se demitir do cargo, mas a coisa não foi adiante.

Reunindo no centro de Pyongyang cerca de um milhão de pessoas entre soldados e civis o chefe de governo da Coreia do Norte, Kim Jong-Um, festejou um ano no poder e este aniversário foi exaltado com o lançamento de um foguete de longo alcance lançado com sucesso.

O Brasil não poderia ficar à margem do desprezo pelas vidas humanas pelo eventual ocupante da presidência da República, Jair Bolsonaro, defensor de regimes ditatoriais e de torturas em presos políticos, determinou aos subordinados que festejassem o golpe de 64 que derrubou o presidente João Goulart legitimamente eleito e empossado.

Na celebração, o capitão reformado do Exército por indisciplina, que agora se insubordina contra a Democracia, atacou o Poder Judiciário e o sistema eleitoral.

Presidente da República, Jair Bolsonaro durante revista às tropas. (Crédito: Marcos Corrêa/PR)

Tenta, mais uma vez, impor a anti-História do livro de Orwell, “1984” varrendo para debaixo do tapete que o Congresso foi fechado, juízes, parlamentares e professores foram cassados, a imprensa foi censurada e as manifestações políticas foram proibidas.

Enaltecendo o regime totalitário, omitiu no seu discurso que muitos brasileiros foram presos, seviciados e fugiram para o exílio com temor da violência. Na sua louca obsessão por ditadores, quer fazer os brasileiros esquecerem que tivemos as eleições diretas canceladas e que as minorias, homossexuais, povos indígenas e quilombolas foram vítimas de massacre.

Estas “Baladas AntiPovo” teve imitadores secundários. O governador bolsonarista do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, bombou com uma festa de aniversário no Jockey Club Brasileiro com duas mil pessoas, evento farto pago com o dinheiro público, onde foram servidos camarões empanados e dezenas de garrafas de uísque Dewars, vodca Greygoose, gin Bombay e cervejas Heineken.

O Estado do Rio de Janeiro viveu uma noite luxuosa e deslumbrante para as autoridades estaduais, familiares, cabos eleitorais, puxa-sacos e guarda-costas, a música ruidosa na festa bolsonarista impediu falarem das mortes provocadas pelo negativismo na pandemia e nas chuvas na região serrana do Estado pelo descaso da administração estadual.

No dia seguinte, enquanto os jornais trouxeram manchetes e crônicas sociais reportando o acontecimento, num canto de página noticiaram que um idoso dependente de um remédio que deveria ser fornecido pelo poder público do Rio de Janeiro, morreu à espera do remédio. Muitos outros dependentes da Riofarmes sofrem a falta dos medicamentos…

Esta hediondez necrófila dos poderosos e seus asseclas, alcança deste jeito muitos óbitos provocados pelo negativismo e corrupção…. Mas as festas promovidas pela insanidade continuam nas campanhas eleitorais.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br


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