Por Miranda Sá

“A heresia e a ortodoxia não derivam de um exagero fanático dos mecanismos doutrinários, elas lhes pertencem fundamentalmente. ” (Michel Foucault)

Quando alisava os bancos escolares da Faculdade Nacional de Direito entusiasmei-me pela Teoria Geral do Estado, matéria que ao que me parece saiu do currículo dos cursos atuais. A nível do ensino superior um programa conexo é estudado como “Ciência Política”. Por causa de uma publicação recente, lembrei-me de uma lição dada pelo professor Hermes Lima: -“As ações dos ocupantes do poder, seus erros, favores e vacilações, se refletem como padrão por toda administração pública”.

A notícia cobriu a decisão da juíza Christiane Bimbatti, da Justiça do Trabalho, vetando a transferência dos funcionários da Usina de Itaipu de Curitiba para Foz do Iguaçu, onde a empresa está sediada.

A Meritíssima alega que “a empresa não conseguiu justificar o motivo das transferências”. Acho que a justificativa é óbvia: a sede da Itaipu é em Foz e não em Curitiba…. Voltando de memória à aula de Hermes Lima, vejo que a Juíza comete o mesmo equívoco que vem de cima, do STF: decide como executivo imaginando-se como legislativo…

Uma coisa não aparece na grande imprensa e é ignorada por muitos que se propõem a criticar e denunciar os malfeitos seculares da administração federal e, por conseguinte, nos estados, municípios e empresas estatais: As incríveis mordomias gozadas no Brasil pelos afilhados dos poderes republicanos.

Parentes e cabos eleitorais de parlamentares, juízes togados e ministros de Estado ganham cargos sem função com altos salários. E muitas vezes intocáveis…. Foi isto que o general Joaquim Silva e Luna, diretor brasileiro da Itaipu Binacional, quis fazer, pondo centenas deles para perto de si, produzindo alguma coisa para justificar o emprego.

Para o Diretor, o escritório de Itaipu na capital paranaense só precisará ter cinco ou seis funcionários. A grita é esta. Cumprir as obrigações empregatícias dará um fim aos convescotes, esvaziará clubismo e silenciará as colunas sociais da imprensa local.

Não custa lembrar, também, os proveitos adicionais que ocorrem por lá: hotéis cinco estrelas, voos em classe executiva, férias esticadas e palestras remuneradas, vantagens publicadas na revista Crusoé, numa matéria que estimulou investigações.

Então, eis que chega coisa pior e mais suspeita, baixada de cima para baixo do modelo de todos equívocos, benesses e vacilações, o STF, que desde agosto do ano passado, impede o Tribunal de Contas da União de fiscalizar a Itaipu. Uma pergunta besta: ‘Porque será? ’

São os exageros cozinhados nos caldeirões da infâmia. Exagero, como todos sabemos é um substantivo masculino, significando aquilo que ultrapassa o necessário, demasiado, desmedido, excessivo, e figuradamente, abuso. Flexionou um verbo, ‘Exagerar’.

O exagero é uma das máscaras do fanatismo, que se multiplicam no carnaval da politicagem; e os fanáticos se multiplicam, à direita e à esquerda como cogumelos após chuvas. Inflacionam as estacadas que impedem o fim da corrupção e a punição dos corruptos. Quem exagera perde o objetivo.

Felizmente, a juíza Gabriela Hardt, que condenou o ex-presidente corrupto Lula da Silva, e o TRF-4 que confirmou a sentença, acarinham a esperança em nossas cabeças. Deixam-nos acreditar e confiar que há no Brasil magistrados livres das algemas prateadas da politicagem.

Li certa vez um texto psicanalítico (acho que Reich) que as exagerações são quase sempre estados infantis da inteligência, e bastará atentar nas crianças para nos convencermos disso.

Essa ingenuidade sadia e positiva encontramos em Cora Coralina, mostrando que somente a necessidade nunca exagera: – “A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar. Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada, o anzol, a chumbada, a isca! ”. É desse generoso excesso que o Brasil precisa.