Por Wilson de Carvalho

Péssimos políticos, à parte, tirar o nome do jornalista e escritor Mário Filho do estádio do Maracanã, foi apenas mais um absurdo dessa classe que só destrói o país. Principalmente se considerarmos o momento de pandemia com recorde de mortes que exige prioridade absoluta nas decisões governamentais.

Cristo Redentor e Estádio Mario Filho (Maracanã), símbolos do Brasil

Com certeza, essa turma da ALERJ demonstrou também não saber nada de Mário Rodrigues Filho, referência para a própria história do esporte, não apenas o futebol brasileiro. Fundador do Jornal dos Sports, durante décadas o maior diário esportivo da América do Sul e melhor escola de jornalismo, Mário Filho promovia todos os esportes no Estado do Rio. E com ampla cobertura do JS. Só não cobria e promovia cuspe em distância porque não existia. Incentivava todo o futebol amador com destaque para os Campeonatos Classista e do Departamento Autônomo, torneios no Aterro do Flamengo, campeonatos de futebol em todas as praias, com destaque também para o voleibol e basquete.

Sem exagero, promovia uma verdadeira Olimpíada, os Jogos da Primavera, reunindo atletas de clubes, escolas e universidades. E para as crianças, outra verdadeira Olimpíada, os Jogos Infantis, também de fama internacional.

Mário Filho (direita) ao lado do irmão Nelson Rodrigues: ícones do jornalismo brasileiro (Reprodução)

As duas se encerrando com uma festa que parava o Rio, no estádio do Vasco, em São Januário, pequeno para a importância do evento. Com a necessidade de um estádio maior para a festa de encerramento das suas próprias “Olimpíadas”, o seu desejo aumentou a partir da indicação do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 50. Por quase quatro anos, o jornalista e escritor de best-sellers, entre eles, O Negro no Futebol e Histórias do Flamengo, intensificou uma campanha fortalecida pelo “poderoso” Jornal dos Sports e o seu extraordinário apoio ao esporte. Base para o futuro de qualquer país, tirando jovens do vício.

Mário Filho ao lado de Pelé (Reprodução)

Mas não foi fácil para Mário Filho convencer políticos contrários e outros favoráveis apenas à ampliação do estádio do Vasco. No máximo, admitiam um novo estádio para a Copa, mas de porte médio. “Só há uma solução, um estádio nacional monumental”, dizia Mário Filho. E surgiu o Maracanã, um gigante que assustava, mas hoje, infelizmente, de novo por ação de políticos, desta vez para roubar, foi desfigurado. Sem nada a ver com o ex-templo do futebol. E agora, na contramão da pandemia, com recorde de mortes também por falta de assistência, perdem tempo para aprovar a troca de nome. Quanto a Edson Arantes do Nascimento, Pelé, já é reconhecido mundialmente como o rei do futebol. Não precisa mais de homenagens, ainda mais em substituição a brasileiros importantes como Mário Rodrigues Filho.

E fica a pergunta: será que o governador sancionará o absurdo de iniciativa do próprio presidente da ALERJ?


WILSON DE CARVALHO – Jornalista e escritor, colunista do Jornal Tribuna da Imprensa Livre, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Três livros publicados, cobertura de cinco Copas do Mundo, campeão de prêmios de reportagens esportivas no Estado do Rio, nos anos 80 e 90. Entre os grandes jornais, só não trabalhou em O Globo. Um dos principais ícones da crônica esportiva e do Jornal dos Sports e O Dia, veículos onde ganhou a maioria dos prêmios, entre eles, duas Bolas de Ouro, e em inúmeras séries de reportagem, tais como “Máfia da Loteria”;  “Roubo da Jules Rimet”; “No futebol não tem mais ninguém bobo” e “Pelé não teme o dia em que deixar de reinar e voltar a ser Edson”.