Redação

Venta. Quem disse que nunca faz frio no Rio de Janeiro? Incrível como se escreve e se canta sobre esta cidade, mas poucos-tão poucos a conhecem por dentro. O Rio sem mar dos subúrbios afastados, das enchentes, da truculência, das normas sempre burladas, da desorganização e do atraso crônicos, do improviso. De algum modo esta panela de pressão parece sempre pronta a explodir, e eu vivo assim, tenso, esperando, esperando. Depois, nasce o dia, e nada. Tudo de novo. O trem não circula por causa do tiroteio. Um aluno nunca mais aparece. Água da chuva na altura dos joelhos. Carros fuzilados, ônibus incendiados. Mas ninguém sai daqui. Como pode? Eu quero sair? Não saio. Se cada um tem seu espelho no mundo, é este o meu. A gente se equilibra e vai levando. Um dia o jogo vira, eu tenho certeza. Esta é a aposta da minha vida. Devaneio, provavelmente. Não meu: é a realidade que devaneia com frequência no Rio de Janeiro.

A juventude pulsante de um adolescente de 15 anos. As brigas, as amizades, os amores e os ódios de uma época em que tudo é movimento. As dúvidas de um professor de uma escola de periferia, o impasse permanente entre o sonho de uma vida nova e a vida dura real de todos os dias. Sonhos desfeitos, o subúrbio que não é mais como antes, o passado que insiste em se fazer notar a cada momento. Um romance sobre existências comuns atravessadas pelos grandes dilemas do Brasil às vésperas das manifestações de junho de 2013. Este é o pano de fundo de “Esta indescritível liberdade”, novo livro de Igor Mendes (Faria e Silva edições), muito em breve disponível ao público.

“Desta forma”, diz o filósofo Vladimir Safatle, no Prefácio, “o livro se impõe como um documento raro a respeito da experiência da recusa e da revolta. Ele não é mais uma descrição das camadas de violência que envolvem a sociedade brasileira e sua lógica de naturalização da morte daquelas e daqueles submetidos a espoliação contínua. Na verdade, ele é uma cartografia das revoltas de um povo que, mesmo massacrado, recusa-se a baixar a cabeça, desde sua mais tenra idade”.

Por que lançar o livro agora? Teria esta leitura alguma relevância neste mundo pandêmico em que vivemos? Para Igor:

Creio que, de certa forma, todos estamos hoje à procura de uma resposta para este problema chamado liberdade. Muitos descobrem que os pequenos luxos acumulados nas suas casas, que pareciam antes tão importantes, e acolhedores, não passam de futilidades caras. Quanto vale uma boa noite passada sob o céu estrelado? Ou os dias de luta, em que sentimos estar mais próximos dos nossos sonhos? Suspeito que as reviravoltas que nos esperam nos próximos anos dependem, em grande medida, menos das angústias existenciais das pessoas remediadas que das cruas necessidades desta gente cronicamente invisível e abandonada. Excluída do mundo das letras, ela é a fonte viva da arte que perdura. Todo o resto passa.

Mais informações sobre lançamento em breve e nas redes sociais:

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