Redação –
Ele ganhou duas estatuetas no Oscar e outros prêmios por músicas de filmes como ‘Três Homens em Conflito’, ‘Os Intocáveis’, ‘Cinema Paradiso’, ‘Ata-me!’ e ‘Os Oito Odiados’.
Ennio Morricone, maestro e compositor de trilhas sonoras que marcaram a história do cinema, morreu aos 91 anos, nesta segunda-feira (6), na Itália.
Ele estava internado há 10 dias em uma clínica em Roma após sofrer uma queda e fraturar o fêmur. Um comunicado divulgado por Giorgio Assuma, advogado e amigo do artista, informa que o maestro italiano morreu “nas primeiras horas de 6 de julho no conforto de sua família”.
De acordo com a nota, Morricone “permaneceu lúcido e com grande dignidade até o fim” e “se despediu de sua amada esposa Maria”.
Ainda segundo Assuma, Ennio escreveu o próprio obituário. No texto, Morricone se despese de sua esposa, Maria Travia, — a quem cita a “despedida mais dolorosa” — de seus filhos, netos, amigos e do diretor de cinema Giuseppe Tornatore.
“Ennio Morricone está morto. Anuncio a todos os amigos que sempre estiveram próximos de mim e também aos que estão um pouco distantes e os saúdo com muito carinho”, escreveu o maestro.
O funeral será organizado de forma privada para respeitar “o sentimento de humildade que sempre inspirou os demais”, disse Assuma.
Morricone deixa a esposa, Maria, e quatro filhos, Andrea, Giovanni, Marco e Alessandra.
Centenas de trilhas, dezenas de prêmios
Morricone nasceu em 10 de novembro de 1928, em Roma, e começou a compor aos seis anos. Em 1961, aos 33 anos, estreou no cinema com a música de “O Fascista”, de Luciano Salce.
Ele escreveu para filmes, programas de televisão, canções populares e orquestras, mas foi sua amizade com o diretor italiano Sergio Leone que lhe trouxe fama. Ele se dedicou muito às canções para o gênero “spaghetti westerns” que consagraram Clint Eastwood na década de 1960.
Entre as mais de 500 trilhas sonoras para cinema e televisão em seu currículo, há composições para filmes como “Três Homens em Conflito”, “A Missão”, “Era uma Vez na América”, “Os intocáveis”, “Cinema Paradiso”, entre outros.
“A música de ‘A Missão’ nasceu de uma obrigação. Tinha que escrever um solo oboé, se passava na América do Sul no século XVI, e tinha a obrigação de respeitar o tipo de música do período. Ao mesmo tempo, eu tinha que compor uma música que também representasse os índios da região. Todas as obrigações me prendiam. Mas também fizeram com que saísse algo claro”, recordou o compositor à agência France Presse em 2017.
De acordo com ele, a música dos filmes italianos era medíocre e sentimental. Ele desejava renová-la com um estilo mais próximo de Hollywood.
Ao longo da carreira, Ennio ganhou dois prêmios no Oscar e dezenas de outros prêmios, incluindo Globos de Ouro, Grammys e BAFTAs.
Em 2007, recebeu um Oscar honorário por sua carreira musical. Na ocasião, dedicou o prêmio à esposa Maria Travia, com quem era casado desde 1956 e considerava sua melhor crítica. “Ela não tem treinamento formal em música, mas julga meu trabalho como o público o faria. Ela é muito rígida.”
Seu outro Oscar foi em 2016, com a trilha sonora de “Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino. Inicialmente, Ennio recusou o trabalho, mas depois cedeu, exigindo que Tarantino lhe permitisse uma “ruptura total com o estilo dos filmes ocidentais”.
Além de Leone e Tarantino, Ennio também trabalhou com nomes como Roman Polanski, Terrence Malick e os italianos Giuseppe Tornatore e Bernardo Bertolucci.
No início de junho, Morricone foi anunciado o vencedor, ao lado do também compositor John Williams, do prêmio Princesa das Astúrias das Artes na Espanha. A entrega do prêmio aconteceria em uma cerimônia, em outubro.
Famosos e autoridades lamentam
Nas redes sociais, famosos e autoridades lamentaram a morte de Ennio Morricone. “Sempre nos recordaremos, e com um reconhecimento infinito do gênio artístico, do maestro Ennio Morricone. Nos fez sonhar, nos emocionou e fez pensar, escrevendo notas inesquecíveis que ficarão para sempre na história da música e do cinema”, escreveu o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.
A morte de Morricone “nos priva de um artista distinto e genial”, lamentou o presidente italiano Sergio Mattarella.
O ator Antônio Banderas também lamentou a morte: “É com grande tristeza que nos despedimos do grande mestre do cinema. Sua música continuará tocando em nossas memórias. Descanse em paz.”
As principais trilhas
- 1964: “Por um Punhado de Dólares” de Sergio Leone
- 1965: “Por uns Dólares a Mais” de Sergio Leone
- 1966: “Três Homens em Conflito” de Sergio Leone
- 1966: “A Batalha de Argel” de Gillo Pontecorvo
- 1968: “Teorema” de Pier Paolo Pasolini
- 1968: “Era uma Vez no Oeste” de Sergio Leone
- 1969: “Os Sicilianos” de Henri Verneuil
- 1970: “O Pássaro das Plumas de Cristal” de Dario Argento
- 1971: “Quando Explode a Vingança” de Sergio Leone
- 1971: “Decameron” de Pier Paolo Pasolini
- 1971: “A Classe Operária vai para o Paraíso” de Elio Petri
- 1971: “Sacco e Vanzetti” de Guiliano Montaldo
- 1974: “Medo sobre a Cidade” de Henri Verneuil
- 1975: “Saló ou os 120 Dias de Sodoma” de Pier Paolo Pasolini
- 1976: “1900” de Bernardo Bertolucci
- 1978: “Cinzas no Paraíso” de Terrence Malick
- 1978: “A Gaiola das Loucas” de Edouard Molinaro
- 1981: “O Profissional” de Georges Lautner
- 1984: “Era uma Vez na América” de Sergio Leone
- 1986: “A Missão” de Roland Joffé
- 1987: “Os Intocáveis” de Brian de Palma
- 1987: “Busca Fenética” de Roman Polanski
- 1989: “Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore
- 1989: “Ata-me!” de Pedro Almodóvar
- 1989: “Pecados de Guerra” de Brian de Palma
- 1991: “Bugsy” de Barry Levinson
- 1992: “A Cidade da Esperança” de Roland Joffé
- 1998: “A Lenda do Pianista do Mar” de Giuseppe Tornatore
- 2000: “Vatel, um Banquete para o Rei” de Roland Joffé
- 2000: “Missão: Marte” de Brian de Palma
- 2015: “Os Oito Odiados” de Quentin Tarantino
Fonte: G1
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