Por Miranda Sá –
“Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são” (Shakespeare)
Quem gosta de Teatro se obriga a conhecer o dramaturgo grego, Sófocles, autor de várias peças do gênero tragédia, entre as quais Édipo Rei, que é encenada de vez em quando para gáudio dos amantes da arte.
Relata o dramaturgo a cena trágica da saga de um herói que mata o próprio pai e desposa, sem o saber, a própria mãe, situação que levou ao consultório médico o “Complexo de Édipo”, cria de Sigmund Freud, o Pai da Psicanálise.
Freud desenvolveu a teoria de uma atração das crianças pelos pais de sexo oposto, ressaltando o desejo incestuoso pela mãe no caso do filho na fase fálica do desenvolvimento mental.
A peça de Sófocles mostra também a ansiedade humana pela marcha do destino de cada um conforme seu comportamento ético e moral na vida social. Se desenvolve com a disposição de Édipo de enfrentar a Esfinge que ameaçava Tebas. Uma aventura que exalta o racionalismo – a base do pensamento filosófico ocidental.
A Esfinge impedia a passagem dos que entravam ou saiam de Tebas; desafiando-os a adivinhar uma charada que consistia em responder: – “Que criatura pela manhã tem quatro pés, a tarde tem dois, e à noite tem três?”
Édipo foi ajudado pela deusa do destino, Moira, a responder o enigma, e teve uma pronta resposta: – “É o homem; quando criança engatinha com braços e pernas; quando adulto caminha ereto com duas pernas; e, na velhice, apoia-se numa bengala”.
Desmoralizado e envergonhado, o Monstro se atirou do alto de um rochedo, salvando a cidade-estado do seu boicote e constantes ameaças.
A representação da adivinhação nos leva a observar – sem ajuda de nenhum deus mitológico -, que os mistérios ocorrem sempre. Lembro uma historinha que a minha mãe contava sobre Terezinha do Menino Jesus: – “A santa Terezinha diante de uma noviça que vivia chorando, sugeriu que guardasse as lágrimas num copo, e com o conselho fez com que a chorona perdesse a vontade de chorar preocupada com o copo”.
Respostas para os enigmas se resolvem desta maneira simples. Basta discernir com a experiência de vida como fazíamos naquele jogo infantil das adivinhas do nosso folclore, “o que é, que é”?
Difícil de resolver é o desafio da charada política, principalmente nas vésperas de uma eleição presidencial. Como interpretar o pensamento de um ocupante do poder que diz – “no meu governo não roubo nem deixo roubar”, mas apoia os vigaristas que vinham achacando prefeitos para liberar verbas públicas?
O escândalo foi escancarado e o capitão Bolsonaro se fingiu de doido não tomando conhecimento de que o seu ex-ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro (considerado um “santo” pela primeira-dama) confirmou o lobby dos pastores corruptos em depoimento à Polícia Federal.
Relatou também o pastor Ribeiro que a entrada dos lobistas no Ministério foi facilitada a pedido de Bolsonaro. Assim, só não vê quem não quer ou omite o fato por fanatismo o arranjo para a extorsão de propinas pelos pastores bolsonaristas tornando-se cúmplice da corrupção.
Curioso é que o Capitão mitômano, em campanha reeleitoral, assume nos discursos ser o líder na guerra do Bem contra o Mal. Pura declaração marqueteira que o faz aparecer o que na realidade não é; pelo contrário, não está do lado do Bem um praticante de Rachadinhas, patrono de funcionários fantasmas, calado no caso dos cheques de Queiroz….
Teatro por teatro, Shakespeare no “Romeu e Julieta” esculpiu a frase “Há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar”; esses enigmas nos divertem vendo pessoas de nível escolar superior dar crédito à honestidade do “Tchutchuca do Centrão”…
Sem argumento contra, o ministro Fábio Faria afirmou em comício no Rio Grande do Norte que é melhor “ser “tchutchuca do Centrão” do que ser chamado “luladrão”; levando-nos a raciocinar sobre o outro lado da moeda populista.
De fato, o ex-condenado Lula da Silva que teve o processo contra si revisto, e ficou livre para candidatar-se; mas não inocentado. Merece a alcunha de “Luladrão”, tendo em vista as investigações que sofreu na Operação Lava Jato e condenado em três (TRÊS!) Instâncias judiciais.
Para mim, não há enigmas na polarização eleitoral dos dois populistas. Só não a decifra quem não quer, ou é ruim da cabeça!
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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