Redação

Dados da primeira rodada das pesquisas Ibope nas eleições para as prefeituras das 26 capitais indicam que o número de indecisos, aqueles que declaram que não sabem em quem vão votar, chega a representar mais da metade dos eleitores em algumas cidades, indicativo de que a disputa deve ficar acirrada nas últimas semanas de campanha.

O índice varia entre 23%, em Rio Branco, e 54%, em Porto Alegre. Em ambos os casos, as taxas foram alcançadas quando a lista de candidatos não é apresentada, modelo chamado de pesquisa espontânea. Quando as alternativas são expostas aos entrevistados — levantamento estimulado —, a marca de 11% não é ultrapassada.

MEMÓRIA – Especialistas consideram que a diferença entre o percentual de “não sabe” entre as duas perguntas mostra que o eleitor usa mais a memória do que o raciocínio, o que sugere um potencial de mudança de opção de voto, ainda distante de estar consolidado.

Outro desafio para os candidatos a prefeito nas capitais é o alto número de eleitores que afirmam que votarão em branco ou nulo. Esse percentual chega a 27% no Rio e supera a marca de 20% também em Aracaju, Recife e Natal, cidades onde a disputa eleitoral ainda segue embolada.

AVALIAÇÃO SOBRE A GESTÃO – Cientista política e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fernanda Cavassana avalia que, em cidades em que o prefeito tenta a reeleição, o índice também pode indicar que a avaliação sobre a gestão não é tão consolidada entre o eleitorado.

“Cidades com elevados índices de indecisos indicam a importância de os candidatos menos conhecidos investirem em chegar neste eleitorado e se mostrarem viáveis. O eleitor que se identifica como indeciso em sondagens não estimuladas é aquele que ainda não tem um candidato favorito e, usualmente, que não conhece mesmo quem está em campanha. Por isso, na pesquisa estimulada, há diminuição no número de indecisos, porque são colocadas a ele as opções. Nelas, também há chances maiores de esse eleitor indicar um dos primeiros citados pela pesquisa”, diz Fernanda.

No caso de Porto Alegre, que lidera a taxa de indecisão, o prefeito Nelson Marchezan (PSDB) é candidato à reeleição. Mas, em meio a uma turbulência política que levou à apresentação de um pedido de impeachment, ele é rejeitado por 37% do eleitorado — quando o entrevistado, ao se deparar com a lista, aponta os candidatos em quem não votaria de jeito nenhum.

PERFIL –  Em todo o país, há diferenças sobre o perfil do eleitor que ainda não definiu em quem votar. Em São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Goiânia, o percentual de mulheres indecisas supera significativamente o de homens, segundo os recortes das pesquisas Ibope analisados pelo O Globo.

Na capital mineira, 46% das eleitoras estão nessa situação — a diferença em relação aos homens chega a 11 pontos percentuais. Na capital de Goiás, 53% das mulheres informaram não saber em quem votar, contra 37% dos homens.

No Rio, em São Paulo e Porto Alegre, a indecisão também é maior entre eleitores com menor escolaridade e renda. Na capital paulista, 50% dos eleitores com renda de até um salário mínimo não definiram o voto. Quando considerado o grupo com maior renda (mais de cinco salários mínimos), essa proporção cai para 28%. Já entre os que têm ensino fundamental, 47% estão indecisos, contra 35% na faixa com ensino superior.

MAIS JOVENS – Na capital gaúcha, entre aqueles com renda doméstica de até um salário mínimo, 64% estão indecisos, dez pontos percentuais a mais que a média da cidade (54%). No Rio, assim como em Belo Horizonte, Porto Alegre e Goiânia, os mais jovens são outro extrato do eleitorado com alta proporção de eleitores que ainda não definiram o voto.

Na capital fluminense, 43% dos entrevistados com idade entre 16 e 24 anos não escolheram um candidato. Esse percentual é de 37% na cidade mineira. Nas demais faixas etárias, os percentuais ficam próximos à média das capitais. Em Porto Alegre, além dos mais jovens, os mais idosos também estão entre os que mais não sabem, na ponta da língua, em quem votar.

Nas maiores cidades da Região Norte e Nordeste, os evangélicos se destacam entre os indecisos. Em Belém, 53% dos eleitores desse estrato não sabem em quem votar. Em Manaus, são 43%. Nas duas cidades, a indecisão também é maior entre quem completou apenas o ensino fundamental. Já em Salvador, 41% dos evangélicos não sabem em quem votar, enquanto entre os católicos esse percentual é de 35%.

CAMPANHA NA TV – Na avaliação de Victor Scalet, analista político da XP, a tendência é que o índice caia nas próximas semanas com a intensificação da campanha de televisão, deixando mais consolidada as intenções de voto.

“O número de indecisos tem caído muito rapidamente, já identificamos isso em pesquisas que fizemos. O horário eleitoral começou recentemente, então há espaço para efeitos nas próximas semanas”, ressalta.

Tradicionalmente, o interesse do eleitor vai aumentando à medida que se aproxima o pleito. Por isso, a expectativa é que diferença entre a espontânea e a estimulada diminua. Segundo pesquisa da XP, 41% dos entrevistados em São Paulo disseram que ainda não assistiram à nenhuma propaganda política na TV, seja o bloco no meio do dia e no fim de noite ou às inserções. Além disso, dados do Google indicam um aumento gradual na busca por assuntos relacionados à eleição.


Fonte: O Globo