Por Luiz Carlos Prestes Filho

Para Elson Pereira, pré-candidato a prefeito de Florianópolis: “As eleições são fundamentais, mas a democracia não pode se basear apenas em voto de dois em dois anos, é preciso ampliar os canais de participação da população. Não há dúvida que a única saída é a democracia, é inacreditável que ainda tenha gente, principalmente dentro dos poderes, que defenda o fim das instituições democráticas, a volta de um passado terrível e tão recente na nossa história.” Em entrevista exclusiva para o jornal Tribuna da Imprensa Livre, o professor defende que:

“Florianópolis é um polo de atração muito forte. É fundamental que o poder público promova, com os produtores culturais locais, uma programação que fomente a economia criativa da cidade e que mude a lógica do turismo, não pode ser apenas praia quando der sol e shopping quando chover”

Elson Pereira é pré-candidato a prefeito de Florianópolis

Luiz Carlos Prestes Filho: Como o Senhor vê a importância da cidade de Florianópolis para o desenvolvimento do Estado de Santa Catarina?

Elson Pereira: Florianópolis é ponto de atração de pessoas vindas do interior de Santa Catarina, de outros estados e do exterior. Além da estrutura pública, é um polo tecnológico e de inovação. A Capital ainda centraliza as baldeações do transporte público das cidades vizinhas. Com essas, entre outras responsabilidades, é fundamental que Florianópolis tenha estrutura pública para todas essas demandas, desde moradias estudantis e populares, transporte público acessível e presente, opções baratas de alimentação. As universidades, sobretudo a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), desempenham um trabalho vital para milhares de famílias de catarinenses que depositam a esperança do futuro de seus filhos, além de todo Estado ser beneficiado pela produção científica realizada pelos centros de ensino.

Prestes Filho: As políticas de Meio Ambiente hoje orientam as políticas de Turismo, Cultura e Desenvolvimento Econômico?

Elson Pereira: Não existe desenvolvimento sem respeito ambiental. A realidade brasileira nos prova isso, seja com o dejeto da mineração estourando barragens, matando rios, fauna e flora, destruindo lares, economias e famílias; seja com os incêndios no pantanal e na Amazônia. Florianópolis possui mais de 50% de sua área protegida por lei; é preciso gestão ativa sobre essas áreas. É preciso conciliar desenvolvimento econômico e social com meio ambiente. Uma cidade que se propõe turística tem que primar incondicionalmente pela preservação da natureza e de toda vida que existe. Mas a natureza não deve ser instrumentalizada pela economia. Ela é um ente com direitos.

Como bom manezinho, Elson não perde o tradicional Carnaval de Rua de Florianópolis

Prestes Filho: O Senhor pretende consolidar no seu município a infraestrutura para atividades esportivas?

Elson Pereira: O equipamento esportivo público não pode se limitar à Beira-Mar Norte e às áreas mais nobres da cidade. As populações dos bairros precisam que a prefeitura garanta a existência e a manutenção dessas estruturas. Há alguns anos as comunidades do Maciço do Morro da Cruz perderam o campo de futebol que ficava no bairro da Agronômica. Mesmo a área sendo do governo do Estado, cabe à prefeitura assumir essa responsabilidade de negociar com o governador e garantir a infraestrutura de esporte para as comunidades. Duas gestões se passaram e isso ainda não aconteceu. O esporte precisa de uma política municipal que conceba esporte comunitário, escolar, de rendimento, para mulheres, para adultos não atletas, para pessoas com deficiência.

Prestes Filho: Qual a importância de Vossa cidade no contexto do Sul do Brasil? Quais propostas concretas para o fortalecimento da Economia da Cultura?

Elson Pereira: Como disse antes, Florianópolis é um polo de atração muito forte de pessoas dos estados vizinhos. Nos meses de verão a população da cidade aumenta muito. É fundamental que o poder público promova, com os produtores culturais locais, uma programação cultural que fomente a economia criativa da cidade e que mude a lógica do turismo para uma que não seja apenas praia quando der sol e shopping quando chover. Florianópolis é rica de produção cultural, falta repensar o planejamento turístico da cidade, mais áreas de convivência, opções baratas e acessíveis no centro e nos bairros para tornar toda essa produção cultural ao alcance de quem mora aqui e de quem vem nos visitar. A prefeitura pode e deve atuar em parceria com as produtoras do setor na construção dessa densidade cultural espalhada pelo território.

Professor da Universidade Federal de Santa Catarina na área de urbanismo, Elson costuma levar os alunos para terem aulas no centro da cidade

Prestes Filho: As políticas de controle da ocupação do território da cidade de e dos distritos estão adequadas e atualizadas? Existe uma agenda específica para fazer avançar a infraestrutura de saneamento?

Elson Pereira: A ocupação territorial de uma cidade sem um plano diretor adequado vai ser subjulgada exclusivamente ao poder aquisitivo. Em Florianópolis é assim, quem tem dinheiro mora com segurança nos bairros, enquanto quem não tem se espreme nas encostas de morros, nas dunas, nos manguezais, sem saneamento, acesso digno ao transporte público e aos equipamentos públicos. É preciso democratizar a ocupação territorial da cidade, criar opções de moradia popular, que divida com quem tem mais recursos, os espaços nos bairros da cidade. Florianópolis possui um déficit de cerca de 15 mil moradias e uma total ausência de produção de moradias populares nos últimos governos. Precisamos implantar uma verdadeira política habitacional que promova a regularização fundiária, a provisão de moradias e a assistência técnica para moradias de baixa renda.

Prestes Filho: Como você vê a política municipal atual? Existe harmonia entre o executivo, o legislativo e o judiciário?

Elson Pereira: Florianópolis é uma ótima cidade em vários aspectos. O serviço público é uma referência, mas isso, claro, é mérito das servidoras e servidores que atuam muito bem apesar dos últimos 24 anos de gestões que pouco valorizaram o servidor e o serviço público. Nossa cidade pode muito mais, é preciso fortalecer a estrutura pública, mudar a lógica de ocupação urbana, atuar no fomento da inovação e do empreendedorismo, da economia criativa, da economia solidária e reavaliar toda estrutura de transporte coletivo. A harmonia entre os poderes tem que se dar a partir do respeito à democracia. Muitas vezes, no entanto, o loteamento de cargos e outros interesses não republicanos regem a relação entre os poderes. O Legislativo e o Judiciário são fundamentais para que o Executivo possa por em prática as políticas demandadas pela sociedade.

Convenção do PSOL confirmou o nome de Elson no dia 6 de setembro

Prestes Filho: A infraestrutura instalada demonstrou eficiência durante a pandemia da Covid 19?

Elson Pereira: Mais uma vez é importante ressaltar o trabalho árduo das servidoras e servidores públicos da cidade. É preciso, contudo, uma presença maior da prefeitura. Os recursos para ampliação da infraestrutura, em boa parte, decorrem dos governos federal e estadual e, mesmo com a falta deles, a administração municipal tem que ser protagonista na condução da crise. O prefeito atual, em breves momentos de lucidez, atuou corretamente na contenção do espalhamento do vírus, mas durou muito pouco e logo cedeu aos interesses econômicos de quem não tem crise. Quem precisa de política pública é a trabalhadora e o trabalhador, o profissional liberal, o microempresário, não as grandes redes e empresas.

Prestes Filho: Quais Vossas propostas para fortalecer as empresas de Florianópolis? Como gerar mais trabalho e renda? Existe articulação com os governos federal e estadual?

Elson Pereira: Esta articulação é fundamental. Os recursos do município são muito escassos em comparação com o governo estadual e com o que fica retido em Brasília. No Brasil de hoje, é mais difícil este movimento, tendo em vista que o presidente elegeu governadores e prefeitos como adversários. As médias e pequenas empresas são quem mais e melhor emprega em todo país, aqui não é diferente. A pandemia colocou aos pequenos empreendedores uma realidade trágica, com pouco auxílio do governo federal, dívidas com alugueis, fechamento de diversos tipos de comércios. A prefeitura, repito, tem que ser protagonista na proteção de quem trabalha e desenvolve a economia local. Não adianta atrair com isenções grandes resorts e empreendimentos, enquanto o pequeno quebra afogado na burocracia. Não adianta prometer mundos e fundos, nós queremos ouvir este setor, construir juntos uma saída que seja boa pra cidade e que valorize os pequenos e médios empreendedores.

Prestes Filho: Quais Vossas propostas para melhorar o atendimento da Melhor Idade?

Elson Pereira: Muito embora Florianópolis tenha um alto percentual de idosos em alguns bairros da cidade, a desigualdade impõe uma realidade violentamente diferente para quem não tem dinheiro. As recentes mudanças da legislação nacional condenam uma geração futura de idosos a nunca se aposentar, isso vai ser um desafio muito grande. A prefeitura precisa agir na contramão da lógica aplicada pelo governo federal, valorizando quem dedicou sua vida ao serviço público e ao bem atender da população, assim como criando alternativas para quem está sujeito ao regime geral da previdência e não vai acessar a sua tão merecida aposentadoria.

Elson Pereira, pré-candidato a prefeito de Florianópolis

Prestes Filho: Alguma proposta concreta para o Meio Ambiente?

Elson Pereira: É preciso ser firme na defesa da natureza. Em Florianópolis, diversos empreendimentos avançaram em áreas de proteção, o atual plano diretor põe em segundo plano o interesse ecológico, isso tem que mudar. Uma área em disputa há anos, é a Ponta do Coral. Temos o compromisso com a manutenção da área pública e com a construção do Parque das Três Pontas.

Prestes Filho: Os indicadores de violência contra a mulher durante a pandemia mudaram para melhor ou pior?

Elson Pereira: Durante a pandemia os números de violência doméstica aumentaram. Diferente do que diz o presidente da República, isso não aconteceu só porque as pessoas estão estressadas em casa. O machismo no Brasil é uma doença endêmica, o poder público tem que agir firme na ampliação da rede de acolhimento às mulheres, remodelar os planos de educação para priorizar o ensino do respeito às diferenças e na direção de desnaturalizar as violências cotidianas que foram ensinadas por gerações. A estrutura pública ainda reforça a desigualdade entre homens e mulheres, isso, na nossa gestão, vai ser combatido.

Prestes Filho: Vossa família tem tradição na política? Conte sobre seu pai e sua mãe, sobre sua família.

Elson Pereira: Não, minha família não tem tradução na Política. Meu pai nos criou, eu e quatro irmãos, sendo motorista de taxi em Florianópolis, enquanto minha mãe cuidava dos filhos e dos afazeres domésticos. Ambos eram muito religiosos e meu pai acabou sendo diácono da igreja católica. Casei-me e tenho duas filhas. Tanto minha esposa quanto minha filha mais velha têm engajamento político. A mais nova tem apenas 12 anos.

Prestes Filho: Como o Senhor iniciou na política? Conte sobre sua trajetória?

Elson Pereira: Minha trajetória é ligada ao planejamento urbano no setor público e privado e como professor da Universidade Federal de Santa Catarina, cargo que exerço com muito orgulho. Estou filiado ao PSOL desde 2009 e me candidatei pela primeira vez em 2012 para concorrer à prefeitura de Florianópolis. Naquela época, nossa campanha não chegava a 10 pessoas e gastamos aproximadamente 10 mil reais. O resultado foi sensacional, quarto colocado e mais de 34 mil votos. Nossa campanha cativou muita gente na cidade que estava desamparada pelo poder público, ganhamos muita força entre os jovens. É, com essa esperança depositada na gente, encaramos as eleições municipais de 2016, ficando em terceiro lugar com mais de 50 mil votos, apenas 4% atrás da segunda colocada. Em 2018, fui a candidatura mais votada de Florianópolis para deputado estadual e mais bem votada do PSOL em todo Estado. Chego em 2020 confiante que a população da cidade abraçou nossas propostas e visão de mundo. Tenho comigo, além do PSOL, meu partido, companheiras e companheiras do PT, PDT, PCdoB, Rede, PSB, UP, além de outros movimentos que dão suporte a nossa candidatura e constroem a Frente Democrática e Popular em Florianópolis.

Prestes Filho: O Senhor acredita que o instituto constitucional das eleições é a base da democracia? A democracia é o sistema político que deve ser protegido e fortalecido?

Elson Pereira: As eleições são fundamentais, mas a democracia não pode se basear apenas em voto de dois em dois anos, é preciso ampliar os canais de participação da população. Não há dúvida que a única saída é a democracia, é inacreditável que ainda tenha gente, principalmente dentro dos poderes, que defenda o fim das instituições democráticas, a volta de um passado terrível e tão recente na nossa história.

Frente unida: candidato a vice Lino Peres (PT), Elson Pereira (PSOL) e Janaína Deitos (PCdoB)

SOBRE O CANDIDATO E A COLIGAÇÃO

Com Elson e Lino, Florianópolis lança maior frente popular do país!

Florianópolis disputará as eleições municipais com a maior frente ampla popular entre as capitais do país. Elson Pereira (PSOL) é o candidato a prefeito e Lino Peres (PT) a vice da aliança que reúne sete partidos, com apoio de duas organizações políticas. A expectativa sob a candidatura é expressiva devido ao elevado potencial do campo progressista chegar ao segundo turno, após 24 anos. O anúncio foi oficializado na noite da última quarta-feira (16), em transmissão pela internet.

A coalizão começou a ser desenhada há quase dois anos, após o pleito presidencial, quando as legendas se dispuseram a se unificar para vencer o bolsonarismo, que tomou conta do país, e o histórico de governos conservadores na capital, salvo o hiato entre 1993 e 1996, do governo Sérgio Grando e Afrânio Boppré. A grande viabilidade de chegar ao segundo turno se mostra pelos números da última eleição. Elson obteve 51.106 votos, ou 20,60%, ficando em terceiro lugar. Se fossem somados junto aos votos válidos de todas as siglas do campo progressista, que saíram em chapas diferentes, ultrapassariam o índice da segunda colocada.

A aliança é formada por PSOL, PT, PDT, PCdoB, PSB, REDE, UP, além das organizações PCLCP e UCB. O lançamento contou com a participação de representantes de todas as legendas.

Quem é Elson Pereira

Natural de Florianópolis, Elson Manoel Pereira, 57 anos, é professor de planejamento urbano na graduação e leciona na pós-graduação de geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Graduado em engenharia civil e mestre em administração pública pela mesma instituição de ensino, é doutor em urbanismo pelo Instituto de Urbanismo de Grenoble e pós-doutor em Geografia pelo Instituto de Geografia Alpina, ambos na França. Foi professor convidado na França, Canadá e Coimbra. Candidato por duas vezes à Prefeitura de Florianópolis, Elson ficou em terceiro lugar no último pleito, a quatro pontos da segunda colocada. Também se candidatou duas vezes para deputado estadual, sendo que foi o mais votado na capital em 2018. Como estudioso do urbanismo, contribuiu na elaboração de planos diretores participativos, entre eles o de Florianópolis e Itajaí (SC), e de Nova Serrana (MG). Atuou como coordenador de políticas municipais de habitação de interesse social de Jaraguá do Sul, Palhoça, Biguaçu e Bombinhas. Foi conselheiro do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social, em Brasília, por dois mandatos, além de secretário executivo da Associação Nacional de Planejamento Regional e Urbano. Publicou quatro livros sobre cidades e planejamento urbano. Tem forte ligação com a vida cultural e carnavalesca da capital, escreveu enredos para a escola de samba Protegidos da Princesa.

Quem é Lino Peres

Lino Fernando Bragança Peres, 68 anos, é arquiteto pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em arquitetura e doutor em urbanismo pela Universidade Nacional Autônoma do México. Dedicou sua carreira como professor de Arquitetura e Urbanismo na UFSC. Hoje é aposentado e professor voluntário, coordenador do Grupo de Estudos da Mobilidade Urbana do Departamento de Arquitetura da UFSC (GEMURB) e participou da fundação do PT municipal e Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES-DN) e Núcleo de Estudos Negros. É autor de publicações como pesquisador e atuou em atividades de extensão em mais de 20 comunidades, em ações de habitação e plano diretor. Coordenou os Seminários Interuniversitários sobre Plano Diretor Participativo e mobilidade urbana da Capital. É militante na luta contra a discriminação racial. Em 2016 foi reeleito vereador de Florianópolis, pelo segundo mandato consecutivo, depois de receber 2.777 votos, com eixos de atuação na área urbana (plano diretor, planejamento urbano, habitação, mobilidade urbana e saneamento), ambiental, direitos humanos (mulher, população negra, população em situação de rua, quilombolas, indígenas, LGBT e migrantes) e cultura. Preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e Igualdade de Gênero da Câmara Municipal de Florianópolis, além de ser membro da Comissão de Viação e Obras Públicas e da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Informática.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).