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EDITORIAL –  Há um golpe em marcha!
Editorial, Política

EDITORIAL – Há um golpe em marcha!

Não é um golpe, desta vez, contra as instituições do estado de direito democrático. É um golpe contra a substância do contrato social que elegeu Lula e o PT, pela QUINTA vez, na sofrida democracia brasileira.

Haddad tem levado Lula a encontros, para lá de suspeitos, com a cúpula do sistema financeiro internacional (agências de risco, em Nova York) e nacional (banqueiros, em Brasília, esta semana).

Nenhuma transparência acerca destes conchavos com a cabeça da plutocracia (governo dos barões) global e nacional. Apenas pistas interesseiras “vazadas” pela grande mídia, cem por cento amestrada pelo mesmo baronato.

Destas pistas “vazam” duas linhas. E da leitura de ambas a certeza de que há um grave golpe em marcha no Brasil: o ajuste fiscal exclusivamente pelas despesas.

Mas, criminosamente, a maior destas despesas, a salgada conta dos juros, vai continuar intocada e intocável! E esta decisão ajudou a compor a “ótima impressão” que Lula passou a seus donos, nestas reuniões a portas fechadas.

É preciso que eu diga honestamente que não sei bem a quem Lula está enganando, neste momento. Mas sei que a principal vítima do engano tende a ser o interesse nacional e popular, se a catatonia política e a passividade da população permanecerem como estão.

Na plateia, estamos vendo de novo a aplaudir esta farsa, com entusiasmo, uma multidão de artistas, intelectuais, sindicalistas pelegos, lideranças estudantis governistas dos partidos autorreferidos de esquerda, hoje reduzidos a meros puxadinhos despolitizados de um PT corrompido e fisiológico.

A alienação e vassalagem subornada os transformaram em meros espectros da extinta “sociedade civil” brasileira, e hoje não representam mais a ninguém, senão a si mesmos.

Claro que a agenda do golpe em marcha vem produzindo sólido consenso na direita pátria, desde sempre e hoje também.

O chocante é testemunhar esta agenda ultrarreacionária ser executada e legitimada por forças que historicamente nasceram, em tese, da luta do povo.

É bom que eu diga logo do que se trata, para que todos entendamos que este será o embate dos próximos meses, com urgências para já, devido à chegada do fim do ano congressual.

Trata-se de como enfrentar o colapso iminente das contas públicas, já muitas vezes anunciado e descrito, aqui, nesta newsletter.

Para entendermos mesmo o assunto, precisamos nos livrar da “novilingua” criada pela banqueirada para legitimar seu assalto à poupança nacional.

Equilíbrio fiscal é um valor correto em si mesmo. Devemos ter contas públicas no azul não para ganhar a confiança dos agiotas, mas, pelo contrário, para não precisar deles.

Equilíbrio fiscal, desculpem a obviedade (mas ela não se lê em canto nenhum da grande mídia amestrada a muito dinheiro do povo), é uma conta de somar/diminuir entre todo o dinheiro que o governo arrecada e todo o dinheiro que o governo gasta, A QUALQUER RAZÃO. Simples assim!

Então, quem for honesto intelectualmente, não pode falar em equilíbrio fiscal sem olhar TODO o grande quadro. E aqui reside a monstruosa fraude manipulada como “consenso” pela banqueirada. Aqui a base do golpe em marcha que denuncio.

Conheçamos os números em ordem de grandeza das despesas públicas:

1. Previdência social – R$ 913 bilhões de reais
2. Juros e encargos da dívida – R$ 835 bilhões de reais
3. Pessoal e encargos – R$ 380 bilhões de reais (ativos e INATIVOS)
4.Investimentos – R$ 54 bilhões de reais
5. Custeio do SUS (Sistema Único de Saúde) – R$ 218 bilhões
6. Custeio da Educação – R$ 218 bilhões de reais;

Mantidas estas despesas, o “mercado”, contra a mentirada oficial de déficit zero muitas vezes denunciada por esta newsletter, vaticina um déficit “primário” próximo de R$ 70 bilhões de reais.

“Déficit primário” é outra destas mentiras que a grande mídia, a serviço da banqueirada, nos impôs como verdade.

É que o déficit “oficial” desconsidera os gastos correntes com juros, como se você, em sua contabilidade doméstica, não tivesse que honrar os boletos de suas prestações e a fatura mensal do cartão de crédito. E não tivesse que honrar estas despesas financeiras com sua receita mensal, vejam o absurdo!

Temos então, voltando à falência a que Lula e o PT estão levando o nosso país, que somar, obrigatoriamente, R$ 835 bilhões de reais de juros mais R$ 70 bilhões de reais de rombo, só este ano.

O resultado desta conta macabra é que nossa já monstruosa dívida pública, vai subir ao menos mais R$ 905 bilhões de reais, simplesmente 7,87% do PIB, em um único ano!

Quando um devedor “deixa” o mercado saber que sua dívida está crescendo muito, a tendência do credor é encurtar os prazos de vencimento e aumentar os juros, de maneira a “compensar” o incremento do “risco”.

Com a completa e criminosa cumplicidade de um Banco Central entregue aos banqueiros por um estatuto completamente criminoso de “privatização” da autoridade monetária brasileira, vejam, agora, o que está acontecendo, SEM NENHUM PRECEDENTE NO MUNDO!

Acontece, abram bem os olhos, que mais de um terço da explosiva dívida de R$ 8,8 TRILHÕES de REAIS vencem POR DIA!

Isto mesmo, meu caro leitor, por mais absurdo que pareça, quase R$ 3 TRILHÕES DE REAIS estão girando overnight e pagando os maiores juros do mundo!

Nesta marcha, minha dúvida é sobre a data da quebra, e se Lula e o PT, vão pagar de novo os custos políticos desta quebra, como FHC pagou em 1999 e a incrível Dilma pagou em 2014. Ou se vão conseguir dar o golpe que está em marcha, empurrando o gravíssimo problema com a barriga, a custos ainda maiores para a nação.

Há quase duas décadas tento advertir, em vão, que se trata de uma inerência do modelo. De uma tragédia anunciada.

Empurrar com a barriga e não considerar com inteligência, coragem e imaginação institucional a gravidade do problema, é preparar o país para assistir a mais um trágico golpe contra o povo.

Ele começa assim: todo o mercado sabe, e os amigos do rei sabem antes de todos, desta emergência fiscal (como souberam, por exemplo, no abafado escândalo dos precatórios, quando Lula e Haddad liberaram para meia dúzia de banqueiros mais de R$ 90 bilhões de reais em precatórios que eles tinham comprado, pouco tempo antes, por metade do valor.

Por saberem antes desta emergência fiscal, eles forçam os juros para cima e encurtam o prazo de refinanciamento para horas e embolsam quase R$ 1 trilhão de reais de dinheiro público. Mas como não são burros, ficam também de olho na porta de saída.

Os mais nervosos saem, ciclicamente, para o dólar, que aumenta de preço, forçando uma inflação inalcançável pela taxa de juros. Mas elas que são aumentados assim mesmo, agravando a situação até a completa inviabilidade fiscal.

Aí estoura tudo!

Mas antes que exploda, eles querem raspar o fundo do prato. E aqui reside o golpe que está em marcha: o “equilíbrio fiscal” desta gente só pode ser alcançado por um único e mentiroso caminho.

Mentiroso porque o maior gasto corrente, que são o quase um trilhão de reais gastos com juros, eles simplesmente desconsideram, deixam de fora, com a cumplicidade da mídia amestrada a peso de ouro.

E passam a mirar, portanto, nas outras despesas. Com mais ânsia nas que beneficiam os mais pobres.

Este é o GOLPE com que Lula e Haddad estariam se comprometendo, não sei enganando a quem, pois com esta gente tudo é possível. Inclusive enganar a si mesmo.

Como comecei a dizer acima, a mira agora é desvincular o salário-mínimo dos benefícios previdenciários e acabar com os mínimos constitucionais para a educação e saúde. Há também a grandiloquente proposta de uma reforma administrativa (“cortar os supersalários” – que dizem pode economizar R$ 5 bilhões).

Repararam que há uma proposta de “corte” para cada grande item de despesa, menos para a maior despesa de todas? E para ela, que é a mais criminosamente antissocial, não há sequer uma menção?

É mentira técnica que a taxa de juros aloprada que temos deva-se a uma inflação que não temos, ou seja a prêmios de riscos cujos precedente também não há.

É assalto mesmo aos cofres públicos, acobertado pelo governo de sempre, de FHC para cá. Mas quem prometia ser diferente era Lula e o PT!

Esta reflexão está já muito longa. Volto ao assunto, tocando a outra coluna do equilíbrio fiscal, esta pelo pelo lado da receita. Mas o golpe de Lula parece ter abandonado o assunto. Claro, quem podia/devia pagar uma parte deste sacrifício deveriam ser os ricos da economia que possui a maior concentração de renda do mundo.

Mas aqui parece que o golpe também está em marcha.

Autor: Ciro Ferreira Gomes, advogado, professor universitário e político brasileiro, filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), do qual é vice-presidente, também é membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

DANIEL MAZOLA – Jornalista profissional (MTb 23.957/RJ); Editor-chefe do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Consultor de Imprensa da Revista Eletrônica OAB/RJ e do Centro de Documentação e Pesquisa da Seccional; Membro Titular do PEN Clube – única instituição internacional de escritores e jornalistas no Brasil; Pós-graduado, especializado em Jornalismo Sindical; Apresentador do programa TRIBUNA NA TV (TVC-Rio); Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Conselheiro Efetivo da ABI (2004/2017); Foi vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/2013). 

SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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