Por Luiz Carlos Prestes Filho

O editor do Jornal da Dança e produtor cultural, Edézio Paz, foi obrigado a paralisar o ”Projeto 18:30” no Teatro de Arena de Porto Alegre. Também, os seus dois projetos de vida: “Mostra de Dança” e o “Seminário Multicultural”. Através do último ele pretendia debater a atual situação das políticas públicas e empresariais para com a cultura no Brasil: “Realizo grande esforço espiritual todos os dias, desejo sair da pandemia melhor do que entrei. Não é possível que esta crise sanitária não contribua para evoluirmos para melhor. Minha origem é a dança, por isso sei o quanto a saúde do corpo é fundamental para qualquer artista ser produtivo. As plataformas digitais abriram os horizontes profissionais, estou realizando projetos no campo da comunicação, entrevistas com convidados de diversas áreas do Brasil e do Exterior. Mas o corpo pede movimento, pede luz!”

Fundador e editor do Jornal da Dança, há 30 anos, Edézio reconhece que a crise da Covid-19 abalou toda a produção cultural do Brasil. Mas diz que está faltando uma autocrítica daqueles que se acostumaram com a torneira aberta do extinto Ministério da Cultura, da Petrobrás e da Eletrobrás: “Sem falar no balcão de negócios que tinha virado a Lei Rouanet. Para investir em cultura, o único caminho era essa lei. Por isso, chegamos no fundo do poço, no caos. Ninguém desejava sair da sua zona de conforto, ninguém desenvolvia projetos para o mercado, para a indústria cultural. Somente esperavam verbas públicas. A maioria dos artistas que hoje reclama não imaginava que a cultura iria chegar onde chegou. Mas isso foi provocado por muitos deles. Esses erros cometidos fez a classe artística do Brasil ser vista como instrumento de partidos, de ideologias e de interesses político-eleitoral dos governos que antecederam o Bolsonaro”.

Antes de sonhar com o fim da pandemia, Edézio diz que deseja um novo mundo, mais solidário. Pergunta sobre quem vai pagar a conta global deste momento?: “Temos muitas perguntas sem respostas. Assim como acredito na vacina, que está em curso, não posso deixar de pensar que pereceremos de muita fome e desemprego nos países em desenvolvimento. No momento não consigo pensar em descontração ou diversão. Mas, claro, quero muito voltar para o meu estúdio de TV, para os meus espetáculos e seminários.”

Morador de Porto Alegre se anima a dizer que teve a felicidade de nenhum amigo ter sido infectado: “Os que se curaram são milhões sobre as quais a grande imprensa quase não fala. O consórcio de mídias faz questão de valorizar a morte. Mas para mim os esforços dos profissionais da saúde na luta pela vida

é o que chama a atenção. Neste campo, prefiro acreditar nas informações oficiais do Governo”.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).