Por Pedro do Coutto

Depois do acontecimento subversivo da ocupação de estradas no país por caminhoneiros bolsonaristas, e da demora de o presidente Jair Bolsonaro, contrafeito em reconhecer a vitória do adversário, o quadro político nacional ficou conturbado e deu margem à interpretações de que o presidente da República aguardava um desfecho qualquer da obstrução das rodovias.

Por isso, é melhor, na minha opinião, para o país e para o próprio Bolsonaro que ele renuncie faltando dois meses para o fim do seu mandato e deixe para o vice-presidente, Hamilton Mourão, articular a transição do governo. Com tal atitude, haveria uma descompressão da atmosfera que restou de episódios traumáticos como o que envolveu o ex-deputado Roberto Jefferson e a crise forjada pelos caminhoneiros.

INCENTIVO – Não faltou incentivo para que os bloqueios continuassem por iniciativa da deputada Carla Zambelli nas redes sociais da internet, como revelou a reportagem desta quarta-feira de O Globo, de Jan Niklas, Luisa Marzullo, Marina Muniz, Paula Ferreira e Rafael Moraes Moura. Inaceitável a tentativa de repetir no Brasil o episódio de janeiro de 2021 quando houve uma invasão do Congresso americano por republicanos contra a posse de Joe Biden.

Hamilton Mourão, senador eleito pelo Rio Grande do Sul, tem consigo a serenidade exigida pelo momento pós-eleitoral e ressaltado numa entrevista a Natália Portinari e Gabriel Mascarenhas, O Globo de ontem. Ele afirmou, resumindo o panorama do lado do governo, que “não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo”. A aceitação pública da derrota representa uma atitude de fidelidade democrática e de serenidade diante do princípio da alternância de poder.

O vice-presidente da república falou com clareza, ajustou o seu pensamento à realidade, revelada pelas urnas, e desarmou certamente os setores mais radicais do bolsonarismo.  Não foi fácil a desobstrução das rodovias e vias de acesso urbanas por filas de caminhões que estavam praticando uma manifestação fomentada por empresários.

AUSÊNCIAS – No breve discurso no Palácio da Alvorada, depois de reunião com ministros, na qual na reportagem da GloboNews não foi focalizada a presença do ministro Paulo Sérgio Nogueira e dos comandantes do Exército e da Marinha, o presidente Bolsonaro não se referiu nominalmente ao adversário vitorioso, ficando a tarefa para o ministro Ciro Nogueira que citou o nome de Lula ao se referir à transição de governo que começa hoje em Brasília entre ele e o vice eleito, Geraldo Alckmin.

Pouco tempo depois, Bolsonaro esteve no Supremo Tribunal Federal reunido com ministros da Corte, dizendo, na tradução de Edson Fachin, a expressão “acabou”. O pronunciamento aguardado por 40 horas e a tensão que estava no ar foram bem focalizados na reportagem de Daniel Gullino, Alice Cravo, Jussara Soares e Marina Muniz, também no O Globo de ontem. Vale ainda ressaltar a importância do artigo de Bernardo Mello Franco sobre o final do governo e o processo de transição que se inicia nesta quinta-feira.

SEM CONDIÇÕES – No artigo, o jornalista disse que Bolsonaro perdeu as condições para tentar virar a mesa. Os governadores eleitos na corrente bolsonarista não estão interessados em confusão, da mesma forma que os líderes de todos os partidos da Câmara e do Senado aceitam o resultado das urnas.

O presidente Bolsonaro, centro de todas as observações do país, por seu comportamento revela que não se dispõe a passar a faixa para o ex-presidente Lula que volta ao poder pelo voto. Portanto, é melhor que tal tarefa caiba ao senador Hamilton Mourão, preenchendo o espaço do último ato do mandato que termina e primeiro capítulo da administração que se inicia.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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