Por Miranda Sá –
“Falar é bom, calar é melhor, mas ambos são desagradáveis quando levados ao exagero” (La Fontaine)
Li certa vez, mas olvidei o nome do autor, o pensamento: – “a avareza das palavras não é falta de cultura, mas sinal de inteligência”. Sem dúvida, um bom conselho, porque quem exagera no falar é taxado de boquirroto, falador e tagarela…. Quem muito fala é sempre indiscreto, mente ou revela segredos; e o povo não perdoa.
Algumas pessoas, porém, gostam de falastrões, principalmente dos falastrões políticos que põem nas redomas da adoração pessoal. É conceito geral, entretanto, que levantar ideias com poucas palavras é louvável, mas que se deve evitar o exagero.
A História dos Estados Unidos tem um capítulo dedicado ao presidente republicano Calvin Coolidge, um intelectual do Estado de Vermont. Ali se ressalta o comedimento dele com as palavras; diz que iniciava seus discursos prometendo reduzir o assunto a ser tratado.
E tem uma anedota sobre ele contando que um dia, voltando da Igreja, Coolidge foi perguntado pela esposa: – “Que tal o sermão de hoje? ”; ele respondeu: – “Bom”. Ela continuou: – “Qual foi o tema? ”; e ele: – “Pecado”. A mulher insistiu: – “Que disse o pastor?; ele: – “Contrário”….
Esta sovinice de Coolidge com as palavras chegou ao máximo quando num jantar uma senhora se achegou e disse-lhe: – “Presidente, eu apostei que conseguiria fazê-lo falar cinco palavras…” Ele interrompeu-a: – “Perdeu”.
O exemplo do norte-americano vem de longe. Quando fizemos o ginásio e estudamos a História Romana, encontramos Júlio Cézar, cujo relatório após a conquista da Gália se resumiu ao “Vim, vi e venci” (Veni, vide, vinci). E mais tarde tivemos também o admirável René Descartes, que constituiu um sistema filosófico resumindo a sua tese sobre a Razão com apenas três palavras: – “Penso, logo existo”.
A discrição merece respeito e deveria ser obrigatoriamente usada pelos agentes públicos que exercitam a política. A sabedoria popular usa um ditado que diz “falar é prata, calar é ouro”, e ensina “que palavra fora da boca e pedra fora da mão não voltam atrás…”.
Infelizmente estas lições não mergulham no poço da mediocridade que domina a cena política no Brasil. Fui repórter cobrindo a Câmara Federal e o Senado, e me abate, e me envergonha, que não tenhamos mias congressistas como antigamente; o nível é baixíssimo nas duas casas. Por concessão cautelosa, registro algumas exceções.
Muito mais insignificante é o nível ministerial. Mais baixo do que em qualquer regime, do que em qualquer época, no Império ou na República…. Aí, também por cautela, seria insensato não livrar alguns, poucos, mas existem.
Ocupando pastas, direção de órgãos administrativos superiores ou presidências de empresas estatais, há pessoas que podemos ressalvar sem nos amesquinhar; mas a imensa maioria, entretanto, segue o padrão do presidente Jair Bolsonaro, falando muito para esconder a inação administrativa.
O maior exemplo é do ministro-general Eduardo Pazuello que muitas vezes diz e se desdiz em pronunciamentos importantes para a Nação. Só marcando a data da chegada da vacina e o dia da vacinação, marcou várias horas “Hs” e vários dias “Ds” rodando num carrossel iluminado e colorido de ilusões.
Só não vê quem não quer que o governo federal está baratinado diante da pandemia, sem um comando que imponha respeito, acatando as ordens do ignorantérrimo presidente Bolsonaro, que me traz à lembrança a posição enérgica do rei Juan Carlos dirigindo-se ao boquirroto ditador venezuelano Hugo Chávez, na XVII Conferência Ibero-Americana: – “¿Por qué no te callas? – Uma reprimenda que deveria servir de lição para qualquer político e principalmente para o Presidente.
Serviria como uma luva para o Capitão boca-rota, antigo admirador de Chávez, cujos excessos ilimitados nas declarações e entrevistas, seriam dispensáveis até para ele próprio. O “cala boca” teria o apoio dos eleitores que votaram nele contra a corrupção, e se arrependeram.
Para Bolsonaro, mesmo mouco para qualquer orientação cultural, valeria a lição de Abraham Lincoln: – “É melhor calar e suspeitarem da sua pouca sabedoria, do que falar e eliminar qualquer dúvida…”
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
MAZOLA
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