Por Miranda Sá –
A superstição é uma criação humana que atribui influências ocultas ou sobrenaturais a fatos inexplicáveis ou possíveis de serem explicados naturalmente. Esta definição traz a sabedoria dos antigos; eles a usaram como salvaguarda de riscos iminentes.
Quando menino, aprendi com a minha avó Quininha que deixar os chinelos e sapatos revirados chama desgraças e até a morte na família; pois bem, isto serviu para que eu nunca tenha sido mordido por escorpiões, que se escondem nos calçados… Mais tarde, ouvi dizer que “dá azar” passar debaixo de uma escada; claro, ela pode cair e nos ferir, até matar; e por cuidado, evito fazê-lo.
Dizem que quebrar um espelho gera desgraças; claro, os cacos de vidro e sua camada metálica ferem e infeccionam; mas em todas superstições têm o propósito de ensinar ou prevenir. O folclore mundial, e o nosso em particular, injetam uma overdose de exagero e termina caindo no descrédito e na hilaridade.
Crendices em demasia já não assustam. Quem teme ver um gato preto passar à sua frente?… Qual adolescente crê que um trevo de quatro folhas rende sorte no amor e que um galhinho de arruda na orelha afaste o mau olhado?
A influência africana trouxe-nos os “banhos” sendo o de sal grosso que atrai pessoas; vaqueiros garantem que uma ferradura na porta evita acidentes, portugueses creem que uma figa afasta o diabo e nossos índios usavam colares e pulseiras para exorcizar o espírito dos inimigos mortos….
Tais heranças trazem à memória das moças no após guerra que usavam pulseiras de balangandãs com penduricalhos de estrelas, meias luas, tartarugas, olhos, cobras, caveiras, plantas e animais cercados de sortilégios; a famosa cantora Carmem Miranda levou-os para os Estados Unidos, onde se tornaram moda. Lá, os rapazes usavam chaveiros com pé-de-coelho para ter sorte. Ouvi falar agora de uma nova simpatia para não adoecer: soprar canela em pó….
A palavra Superstição dicionarizada é um substantivo feminino de etimologia latina, (superstitio, -onis) significando medo excessivo dos deuses ou do sobrenatural; e no brasilês, é uma crença religiosa fundada em preconceitos.
O Museu Nacional Romano exibe uma esfera zodiacal de ouro e mosaico, que foi encontrada nas ruínas de Pompeia, cidade sepultada pelo Vesúvio. Foi um símbolo de universalidade que incutia fé e esperança na alta sociedade romana; governantes, intelectuais, militares e recatadas ‘mater familiae’ alisavam o globo por um futuro auspicioso.
Vê-se que a crendice vem de longe; e muito antes do Império Romano, herdeiro da cultura grega. Terá sido da mítica Atlântida? Ou da Arcádia, Egito e China? É muito difícil saber; entretanto, podemos afirmar que apareceu a mais de cinco mil anos.
Evoluiu transmudando-se com o avanço civilizatório. Surgiram os jogos divinatórios e a astrologia, avoenga da moderna astronomia…. E foi perseguida; o Talmude judaico – a mais antiga versão da Bíblia -, condena a superstição e proíbe a jogos adivinhatórios mesmo praticados por curiosidade ou diversão.
É interessante observar que geralmente as crenças metafísicas, devoções e práticas mágicas, são objetos de rituais secretos, obrigando uma adesão absoluta do seguidor, com deveres e o temor do castigo.
Para compensar, porém, algumas crendices trazem alegria para as famílias e amigos, como assisti em Brasília no Chá de Revelação, jogos para adivinhar o sexo do bebê; e deu feminino, minha futura neta Luísa.
Por outro lado, no cotidiano, a superstição leva ao fanatismo, impregnada na política brasileira e adotada por milhares de psicopatas, seguidores da famigerada polarização entre as falsas direita e esquerda.
No Deuteronômio (18:9-14) está escrito que Deus fez um apelo para que Israel fugisse das superstições como uma abominação ao Senhor. Coisa que muitos “crentes” não cumprem ao mergulhar na politicagem reinante.
Da minha parte, tornei-me supersticioso com polarização perversa: a falsidade de Bolsonaro e o “13 de Lula” dão azar… rsrsrs.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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