Por Kleber Leite –
Acabo de receber esta mensagem do querido e criativo amigo rubro-negro, Luisinho Campos:
Há 36 anos, neste 23 de dezembro, perdíamos o nosso Curi, em um acidente quando ele viajava de carro para passar o Natal em Caxambu. A imagem mais emocionante que guardo foi quando você gravou o “Enquanto a bola não rola” e chorou muito lendo um texto que preparei de homenagem ao nosso doce “Dá-lhe garoto”. Não importava chuva, sol, vitória ou derrota. Curi era Flamengo até o último suspiro. – Luisinho Campos.
Parece que foi ontem…
A minha despedida de Jorge Curi, nesta etapa de jornada de vida, foi na Churrascaria Palace, em Copacabana.
Todo final de ano, o mais próximo possível ao Natal, a direção da Rádio Tupi promovia este encontro natalino. Foi um almoço, em que o nosso Curi só bebeu água mineral, pois planejou, ao sair dali, ir direto para Caxambu, onde sua família o aguardava. Andava muito magoado pela sua saída da Rádio Globo, que seu coração entendia ser uma extensão familiar. Em síntese, Jorge Curi tinha verdadeira paixão pela Rádio Globo e nunca se conformou com sua injusta e inexplicável demissão.
Curi saiu da Rádio Globo, mas a Rádio Globo jamais saiu dele.
Na estrada, que ele conhecia como ninguém, já chegando a Caxambu, houve o acidente que, em decorrência, veio a falecer. Sou da turma que tem a certeza de que o coração, tão magoado, não resistiu e provocou o acidente. Tenho guardado este sentimento comigo, sem jamais ter tornado público. Acho que chegou a hora de todos terem conhecimento de momento tão importante de uma das mais geniais figuras do Rádio. Jorge Curi morreu, fulminado pelo desgosto.
E, tenham a certeza de que, todos nós, seus companheiros, à época da Rádio Tupi, fizemos de tudo para aliviar sua dor. Infelizmente, fomos vencidos…
As boas e lindas lembranças ficaram tatuadas em minha mente e em meu coração. Rodamos o mundo juntos, atrás do Flamengo e da Seleção. Quantas jornadas memoráveis, quantos encontros e quantas molecagens…
Em Campinas, o nosso personagem não podia ir para o estádio, pois a única calça que havia levado para a curta viagem, enquanto tirava uma soneca depois do almoço, tinha sido escondida no freezer do quarto do hotel em que estávamos hospedados. O pior é que quando foi revelado o esconderijo, a calça, de tergal, estava totalmente congelada…
Curi foi de cueca para o estádio. A calça só voltou a ganhar forma lá pelos vinte minutos do primeiro tempo…
Na despedida de Carlos Alberto Torres, em Nova York, inventei que havia um ladrão invadindo os quartos do nosso hotel. Naquela época não havia cartão de crédito e Curi era o “tesoureiro” da equipe, onde guardava os dólares em uma pochete enorme, que mantinha amarrada na barriga. Como disse a ele que havia um ladrão “mão leve”, invadindo os quartos, na hora da sua sagrada dormidinha após o almoço, resolveu amarrar os laços da pochete na sua região escrotal, ou seja, no seu saco. O problema é que acordou com enorme dor de barriga e, quando foi baixar a calça do pijama, sofreu – literalmente – estrangulamento de saco. Do corredor, chegando do treino com a delegação do Flamengo, ouvia seus urros. Abri a porta do apartamento e ante situação tragicômica, saí correndo atrás do Dr. Giuseppe Taranto, que, ao se deparar com fato tão incomum, caía na gargalhada, enquanto medicava…
Quando discutia com o João (Saldanha) a mim competia o trabalho de reaproximação.
Discutiram muito, mas se amavam e se respeitavam.
O gol mais lindo que o Rádio já produziu teve dois autores: Zico e Jorge Curi.
Após o gol, inspirado no “GOLAÇO… AÇO… AÇO!!!”, criado por ele mesmo, deu continuidade: “ZICO, ZICÃO, ZICAÇOOOO!!!”.
Quanto talento! Genial!!!
O maior vendedor de emoções – rubro-negras!!! – na era do Rádio.
Jorge Curi era também conhecido pela sua “munheca de ouro”. Pagar e gastar eram dois verbos pelos quais tinha verdadeira ojeriza. Adorava, tinha enorme prazer, em depois de pagar a conta do almoço ou jantar, de pedir alguma coisa que, “por cortesia da casa” não era cobrado. Para ele, era a glória…
Até hoje, todas as pessoas que comigo convivem, são testemunhas de que, todo santo dia, seja em qualquer restaurante, no Brasil ou no exterior, após pagar a conta, peço um cafezinho, pedindo que seja colocado na conta do senhor Jorge Curi…
Desta forma, com ele tenho estado, diariamente, nestes últimos trinta e seis anos.
Quanta saudade…
KLEBER LEITE é jornalista, radialista, empresário, dirigente esportivo e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Fundador da Klefer Marketing Esportivo em 1983.
Tribuna recomenda!
NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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