Por Miranda Sá –
A busca da Felicidade é uma fantasia diversionista para fazer esquecer as agruras do dia-a-dia das pessoas que vivem nos andares de baixo do edifício social. Ou esquecidas no subsolo, o porão da miséria.
Esta procura tem uma campanha massiva provocando enquetes e até incentivou países a criar um Ministério da Felicidade; e vem de longe. O meu bisavô português João da Costa Fortinho, que foi pupilo de Camilo Castelo Branco e era político, adotava a consigna “A República resume a felicidade de uma Nação”. Foi um dos 33 da independência uruguaia.
Assim, para mim, a Felicidade entra ancestralmente na política, e emerge agora no Brasil com o ministro togado Alexandre de Moraes, olhando pelo retrovisor da História diz que quando não havia a Internet “era feliz e não sabia” …. O Juiz assume com esta declaração a sua abominação pela democracia nas redes sociais,
O besteirol descabelado traz na sua enorme cretinice uma ressalva elogiável: Lembrou o samba clássico de saudoso Ataulfo Alves, “Meus Tempos de Criança” que encerra nas estrofes com “Eu Era Feliz e Não Sabia”.
Na poesia, a Felicidade acalenta um sentimento de alegria e satisfação, contentamento e a premissa de ser feliz, características ressaltadas no belo poema de Mário Quintana “Da Felicidade”.
Este sentimento poético é atemporal e não se arrasta na virada dos séculos, quando as redes sociais não existiam; e é por isto que Alexandre de Moraes se expõe como um saudosista da época em que os políticos ficavam livres das críticas, das denúncias de corrupção, das farsas eleitorais e das truculências repressivas….
Para quem interpreta a Constituição de um País, é uma saudade estranha da Idade de Ouro das Falcatruas, em que a Felicidade constituía na facilidade de se obter o êxito pessoal duvidoso, o sucesso dos interesses partidários e grupistas, e o enriquecimento dos que misturavam o público e o privado para obter propinas.
Nas redes sociais não valem os cem anos de segredos de Bolsonaro e Lula e os processos sigilosos do STF; nenhuma perversão fica escondida após surgirem na Web as ferramentas de expressão do pensamento, Facebook, Instagram, Telegram, YouTube, Tic-Toc, WhatsApp e o “X”, rebatizo do Twitter.
Facilitada a liberdade de expressar opiniões e divulgar coisas do interesse geral provoca lamentos dos corruptos, dos seus cúmplices e dos publicistas mercenários a serviço do populismo demagógico.
Assim, a poderosa corporação dos andares do alto, onde pavoneia Alexandre de Moraes, relembra as várias formas da felicidade perdida, lástima dos especialistas da GloboNews que entraram na corrente saudosista revelando que eram mais felizes na era analógica….
Também eram felizes os lulopetistas que assaltaram a Petrobras em conluio com empreiteiras corruptoras; idem os que passavam incólumes de prestar contas do dinheiro público desviado. E eram felizes os seus tutores, ministros do STF, de quem Moraes é porta-voz; praticavam o “garantismo” favorecendo o crime e os criminosos sem conhecimento público.
O conceito de Felicidade se encontra no dicionário Aurélio significando o estado de espírito de quem está alegre ou satisfeito; e que deste substantivo nasceu o adjetivo Feliz, originário do latim “felix, felīcis”, associado a fértil, “fertĭlis”, o que provoca alegria, contentamento e júbilo.
Uma sociedade feliz seria encontrada na teoria de Campanela. De Cícero, de Swift, de Platão e Morus que inventaram repúblicas e reinos ideais onde são mais interessantes as exclusões do que as admissões.
As utopias sonhadas erguiam monumentos à palavra Felicidade; a homenagem a este verbete que me leva ao mestre Machado de Assis: “Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução”; e dele, levando-nos à reflexão pelo momento de atravessamos, o genial pensamento:
“O tempo é um químico invisível, que dissolve, compõe, extrai e transforma todas as substâncias morais”.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
PATROCÍNIO
Tribuna recomenda!
MAZOLA
Related posts
Berço da civilização
Troca-troca na Europa
Editorias
- Cidades
- Colunistas
- Correspondentes
- Cultura
- Destaques
- DIREITOS HUMANOS
- Economia
- Editorial
- ESPECIAL
- Esportes
- Franquias
- Gastronomia
- Geral
- Internacional
- Justiça
- LGBTQIA+
- Memória
- Opinião
- Política
- Prêmio
- Regulamentação de Jogos
- Sindical
- Tribuna da Nutrição
- TRIBUNA DA REVOLUÇÃO AGRÁRIA
- TRIBUNA DA SAÚDE
- TRIBUNA DAS COMUNIDADES
- TRIBUNA DO MEIO AMBIENTE
- TRIBUNA DO POVO
- TRIBUNA DOS ANIMAIS
- TRIBUNA DOS ESPORTES
- TRIBUNA DOS JUÍZES DEMOCRATAS
- Tribuna na TV
- Turismo