Por Miranda Sá –
Atravessamos o pântano da delinquência judiciária enfrentando crocodilos que trazem nas mandíbulas as propinas da corrupção. A trilha segura da honestidade que a Operação Lava Jato abriu, perseguindo os corruptos e seus cúmplices, foi obstruída.
As ações em favor do crime como se vê agora, desmantelam a luta anticorrupção num momento em que o país está preocupado e consternado com a tragédia do RS. Tentam apagar a história recente do país anulando os processos que condenaram corruptos e corruptores.
Os cúmplices da bandidagem precisam saber que a anulação das sentenças de primeira e segunda instâncias não apagam os fatos, não escondem a verdade histórica. Os fatos e a História não podem ser anulados, pois não pertencem aos autos, pertencem ao mundo.
A única coisa está esclarecida é que o STF transmite uma percepção negativa da Justiça, e os que argumentam em seu favor mentem, escondendo que quem destruiu as empresas foi a corrupção lulopetista e não a caça aos criminosos procedida legalmente pela PF, MPF e juízes de primeira instância.
As investigações feitas, buscas e apreensões, apuraram casos gravíssimos de corrupção, de forma conjunta em vários órgãos de governo e empresas estatais. “Destampou a panela de pressão” que cozinhou a roubalheira, mas o ministro Dias Toffoli não provou o ensopado, nem experimentou o tempero da realidade flagrante.
Convicto da lealdade aos corruptos, anulou com canetadas atos da Lava Jato contra Marcelo Odebrecht, réu confesso, delator, colaborador premiado; e cometeu esta barbaridade sob o silêncio cúmplices dos seus pares.
Este cidadão, que chegou à Corte apenas por ter sido advogado do Partido dos Trabalhadores, colaborou com a empresa corruptora e o seu titular que lhe pagaram propinas revelando por E-mail o seu codinome: “Amigo do amigo do meu pai”.
Neste triste neste cenário vê-se a omissão dos demais membros do Supremo, que deveriam zelar pela Constituição e não reescrever a história da Lava Jato. Fazendo-o, colocam-se a serviço dos políticos desonestos.
Entretanto, pela propaganda massiva, convencem pessoas que se afirmam honestas e patriotas e defensoras do Direito. É o tipo de gente que emprenha de olhos fixos na televisão vendida e a imprensa cínica. Foi dela que o pessimista Mark Twain se referiu dizendo que “quatro quintos da humanidade representam a estupidez do gênero humano”, e com isto nos leva à cobrança.
Como verbete dicionarizado, “Cobrança” é um substantivo feminino de etimologia latina, do verbo recuperare, relacionado com recipere significando “tomar, pegar”. Cobrar é exigir o pagamento de uma dívida; é o que faço cobrando do Congresso medidas que impeçam a continuidade dos atos jurídicos em favor do crime.
A cobrança se faz exigindo uma obrigação a tudo que é exigido pela consciência nacional e à legislação vigente no Estado de Direito. Aos religiosos, lembro que a cobrança é santa, como viu Jesus a um cobrador de impostos, Mateus, considerado um traidor pelo seu povo.
Mateus foi assistir uma prédica de Jesus que o chamou e disse: — “Venha comigo”; e assim aconteceu, ele passou a seguir o Mestre e em vez de exigir o pagamento de tributos para o Estado, passou a cobrar Justiça. Tornou-se um dos doze apóstolos.
O apostolado dos dias de hoje, diante de tanto mal, de delinquências de toda ordem, do favoritismo, dos privilégios e da violência, obriga-se a fazer cobranças para trazer de volta a Justiça boa e perfeita, e não um tribunal que sentencie a morte da verdade.
Para diversão, o dicionário também traz a “cobrança” na gíria futebolista: é cobrar um escanteio ou bater um pênalti. Torço para que a nossa cobrança no campo da política faça um gol para a vitória da política pública anticorrupção.
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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