Por Ricardo Cravo Albin –
Volto ao assunto abaixo para atender a inúmeros pedidos e inquietações de leitores.
As contradições no Brasil andam mesmo em alta. Enquanto o governo celebra a redução do desmatamento na Amazônia, a devastação no Cerrado atinge picos gravíssimos. Na Amazônia, a queda foi de 11% de 2020 para 2021. Já no Cerrado os índices não param de subir e os dados parciais indicam que em 2023 a devastação invadiu o bioma do Cerrado. A lei de preservação do Código Florestal (sancionado em 2012) determina que as propriedades rurais no Cerrado tenham até 20% de seu território protegido. O limite sobe para 35% em áreas próximas à Amazônia Legal.
Ora, já seria até pouco. Mas ainda assim os índices disparam vergonhosamente. Mesmo a lei determinando que se o imóvel for no bioma amazônico a proteção obrigatoriamente fixa até 80% de proteção. O que não vem sendo cumprido, a partir de suspeitíssimos acordos políticos em projetos para o agronegócio. Diz nossa estimada Marina Silva que este projeto de ocupação indevida do precioso bioma do cerrado dentro da Amazônia existe porque a burrice dos predadores entende que é preciso devastar porque é preciso plantar. Ou seja, a lógica econômica do começo do século XX ainda predomina, o importante é plantar para colher.
E todos nós sabemos que há vários tipos de instrumentos hoje em dia não aplicados no Cerrado, como a moratória da soja, além de leis internacionais. Há até a proibição, atentem bem para a gravidade da devastação, pela União Europeia de importação de itens derivados de matas devastadas, mas só para a Amazônia. Metade do desmatamento insensato do Cerrado ocorreria em áreas privadas, em especial no Maranhão, logo seguidas por Tocantins, Piauí e Bahia. Esses quatro estados detém mais de 5.600 Km², ou 77%, de toda área de desmatamento no bioma desde novembro de 2022. Meu Deus… Especialistas exigem que o governo Federal deveria sanar as brechas que permitem a devastação. E recomendam ao governo a urgente validação dos contratos ambientais rurais, que garante a regularização fundiária e, sobretudo, atenção para o detalhe de ESSÊNCIA, a recuperação ambiental para o produtor rural. Até o ano passado somente 0,4% haviam sido validados, o que – é claro como água – atrasa os reflorestamentos obrigatórios. Favorece esse desvio grande o fato de que muitas autorizações para supressão de vegetação, dadas por órgãos estaduais, simplesmente não são avisadas ao sistema federal. Ou seja, quanto mais encobrimentos de interesses privados, mais a devastação dos biomas protegidos aumenta.
O governo tem que acordar da sua sonolência. Sob pena de acusações mundiais em defesa do meio ambiente no Brasil, por parte de vários países. O governo de Lula será acusado naquilo que ele apregoa pelos foros internacionais: defender e preservar a natureza, jamais compactuar com interesses privativos de uns poucos para o prejuízo de muitos, e do próprio país. O governo segundo especialistas, ainda não conseguiu deter o desmatamento ilegal. Até parece para observadores mais agudos que o “vale tudo” do governo Bolsonaro no Cerrado continua a todo vapor.
Todos concordam que a priorização da Amazônia no governo Federal é evidente. Mas os devastadores são muito mais espertos que governos mais ingênuos.
Difícil para nós, observadores externos que habitualmente defendemos a natureza, entendermos porque toda a rigorosa defesa já existente para a Amazônia não se aplica ao Cerrado.
E claríssimo que todos entendemos muitíssimo bem que o mundo tem os olhos voltados para a Floresta Amazônica, para a Grande Mata Verde. O problema é, senhores administradores, que a natureza funciona em regime de absoluta ligação, ela se interliga. E se vivifica desde que os biomas irmãos fronteiriços, limítrofes, sejam protegidos também.
O Cerrado pede socorro agora e já. Ele, desprotegido, propicia a inviabilidade do conjunto.
O nosso Cerrado, atentem os ignorantes de plantão, é o berço da maioria das bacias hidrográficas brasileiras. O Cerrado abriga uma savana que abriga 5% da biodiversidade ambiental. No Cerrado vivem mais de 25 milhões de pessoas, inclusive quase 100 povos indígenas.
Esse calorão inesperado que nos atingiu particularmente no Brasil tem a ver com os crimes contra o Cerrado. Sim, pode apostar. Como já escrevi acima, os biomas são interligados entre si. Assim serão também as consequências da violação da Mãe Natureza.
Tudo se comunica com tudo. Cabe a nós acordarmos!!
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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