Por Luiz Carlos Prestes Filho

Ninguém no mundo tinha se organizado para enfrentar o isolamento social, mas todos tiveram que lidar com esta realidade quando ela se apresentou, conta Camila Soares, Gestora Executiva do Grêmio Recreativo Escola de Samba Mirim Pimpolhos da Grande Rio. Ela reconhece que, de uma hora para outra, as mídias digitais deixaram de ser atividades periféricas e passaram a ser fundamentais para agregar, comunicar e trabalhar: “Todas as nossas oficinas, que eram presenciais, viraram on-line. Agora elas acontecem de domingo a domingo, às 16h, oferecendo cursos no campo da arte, educação, teatro e dança. Toda quarta-feira, às 14h, realizamos aquela que é de produção e criação de carnaval. Claro que a diretoria da escola e os professores tiveram que estudar para se adaptar a nova linguagem. Mas hoje, depois de quatro meses, já estamos no processo de aprimoramento no uso dessas ferramentas e com o firme propósito de transformar nossos novos produtos e serviços virtuais em produtos e serviços profissionais”.

O formato do projeto CARNAVAL EXPERIENCE, voltado para turistas que desejam conhecer a produção e a realização do Carnaval brasileiro, com visitas guiadas pelo barracão da escola mãe, GRES Acadêmicos do Grande Rio, também mudou: “O tur on-line, por exemplo, já pode ser visto na plataforma sympla, ele é aberto. Mas estamos estudando a viabilidade econômica da transformação de atividades presenciais para virtuais. Inclusive, buscamos o mercado internacional, dialogando com clientes interessados da iniciativa privada”.

Apesar de ver seus projetos zerados, por conta da pandemia, Camila Soares destaca que não desistiu de nenhum deles. O momento é o de buscar a redução de gastos e a reformatação das atividades tradicionais: “Regularmente realizamos o exercício de previsão de cenários econômicos que podem interferir no nosso planejamento estratégico. Tanto a curto, médio como a longo prazo. Por isso, nas reuniões que realizamos de equipe – cada um na sua casa, obviamente – nos debruçamos sobre como será a volta para o mundo físico. Neste sentido, queremos aprimorar os padrões de segurança. A Pimpolhos que sempre buscou a autossuficiência financeira, tem hoje uma visão otimizada do orçamento disponível. Isso ajuda. Com segurança vamos atravessar a situação que se apresenta, chegaremos bem até o final de 2021. Mas não paramos, vamos descobrir novas fontes de recursos”.

A Pimpolhos da Grande Rio é uma das 16 escolas de samba que desfila no Sambódromo toda terça-feira de carnaval. Momento quando finaliza e comemora mais um ano de realização de projetos sociais, culturais, educacionais e esportivos, voltados para crianças e adolescentes: “Existe uma incerteza sobre o carnaval de 2021, não sabemos o que vai acontecer. Estamos criando os protótipos das fantasias do enredo “O Pequeno Príncipe Preto”. Esse tema, bem atual por conta do levante mundial contra o racismo, já tínhamos escolhido antes do carnaval de 2020. Pela internet conversamos todos os dias e uma vez por semana nos reunimos no barracão, de máscaras e sem provocar aglomeração. As costureiras, as bordadeiras e o carnavalesco trabalham em casa. No barracão conferimos se conseguimos acertar. O software audaces, muito usado na indústria têxtil, nos permite a criar todas as modelagens, também definir o cálculo da quantidade de material a ser usado. Mas não vamos entrar no processo de reprodução das fantasias antes da definição dos órgãos públicos competentes sobre o Carnaval de 2021. Ainda não começamos o processo de composição do samba. Dependendo da situação, decidimos entre o presencial e virtual”.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).