Por Sérgio Vieira –

Portugal / Europa – Séc. XXI.

Com os passar dos anos, é normal que as nossas memórias se esvaiam e a gente vá ficando…digamos assim… distantes da nossa cultura. No meu caso, da cultura brasileira.

Os já (e tantos !) 37 anos de Portugal, me fazem estar mais a par das coisas, da cultura, do futebol (àaaaaa meu Fluminense!), da música, dos acontecimentos e da vida portuguesa do que propriamente a do Brasil.

Mas nunca esqueço da minha vida no Rio de Janeiro, vivida intensamente, e a cada minuto. Mas existem momentos em que mesmo distante milhares de kms. vem à tona sentimentos que pareciam já esquecidos na penumbra da memória.

Este último dia 15 de setembro, tive um momento (vários) em que me transportei mentalmente às minhas melhores noites brasileiras. Tive aqui há uns meses atrás o convite feito pero meu filho, Leonardo, para irmos assistir a um espetáculo do nosso querido e talentoso Caetano Veloso. Sim, foi a uns meses atrás. Porque o show já a uns meses atrás estava praticamente lotado, e tivemos, por isso que junto com amigos dividir um camarote no Coliseu do Porto. Éramos 6 pessoas à espera do que seria a última digressão de Caetano fora do Brasil.

Caetano, com a provecta idade de 81 anos, desfilou ao longo de quase duas horas, o seu longo e conhecido repertório. INCRÍVEL!

Todas as milhares de pessoas que literalmente inundavam o Coliseu, cantavam em uníssono com Caetano, as canções de mais de 5 décadas de carreira. Foram momentos mágicos e irrepetíveis. Caetano, todo de branco da cabeça aos pés, trajava um discreto terno de linho, e que após as primeiras canções se despojou do casaco, atirando-o simplesmente ao chão como se estivesse se desnudando ao público para mostrar que estava ali de corpo inteiro. E seguiu arriscando aqui e ali uns passinhos de samba, e a que o público respondia com palmas, sempre muitas palmas.

Eu por minha vez, permaneci todo o espetáculo em pé, porque o nosso camarote não permitia uma total visibilidade do palco. Enfim, Caetano, cantou, dançou, brincou e contou estórias. Confesso que já não me sentia em terras brasileiras, assim, há muito tempo.

Caetano, contou ainda com a “canja” da fadista portuguesa Carminho, que veio dar à festa um gostinho de portugalidade. Carminho, visivelmente emocionada, desfiou dois ou três fados de autoria de Caetano. Momento de rara beleza da simbiose Luso-Brasileira.

Durante o espetáculo, foram vários os momentos que fiquei com “pele de galinha”, arrepiado, pois Caetano exercia em mim o poder mágico de me transportar a um Brasil dos bons tempos!

Caetano, voltou ao palco três vezes para o encore. E depois apontou para o relógio a mostrar que as horas já iam altas. Não nos restava senão o sabor dos momentos passados.

Final de concerto, e os inevitáveis comentários, aqui e ali. Entre nós, aflorava o sentimento de recompensa pelo preço elevado cobrado pelos bilhetes. Caetano, tinha conseguido com seu talento e carisma, fazer-nos esquecer desse “senão”.

Valeu. Concerto a não esquecer.

Às portas do Coliseu do Porto, parece que já anunciavam um show de Gilberto Gil. Outro “monstro” de quem não esqueço e que ouço frequentemente através das várias plataformas de som a que hoje temos acesso. Pois é. Nós que optamos por fazer vida fora do Brasil, caímos às vezes na preguiça de (re)lembrarmos tudo de bom que deixamos para trás nessa terra maravilhosa, nesse país fantástico e cheio de contrastes. Vou, ou vamos, seguindo por aqui firmes e fortes. Dia após dia. Tendo Portugal como esta pátria fantástica que nos acolhe, sem perder a nossa brasilidade. E assim seguimos até ao próximo show, peça teatral, ou por outra manifestação cultural que nos faça sentir mais pertinho da pátria de Ceci e Peri!

Temos aqui em Portugal um canal de TV que nos aproxima do mundo do futebol brasileiro. Estou seguindo com alguma assiduidade o Brasileirão/Assaí (mas que raio de patrocinador arranjaram! Não sabia que a indústria do assaí dava assim tanto dinheiro, mas enfim…)

Fico por aqui, desejando a todos os leitores, uma feliz entrada na primavera brasileira. Nós por aqui estamos na ressaca de um verão que vai dando o seu adeus.

Vem aí o outono… mas, sem dar spoiler, fica aqui a dica da minha próxima coluna.

Fiquem bem, e sejam felizes.

“Eu sou a sereia que dança, destemida Iara, água e folha da amazônia…”
Caetano Emanuel Viana Teles Veloso (de 07.08.1942 até hoje. Valeu bicho !)

SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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