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Cada carbono conta – por José Carlos Meira Mattos
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Cada carbono conta – por José Carlos Meira Mattos

Por José Carlos Meira Mattos

Fernando Borensztein é diretor de Novos Negócios e Sustentabilidade da OceanPact, uma empresa criada para atuar dentro dos compromissos do Global Compact e dos ODS da ONU, mais especificamente do Objetivo de Sustentabilidade 14 que trata da vida abaixo da água, e, explica Borenzstein, é totalmente alinhado com a missão da OceanPact. Este DNA de sustentabilidade vem se provando um asset da companhia que apresentou um EBITDA de mais de R$ 500 milhões em 2023.

Dona de uma frota de 26 embarcações capazes de atuar em qualquer área marítima de exploração de petróleo, com instalações próprias em diversos portos brasileiros, laboratórios de pesquisa própria, a OceanPact é uma empresa de infraestrutura cujo sucesso reafirma a declaração de Johannes Hahn, comissário europeu de Orçamento e Administração, ora em visita ao Brasil, que diz “que o planeta precisa ser salvo, mas o exercício de persuasão não pode prescindir do básico: (ser sustentável) dá lucro, dá emprego, dá segurança”.

Nesta conversa, Fernando fala sobre o que é ser diretor de novos negócios e sustentabilidade, uma função em si já reveladora da força da sustentabilidade no dia a dia da OceanPact, de como ele enxerga o setor de sustentabilidade nas esferas públicas e privadas no Brasil, e da luta para descarbonizar grandes operações empresariais.

Fernando, você diria que já há um clima de negócios no mundo onde cabem as empresas orientadas por propósito, onde a sustentabilidade, a criação de valor para a sociedade e o meio ambiente seria o fim último e não um meio para alcançar suas metas?

Sim, há um crescente clima de negócios onde empresas orientadas por propósito estão se destacando. A sustentabilidade e a criação de valor para a sociedade estão se tornando prioridades, tanto para os consumidores quanto para os investidores. Muitas organizações reconhecem que adotar práticas sustentáveis não é apenas ético, mas também uma estratégia eficaz para o longo prazo. Isso reflete uma mudança de mentalidade, onde o sucesso não é medido apenas pelo lucro, mas também pelo impacto positivo que podem gerar. No entanto, ainda há um caminho a percorrer para que essa abordagem se torne a norma em todos os setores.

Fernando, a sua declaração de que “cada carbono conta” repercutiu bastante no Global Ocean Day. Como isto se reflete nas atividades da OceanPact?

Eu declarei que “cada carbono conta” com a consciência de que não apenas cada carbono faz diferença, mas também que o tempo está correndo contra nós. De acordo com os últimos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), estamos nos direcionando para um mundo de impactos climáticos extremos e irreversíveis, caso não haja uma ação imediata.

Cada carbono conta nesta corrida para a transição energética. A OceanPact, com uma frota ativa de 26 embarcações de apoio a atividades offshore, enfrenta o grande desafio do consumo de combustível, uma questão crítica para nós e para todo o setor, onde as emissões são particularmente difíceis de reduzir devido a barreiras tecnológicas e econômicas.

Nosso grupo de trabalho de descarbonização atua em três frentes para enfrentar esse desafio:

1. Eficiência energética das embarcações: Estamos analisando, testando e implementando tecnologias que visam otimizar a hidrodinâmica dos barcos, melhorar o planejamento das rotas e limitar a velocidade, tudo com o objetivo de aumentar a eficiência das nossas operações e reduzir o consumo de combustível.

2. Conversão para combustíveis alternativos: Este é o centro do nosso desafio, pois vai além de esforços isolados. É necessário um esforço institucional conjunto entre operadores, autoridades públicas e reguladores, além de investimentos em PD&I e infraestruturas para construir uma nova cadeia de valor. Por isso, estamos ativos em grupos como o Grupo de Trabalho de Negócios Oceânicos da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, e desenvolvendo parcerias com comunidades científicas.

3. Transformação das operações: Estamos apostando na digitalização e automação de nossas atividades, implementando soluções inovadoras que, além de reduzir impactos ambientais, garantem que mantemos nosso compromisso com a qualidade.

Fernando, você é diretor de Novos Negócios e Sustentabilidade. É um cargo desta nova economia. Como você combina novos negócios e sustentabilidade?

Na minha função de Diretor de Novos Negócios e Sustentabilidade, combino esses dois elementos de maneira estratégica para maximizar o impacto positivo e gerar valor.

Na OceanPact, a sustentabilidade não é tratada como uma obrigação isolada, mas sim como um pilar estratégico que impulsiona a criação de novos negócios. Nosso foco é desenvolver soluções inovadoras que tragam benefícios tanto financeiros quanto socioambientais.

Em um artigo publicado recentemente na revista TN Tecnologias e Negócios, as duas gerentes da área explicam como essa combinação permite que sustentabilidade e negócios trabalhem juntos de forma sinérgica, criando valor de longo prazo. As duas áreas são vistas como interdependentes, e essa proximidade facilita a colaboração e a inovação. Um exemplo é o desenvolvimento de projetos que restauram ecossistemas marinhos, como manguezais, e que também oferecem benefícios econômicos, como o sequestro de carbono e a geração de renda para comunidades locais.

Essa abordagem nos ajuda a enxergar os riscos ESG (ambientais, sociais e de governança) não como obstáculos, mas como oportunidades para novos modelos de negócio. Essa visão é o que nos diferencia, pois estamos criando uma cultura corporativa que reflete nosso compromisso com a sustentabilidade e a inovação.

A OceanPact tem alguma restrição a clientes que não estão dispostos a adaptarem suas rotinas aos princípios ambientais, sociais e de governança da Economia Azul Sustentável?

Trabalhamos com clientes de grande porte, onde as questões de sustentabilidade e de transformação são fundamentais, especialmente no setor de O&G. Embora não tenhamos exclusão de setor, como uma empresa de capital aberto, seguimos um processo de compliance rigoroso, que pode resultar na exclusão de empresas que não respeitam nossos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG).

Nossos clientes enfrentam desafios que são também os desafios da sociedade. Embora esses desafios sejam de grande complexidade, uma vez abordados de maneira adequada, eles têm a escala para gerar impactos positivos significativos.

Você tem representado a OceanPact em vários eventos importantes sobre clima e sustentabilidade no Brasil e em vários países. Como você ranquearia o Brasil em relação às outras nações? Podemos dizer que as nossas empresas estão caminhando na direção certa quando se trata de sustentabilidade?

O Brasil é um país jovem, que se beneficia e, ao mesmo tempo, enfrenta desafios relacionados à sustentabilidade.

O país tem o desafio de continuar se desenvolvendo, enquanto cerca de 24% da população vive abaixo da linha da pobreza e 4 % enfrentam insegurança alimentar grave. Ao mesmo tempo, o país precisa cumprir seus compromissos de redução de gases de efeito estufa (GHG) sob o Acordo de Paris, em um contexto de crescente urgência frente às realidades climáticas.

Ele também se beneficia de ter um dos mix energéticos mais renováveis do mundo, com uma alta proporção de hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa. No entanto, ainda está entre os 20 maiores emissores globais, principalmente devido ao desmatamento e à mudança no uso da terra.

Então, é crucial valorizar a riqueza dos nossos ecossistemas, promovendo Soluções Baseadas na Natureza (SbN), pois o Brasil tem o potencial de decidir entre continuar desmatando e degradando ou usar seu vasto patrimônio natural para repensar e reconstruir o relacionamento com a natureza. O país tem a capacidade de responder por mais de 25% do mercado global de soluções baseadas na natureza e créditos de carbono, se adotar medidas robustas de conservação e restauração de suas florestas e outros ecossistemas.

Estamos observando um interesse crescente de nossos clientes em investir em Soluções Baseadas na Natureza (NbS), não apenas para enfrentar o desafio das emissões de carbono, mas também para abordar o colapso da biodiversidade e a perda de serviços ecossistêmicos. Esse tipo de abordagem, que une restauração ambiental com benefícios sociais e econômicos, tem atraído atenção devido ao seu potencial de gerar impactos positivos em diversas frentes.

A iniciativa de levar ao mundo empresarial a necessidade de adaptar as empresas às necessidades éticas, sustentáveis, ambientais e de governança para conseguirmos um desenvolvimento sadio tomou forma na ONU que é um órgão político, não é econômico e muito menos privado. Em todo o mundo vemos esta dobradinha governo e iniciativa privada quando se trata deste tema. Como vai esta dobradinha aqui no Brasil? Ela está funcionando bem?

No Brasil, a parceria entre governo e iniciativa privada em questões de sustentabilidade e governança está em evolução, mas ainda enfrenta desafios. A implementação de políticas públicas que incentivem práticas sustentáveis tem avançado, com iniciativas como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU sendo cada vez mais incorporados nas agendas governamentais.

O Brasil possui leis robustas sobre proteção ambiental, e há esforços para garantir que as empresas sigam essas diretrizes. Além disso, há diversas iniciativas de parceria, programas como o Pacto Global da ONU e a Rede Brasil do Pacto Global que promovem a colaboração entre empresas e governo em práticas sustentáveis. Por fim, cabe destacar o apoio a inovações, ou seja, incentivos para empresas que investem em tecnologias limpas e sustentáveis, além de programas de financiamento voltados para o desenvolvimento sustentável.

Por outro lado, o Brasil padece de descontinuidade de políticas, falta de conscientização empresarial e de transparência, problemas esses que afetam a eficácia das parcerias e a implementação de políticas públicas.

A dobradinha entre governo e iniciativa privada no Brasil tem potencial, mas para funcionar de maneira mais eficaz, é fundamental que haja um compromisso contínuo, transparência e engajamento de todos os setores da sociedade.

JOSÉ CARLOS MEIRA MATTOS é Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mestre em Comunicação de Massas pela New School for Social Research, Nova York; representante do Grupo Peixoto de Castro no SINDICOM – Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis, Sócio Diretor da Ketchum-JCM Comunicação.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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