Redação

Em mais um gesto de aproximação do Palácio do Planalto com o Centrão, o presidente Jair Bolsonaro vai entregar o comando do Banco do Nordeste (BNB) para um nome indicado pelo Partido Liberal (PL), sigla liderada pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no mensalão.

No lugar do atual presidente do banco, Romildo Rolim, assumirá Alexandre Borges Cabral, que já foi presidente da Casa da Moeda entre julho de 2016 e junho de 2019 por indicação de outra legenda do bloco, o PTB.

ACENO –  A troca é vista como uma nova sinalização da disposição de Bolsonaro em sedimentar a aliança com os partidos do Centrão e construir uma base aliada no Congresso Nacional na tentativa de barrar um eventual processo de impeachment.

Por outro lado, a decisão contraria declaração do próprio presidente, que na quinta-feira passada, dia 28, admitiu a negociação de cargos em segundo e terceiro escalão para obter apoio político, mas negou a existência de qualquer tratativa para entrega de ministérios, bancos públicos ou empresas estatais. “Em nenhum momento nós oferecemos ou eles pediram ministérios, estatais ou bancos oficiais”, disse o presidente durante transmissão nas redes sociais.

INTERFERÊNCIA – A indicação mostra ainda que Bolsonaro levou a cabo a declaração dada na reunião ministerial de 22 de abril de que pode “interferir em todos os ministérios” e não poupou sequer o superministro Paulo Guedes de atender aos pedidos dos parlamentares e ceder à “velha política”.

No início do governo, Guedes chegou a defender em reuniões privadas a fusão do BNB com o BNDES, possibilidade que caiu mal na bancada nordestina, uma das mais expressivas no Congresso Nacional, com 151 deputados e 27 senadores. O BNB é vinculado ao Ministério da Economia.

“Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir”, disse o presidente na polêmica reunião, ressaltando que nunca havia tido problemas com o ministro. Bolsonaro também já deu declarações públicas de que “implodiu” o Inmetro, outro órgão vinculado à Economia, alegando que a autarquia estaria elaborando regras de qualidade que onerariam o bolso de caminhoneiros e taxistas, classes com grande número de apoiadores do governo.

ATIVO VALIOSO – O Banco do Nordeste é um ativo político valioso, devido à sua forte presença junto a empresas, produtores rurais e pequenos empreendedores na região – a única onde Bolsonaro perdeu as eleições de 2018 para o candidato do PT, Fernando Haddad. A instituição também participa em financiamentos à infraestrutura, incluindo expansão de aeroportos em capitais nordestinas concedidos à iniciativa privada.

No ano passado, o banco desembolsou R$ 42,16 bilhões em mais de 5,3 milhões de operações. Para se ter uma ideia, o valor é 74,4% do total desembolsado em 2019 pelo BNDES, banco de desenvolvimento que opera em todo o Brasil.

O BNB também é o responsável por operacionalizar recursos bilionários do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE). Em abril, o governo lançou uma linha de crédito com juros subsidiados para socorrer microempreendedores e trabalhadores informais com recursos dos fundos constitucionais. O BNB ficou com a operação de R$ 3 bilhões de um total de R$ 6 bilhões disponibilizados para o programa.

ANÚNCIO – A indicação de Cabral deve ser anunciada oficialmente nesta segunda-feira, dia 1º. Com a posse do novo presidente, a expectativa é que ao menos três diretorias do banco também sejam loteadas com indicações políticas. Entre os diretores que devem ser substituídos estão o de Administração, Cláudio Freire Lima, e o de Planejamento, Perpétuo Cajazeiras, ambos funcionários de carreira do banco. O novo diretor de Administração deve ser Haroldo Lima.

Cabral é funcionário de carreira do BNB, onde ocupou diversos cargos como gerente, superintendente e assessor executivo da Presidência. Ele também atuou como coordenador na Secretaria de Turismo do Ceará entre 2004 e 2007.

AVALISTA – Segundo apurou o Estadão, as indicações para os cargos no Banco no Nordeste partiram do deputado Júnior Mano (PL), eleito pelo Ceará, Estado onde fica a sede do banco. A reportagem não conseguiu fazer contato com o parlamentar. As nomeações foram avalizadas pelo líder do PL na Câmara, deputado Wellington Roberto (PB).

Outras indicações feitas pelos partidos do Centrão devem ser concretizadas ao longo do mês de junho, entre elas a nomeação de Marcelo Lopes da Ponte, chefe de gabinete de Ciro Nogueira (PP-PI), para o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O fundo é alvo de cobiça do bloco por ter um orçamento significativo (R$ 29,4 bilhões neste ano) e atuar em todo o País.


Fonte: Estadão