Por Pedro do Coutto –
Excelente reportagem de Matheus Vargas, Folha de S. Paulo desta quarta-feira, focaliza o encontro entre o ministro Alexandre de Moraes e o general Paulo Sérgio Nogueira, quando o presidente do TSE aceitou a ideia do ministro da Defesa, aprovando a ideia do uso da biometria num grupo de urnas para um teste de amostragem no dia da eleição.
O ministro Alexandre de Moraes, a meu ver, agiu certo e a sua decisão foi acompanhada pelo Tribunal, sobretudo porque desarmou os argumentos restritivos que setores militares estavam endossando a respeito de uma imaginária vulnerabilidade das urnas e dos votos no dia 2 de outubro. O TSE determinou que até 64 urnas das 640 que serão auditadas pelo Exército devem usar a biometria dos eleitores e eleitoras.
SEM OBRIGATORIEDADE – A biometria, digo, se aplica aos jovens que começarão a votar e também aos que por motivos diversos estão trocando os seus títulos. Mas não é obrigatória para os que votam há várias décadas, como é o meu caso. Mas essa é outra questão.
O essencial é que a biometria identifica a autenticidade de quem vota. Mas não possui nenhum vínculo com a recepção dos sufrágios pelas urnas eletrônicas ou mesmo com a computação dos votos do pleito. O ministro Alexandre de Moraes divulgou nota sobre o último encontro com o general Paulo Sérgio Nogueira reafirmando que haverá divulgação dos boletins de urnas por parte do TSE para quem quiser fazer a conferência e a totalização dos resultados.
Portanto, o acompanhamento, que pode representar a auditagem sobre os resultados, encontra-se à disposição do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Poderá também haver um projeto piloto complementar sobre a integridade das urnas, ideia igualmente defendida pelos militares.
DESISTÊNCIA – Tenho a impressão de que ao recorrer à biometria, que é inócua no caso, o general Paulo Sérgio Nogueira sinalizou a desistência da iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de encontrar argumentos para contestar a vontade popular nas eleições deste ano.
Na mesma edição da FSP, César Feitosa destaca que as Forças Armadas se preparam para pela primeira vez fazer conferência da contagem dos votos nas urnas eletrônicas. Essa checagem pode ser feita sem problemas por qualquer entidade pública qualificada. Assim, recorrendo ao título de filme famoso, “Sem novidade no front”.
LEGADO DE PAULO GUEDES – Cássia Almeida e Martha Imenes publicaram uma ótima reportagem no Caderno de Economia do O Globo de ontem sobre a presença do fantasma da fome em 37% dos domicílios brasileiros cujas famílias têm crianças.
O tormento, a meu ver, consequência da política de concentração de renda do ministro Paulo Guedes e adotada sem análise pelo presidente Jair Bolsonaro, apresenta reflexos dramáticos, constatados pela Rede Pensam que reúne o Instituto Vox Populi, a Ação da Cidadania, o Oxfam e o Actionaid, grupo de entidades que estudam a fome no Brasil.
O Maranhão é o estado em que o índice de fome é o mais alarmante. No Rio de Janeiro o índice é de 15%, o que é muito alto tomando-se por base a população carioca e fluminense. Essa informação, na verdade, colide com os dados recentes do IBGE, instituto governamental que encontrou deflação nos meses de julho e agosto.
PEÇA DE FICÇÃO – O orçamento federal continua através do tempo a ser uma peça de ficção. Guilherme Caetano, Ivan-Martinez Vargas e Malu Mões, em reportagem publicada no O Globo de quarta-feira, focalizam as posições dos assessores econômicos de Lula, Simone Tebet e Ciro Gomes a respeito do orçamento. Todos são favoráveis à mudança da Lei Orçamentária, mas divergem sobre a questão do teto.
Na minha opinião o orçamento atravessa as décadas e permanece como uma peça de ficção. Exemplifico. Como são consignadas as despesas com o pagamento de juros mensais à base da taxa Selic (13,75% ao ano) sobre o total da dívida brasileira que segundo o Banco Central encontra-se na escala de R$ 5, 8 trilhões ? Não há registro e a mim parece que trata-se de um cálculo secreto.
Verifica-se que através dos tempos, estabeleceu-se a farsa do superávit primário. Escapismo total. O superávit primário quando ocorre é uma consequência da captação de impostos em confronto com as despesas. Mas exceto o valor dos juros pela rolagem da dívida interna, que como consequência de 13,75% ao ano sobre R$ 5,8 trilhões, oscilam em cerca de R$ 700 bilhões a cada 12 meses. Como são contabilizados esses valores?
ESTRATÉGIA – Jussara Soares e Alice Cravo, O Globo, revelam que a assessoria de Jair Bolsonaro empenha-se para amenizar seus discursos e suas afirmações em busca do tempo e dos votos perdidos, consequência de seu posicionamento agressivo e hostil aos jornalistas.
Os fatos comprovam a preocupação que está crescendo na medida em que se aproximam as urnas de 2 de outubro. A preocupação cresceu depois da divulgação da pesquisa do Ipec na última segunda-feira. Hoje, quinta-feira, está prevista a pesquisa do Datafolha contratada pelo O Globo e pela Folha de S. Paulo.
Os números têm batido nas duas pesquisas. Para o Ipec a diferença em favor de Lula é de 46% a 31% das intenções de voto. Para o Datafolha a diferença era de 44% a 32%. Como se verifica, a proximidade entre os números é superior a 90% de convergência. Vejamos o que revelam os números de hoje do Datafolha e os comentários dos integrantes do programa de Natuza Nery na GloboNews.
Pedro do Coutto é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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