Por Sérgio Vieira –
Portugal / Europa – Séc. XXI.
O advento da criação das Cidades Europeias da Cultura, remonta ao ano de 1985, com a então, Comissão Europeia, sendo Rotterdam a primeira dessa longa lista, que neste momento já conta com 62 cidades até hoje escolhidas, sendo considerado o maior evento cultural da europa.
Entre as capitais escolhidas até hoje, podemos referir (apenas algumas) cidades como: Atenas, Estocolmo, Liverpool, Istambul, Florença, Amsterdam, Berlim, Paris, entre outras.
Portugal, por sua vez, já teve essa honrosa escolha com as cidades de: Lisboa/94, Porto/2001 e Guimarães/2012. Para 2027, Portugal volta a estar na rota da cultura europeia com a escolha da belíssima cidade de Évora (coração do Alentejo). Évora dividirá com a cidade de Liepaja (Letônia) esse importante espaço cultural.
Pois bem. Perguntar-me-ão, aonde fica Aveiro nisto tudo? Tudo bem: Respondo: Com a perda da escolha para Évora como capital europeia, Aveiro, por decisão do Ministério da Cultura Português, foi eleita como a primeira Capital Portuguesa da Cultura.
Falemos, então, sobre esta cidade que em 1986 escolhi como minha.
Alguns dados sobre Aveiro.
Aveiro está situada na costa oeste portuguesa e distingue-se pelos seus canais navegáveis e é conhecida como a Veneza portuguesa. É considerada a capital da Art Nouveau em Portugal. Com uma área de 2.798 Kms2, possui, conforme o último Senso, em todo o Distrito, uma população de 700.900 habitantes. Sendo a sua densidade demográfica de cerca de 250 habitantes por Km2. Caracterizada pelo clima mediterrânico, Aveiro tem verões amenos e invernos também amenos e chuvosos. Para um melhor entendimento geográfico, Aveiro, dista cerca de: 76 Km do Porto, 61 de Coimbra e 253 da capital Lisboa. Sendo magnificamente servida por estradas e ferrovias para uma eventual ou quotidiana deslocação para qualquer parte de Portugal.
O slogan da cidade para este evento e para todo o ano de 2024, será: “ O Ano como palco. Um cenário infinito”.
Aveiro/2024 integra múltiplas tradições e uma imensa energia transformadora, contando para isso com os agentes públicos, privados e também da população. Mas para além dos frios dados estatísticos, Aveiro apresenta um mundo de coisas a descobrir: cultura, arte nova, museus, praias, excelente gastronomia (carnes e peixes), enfim…
Em Aveiro temos de tudo: Princesas que são Santas, céus coloridos por guarda-chuvas, bacalhau servido com música, ruas e vielas que servem de pequenos palcos para grandes músicas, e cavacas (espécie de biscoito duro, coberto com açúcar) que chovem do céu nos dias destinados às comemorações de S. Gonçalinho.
Do patrimônio da região da Ria de Aveiro, fazem parte, as ruas, os edifícios e as gentes. Aqui há caminhos para descobrir, museus e capelas para visitar, as casas e suas cores, o sotaque, os olhares e os sorrisos de quem sabe acolher.
A ria de Aveiro é também palco de muitos acontecimentos lúdicos e culturais. A mistura perfeita entre natureza e tradições fazem da região uma atração de múltiplas vivências, seja para quem a visita em lazer ou em trabalho. Seus teatros e salas de exposições enriquecem a oferta cultural. Sessões de literatura, workshops, conferências, seminários e apresentações musicais, são apenas algumas das muitas opções ao dispor de quem visita, mas também dos “nativos” da cidade.
Numa região rica em aventuras e com muito por descobrir, não é de estranhar que sejam muitos os lugares que valem a pena visitar.
A ria de Aveiro se formou no século XVI, como resultado de um recuo do mar e posteriormente, uma formação de cordões litorais que originaram uma laguna. Tem de extensão 45 km e de largura mais ou menos 11 Km. A ria divide a terra, isso serviu para agregar mais profundamente o povo, fazendo-o crescer e se desenvolver urbanamente, comercialmente, e, claro, humanamente. O mesmo se passou com a natureza.
A Aveiro deste século, é bem diferente daquela que encontrei em meados dos anos 80. Hoje, uma cidade urbanamente movimentada demais para a sua capacidade e característica pacífica. Os turistas vindos de todas as partes, basicamente no verão invadem Aveiro, e fazem dela uma cidade algo…direi, tumultuada. Isso, tumultuada. Mas o crescimento que a cidade sofre principalmente em termos turísticos, levou a que se fizessem obras de “ocasião”. Ver por exemplo, o enorme estádio de futebol construído de propósito para a Eurocopa 2004 (que custou milhões de euros e que se não me engano, lá só se jogaram duas partidas, e mesmo assim de importância menor) atualmente, serve ao clube da região (Beira-Mar) que depois de dias gloriosos na primeira divisão do futebol português, milita hoje, naquela que seria (por aproximação) a 4ª divisão. A principal artéria da cidade, a Av. Dr. Lourenço Peixinho, é hoje atravessada e literalmente “rasgada” por todas as ruas secundárias que nela desembocam, tornando praticamente impossível nela trafegar.
Sinais dos tempos…mas, Aveiro vai resistindo a tudo de mal que lhe fazem. É assim mesmo, vão os homens e ficam as (boas e más!) obras.
Vou continuar a ter amigos dentro e fora da urbe. Vou continuar a fazer os meus passeios (principalmente no verão) de moto, pelos seus inúmeros canais, com a Ria sempre a me acompanhar. Essa Ria que me enche a alma quando paro para tomar um belo cappuccino às suas margens.
Fica a sugestão para 2024 (e não só). Venham, venham usufruir em Aveiro, do estatuto de (primeira) cidade portuguesa da cultura, prometo que não vão se arrepender.
*Curiosidade: Caetano tem uma música dedicada a Aveiro, chama-se: “Menina da Ria”.
“Nas Rias de Aveiro, as salinas são como janelinhas quadradas caídas do céu” (anônimo)
SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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