Por Sérgio Cabral Filho –
Há muita precipitação nas interpretações que tenho ouvido, visto e lido sobre o resultado das urnas e o seu impacto nas eleições de 2026.
A eleição municipal raramente é contaminada pelo apoio de lideranças nacionais. O critério majoritário de decisão dos eleitores é a aprovação ou desaprovação da gestão municipal avaliada. As eleições municipais em todo o Brasil confirmaram essa regra. 2016 foi uma eleição atípica. Contaminada pelo clima de falsa moralidade da lava-jato, os eleitores absorveram critérios que os levaram a decisões difusas. Entre 2017 e 18, os veículos de comunicação e a mídia social esquentaram a pauta moralidade, estimulado pela “faxina” que Dilma impôs como tema prioritário no seu primeiro mandato 2011-2014 quando demitia ministros por “mau comportamento” aos borbotões e se iludiu com os percentuais de pesquisas efêmeras de popularidade. Vieram os mascarados fascistas chamados de blackblocs, artistas progressistas vestiram máscaras em suas redes sociais estimulando a quebradeira de 2013, ensaio das invasões bárbaras aos poderes da república da direita extrema no dia 8 de janeiro de 2023.
Veio o impeachment de Dilma, muita marcha com “Deus pela família”, em repetição às manifestações de 1964, as audiências da lava-jato em Curitiba e no Rio de Janeiro dispunham de blocos inteiros do jornalismo nobre nas tvs brasileiras. Os juízes Moro e Bretas já entregavam nas mãos da imprensa os pen-drives assim que acabavam as audiências. Muitas vezes privilegiando uma emissora em particular para o furo inicial com as imagens da inquisição realizada milhares de vezes por esses dois juízes e membros do ministério público. Juntos montaram uma estrutura paraestatal cujo sofisma era “força tarefa”.
Pois bem, os resultados majoritários das eleições de 2018 são assustadores.
Bem, graças a Deus e ao povo brasileiro, vivemos outra atmosfera no Brasil. Voltemos à avaliação do resultado eleitoral de 24 vis a vis 26. Dou meu testemunho. Nas eleições de 2008, venci na capital e em outras cidades do estado. Mas perdi em outras importantes. Daí que os palpiteiros vaticinaram uma reeleição difícil para o meu segundo mandato. Venci com 67% dos votos no primeiro turno. Fui o primeiro em todas as 92 cidades do estado.
Claro que o candidato a presidente da república ou a governador necessita de bases no seu estado e, no caso do presidente, em todo o Brasil. Na democracia a mobilização nas ruas é fundamental. Não há rede social que a substitua. E se o candidato dispuser de estrutura partidária e bons aliados, ajuda.
Mas há ondas que engolem as estruturas partidárias. Jânio Quadros em 1960 não tinha 1/5 da estrutura nacional do candidato Marechal Lott, apoiado pelo velho PSD de Amaral Peixoto, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, entre outras feras. Além da estrutura sindical e popular do velho PTB. Jânio venceu. Já havia sido novidade pelo seu estilo próprio que misturava um discurso moralista, mas com o charme de um homem erudito. Assim foi para prefeito e governador de São Paulo e, depois, para a presidência da república.
Fernando Collor surge na primeira eleição democrática do Brasil após 25 anos de golpe. Compete com nomes conhecidos e de forte histórico de boas votações e fortes estruturas partidárias como Lula, Brizola, Covas, Maluf, Ulysses, entre outros. Collor é um ex deputado federal e ex prefeito nomeado de Maceió. Entre 1987 e 1989 se tornou conhecido como “o caçador de marajás’ no estado de Alagoas. Bonito, eloquente, de família com tradições politicas em Alagoas e no Rio Grande do Sul, filhos com uma mulher de família tradicional do Rio e proprietário com seus irmãos da emissora repetidora da TV Globo em Alagoas. Mas não era levado a sério no início da campanha. Organizou uns partidecos na ocasião e saiu com seu exército de brancaleone pelo país. Venceu Lula no segundo turno.
Em 2018, após 4 anos em que a mídia jogou querosene na fogueira da lava-jato Curitiba e Rio, Jair Bolsonaro e Wilson Witzel saíram vitoriosos. Um ex militar e um ex juiz…
Bem, caros leitores, não acredite em vínculo direto entre as eleições municipais desse ano e as próximas de 2026. Até porque vivemos na época dos dois maiores líderes da esquerda e da direita de toda a história brasileira. Lula e Bolsonaro serão os principais atores de 2026 para a presidência da república, sendo ou não candidatos.
Os candidatos aos governos estaduais têm, a princípio, vantagem sobre os adversários se dispuserem de estrutura política nos município de seu estado. Que não precisa ser, necessariamente, do grupo majoritário na cidade. Já vi nos meus 44 anos de militância política eleições estaduais que surpreenderam tanto como a de Jânio, Collor e Bolsonaro.
Brizola em 1982 esmagou as estruturas do MDB e da rede de apoio partidário ao regime militar, além do chaguismo, o maior grupo politico de então, liderado pelo governador Chagas Freitas. Seu PDT tinha sido recém fundado com muito atraso, pois o General Golbery e a sobrinha de Vargas, Ivete, roubaram o PTB de Brizola. Com isso ele teve menos tempo para se estruturar que as demais novas organizações partidárias nascidas a partir de dezembro de 1979, com o fim do bipartidarismo, isto é, o fim do MDB, que era o estuário da oposição e a Arena, partido de apoio ao regime militar. Brizola venceu contra tudo e contra todos.
Daí, que volto a Ortega y Gasset: “o homem é o homem e suas circunstâncias”. Sugiro aos desejosos de cargos majoritários em 2026, seja para a presidência da república, governo estadual e senado (serão duas vagas por estado), que façam seus deveres de casa. Quais são?
Bem, aí é outra conversa.
SÉRGIO CABRAL FILHO – Jornalista e Consultor Político da Tribuna da Imprensa Livre.
Instagram @sergiocabral_filho
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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