Categorias

Tribuna da Imprensa Livre

Arthur Lira: de pato manco a lança-bombas – por Jeferson Miola
Jair Bolsonaro e Arthur Lira. (Foto: Reprodução)
Colunistas, Política

Arthur Lira: de pato manco a lança-bombas – por Jeferson Miola

Por Jeferson Miola

Lira faz jogo duplo.

Ao mesmo tempo em que achaca e chantageia o governo para aumentar o controle de verbas do orçamento e os fundos públicos, ele atua na presidência da Câmara como o grande artífice da ofensiva política e ideológica do extremismo bolsonarista.

Nas horas vagas, ele se reúne com Waldemar Costa Neto, Bolsonaro e Tarcísio de Freitas para construir a candidatura anti-Lula para 2026.

Nas votações sobre temas econômicos, fiscais e tributários, Lira presta obediência e fidelidade à Faria Lima, às finanças e a grupos de interesse. Ele só empresta o apoio da bancada sob sua influência para a aprovação das iniciativas do Planalto que sejam palatáveis ao mercado.

Em questões democráticas, de direitos humanos, justiça tributária e garantias constitucionais, como fake news, marco temporal de terras indígenas, marco do saneamento, anistia a golpistas, fim de desonerações, saídas temporárias de presos etc, Lira alinha sua base parlamentar com o bloco ultraliberal de direita e extrema-direita.

Na abertura do ano legislativo, em resposta aos rumores brasilienses de que perdera poder e seria apenas um “pato manco” na segunda metade na presidência da Câmara, Lira fez um discurso ameaçador [5/2].

“Errará grosseiramente qualquer um que aposte na inércia desse corpo legislativo pela proximidade das eleições ou por especulações sobre a nova mesa diretora”, avisou.

E, para não deixar dúvidas sobre a disposição de combate, ele emendou: “Não subestimem esta Mesa Diretora, não subestimem os membros do parlamento e desta legislatura”.

Ameaça feita, ameaça cumprida: o governo não teve nenhuma facilidade no Congresso, mesmo cedendo às sucessivas imposições do Lira, como o distanciamento do ministro Alexandre Padilha da interlocução direta com ele na articulação política.

Nos últimos dias Lira articulou um grande arsenal de iniciativas que contrariam interesses do governo e da debilitada democracia.

Ele pautou a tramitação em regime de urgência do projeto que invalida delações e também do PL que equipara aborto a homicídio; acelerou a tramitação da PEC das drogas, postergou por pelo menos 180 dias a discussão sobre fake news, facilitou o trâmite dos projetos que concedem anistia a golpistas e do PL que penaliza ativistas sociais por ocupações.

Sem amparo no regimento, Lira pulverizou a relatoria dos projetos sobre a legislação tributária entre vários deputados para reforçar seu poder e reinar como interlocutor privilegiado nas discussões com o governo, mercado e grupos de poder.

À medida que se aproxima o fim do seu mandato na presidência da Câmara, Lira avança as iniciativas que consolidam a ofensiva política e ideológica da extrema-direita com agendas estratégicas do bolsonarismo.

Com sua postura lança-bombas, Lira termina o mandato legando uma realidade política e institucional do país bem à feição dos objetivos do extremismo.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


PATROCÍNIO

Tribuna recomenda!

Related posts

Deixe uma resposta

Required fields are marked *