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Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Generais Torturados. Demoliram a Tribuna da Imprensa
Foto: Reprodução/arquivo Agência O Globo
Colunistas, Política

Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Generais Torturados. Demoliram a Tribuna da Imprensa

Por Helio Fernandes

“Homenagem no Ano do Centenário do Jornalista Helio Fernandes” (Daniel Mazola)

A “anistia ampla, geral e irrestrita” foi uma blasfêmia totalitária. Isso e muito mais, na verdade muitíssimo. Inicialmente foi a tentativa de livrar ou absolver Médici e Geisel os dois “presidentes” que ainda estavam vivos. E mostrar ou demonstrar generosidade.

Não consultaram ninguém, apenas alguns coronéis também torturadores, muito civis que colaboraram com a ditadura, e principalmente o General Otávio Medeiros, Chefe do SNI, e que aparece igualmente o 1º de maio de 1981. Fato que comentarei, a seguir, respondendo a outro leitor, que esqueceu de assinar, (ou não quis, se quiser pode fazê-lo agora, o assunto é importantíssimo).

Os que combateram a ditadura de armas nas mãos (apenas 60, chamados de “guerrilheiros” e muitos outros assassinados nos subterrâneos da ditadura) não podiam se beneficiar. Os que estavam no exterior, asilados ou exilados, puderam voltar, “grande benefício”.

Os generais (e coronéis ainda não promovidos) queriam se livrar de punições, tinham pânico de morrer na cadeia como aconteceu na Argentina e no Chile. Conseguiram a auto-absolvição e a proclamação da inocência avaliada pelos civis, tão culpados quanto eles.

Bastam dois exemplos para mostrar qual a intenção deles. Dois anos depois dessa “anistia” demoliram a Tribuna da Imprensa. Pura vingança por tudo o que o jornal representou na luta contra eles. E o fato do repórter não ter saído do país nos 21 anos em que torturaram, assassinaram, perseguiram, fiquei agressivamente combatendo.

E um episódio que não esqueceram: o fato de logo em 1979, vários advogados famosos entrarem com pedido de indenização (com minha autorização) não contra a União, mas pessoalmente responsabilizando Médici e Geisel. Tiveram contratempos, foram incomodados, precisaram se defender no então Tribunal Federal de Recursos (que acabou com a Constituição de 88) e no Supremo Tribunal Federal. Este teve a covardia de declarar: “Geisel e Médici não tem nada com isso, responsável é a União”.

Ainda bem que nenhum dos ministros de hoje integrava a tribunal de 1979/80. Os ministros de 1979/80, se comparam aos ministros do Supremo da Era Vargas, Estado Novo, mas com o Supremo funcionando que autorizaram o ditador a entregar Olga Benário aos nazistas. (Ela nunca foi Prestes).

Esse general Chefe do SNI, poderosos, pedia a prorrogação da ditadura, pois era candidatíssimo a “presidente” em 1985. Foi o autor e realizador em comando de tudo o que aconteceu com a Tribuna em 1981. Fui então depor na CPI do Terror que funcionava no Congresso. O relator Franco Montoro (depois seria governador de São Paulo) veio ao Rio me convidar, fui depor, construí um libelo nominal que durou 6 horas.

Esse libelo desapareceu completamente. Tempos depois precisei consulta-lo, (falo sempre de improviso), não conseguiram encontra-lo. Ninguém sabia do 1º de Maio, desse mesmo 1981, nova tentativa de prorrogação da permanência dos generais, no caso o mesmo Otávio Medeiros.

Foram incompetentes, a bomba era para explodir em outro lugar e não no carro, matando militares. Para os autores, um desastre. Era preciso fazer inquérito, a repercussão foi enorme. Garantiram a transição com a “eleição indireta” de 1985, monitorada por eles, chamada de “transição”. E o inquérito?

O chefe do SNI providenciou tudo. Conhecia um coronel negro (já morto) que não seria promovido a general, chamou-o e determinou: “Você vai assinar o inquérito sobre o “Atentado do Rio Centro”. Não terá nenhum trabalho, é só assinar. E será promovido a general”

Não podia recusar, se o fizesse seria preso, teria um fim de carreira injusto. O inquérito foi o mais incompreensível, logo arquivado. Mas os generais torturadores continuaram mandando. Eleição direta só em 1989. Com tanto tempo sem povo, sem voto, sem urnas, surgiram oito candidatos.

O general Otávio Medeiros morreu 5 anos depois completamente desconhecido. Continuou morando em Brasília, ia ao supermercado sem segurança alguma, não era incomodado, ninguém sabia quem era.

Fardado, parecia gigante. A paisana era um pigmeu.

(REPRISE)

Fonte: Blog do Helio Fernandes – www.heliofernandesonline.blogspot.com


HELIO FERNANDES – Jornalista, decano da imprensa brasileira. Seu primeiro emprego foi na revista O Cruzeiro, quando tinha 13 ou 14 anos de idade, onde entrou a pedido do tio, gráfico de profissão, e lá permaneceu por aproximadamente 16 anos, junto com seu irmão mais novo Millôr Fernandes. A seguir, foi chefe da seção de esportes do Diário Carioca, onde chegou ao cargo de secretário, semelhante ao atual editor. Quando o jornal fechou, foi ser diretor da revista Manchete. Após o final do Estado Novo, em 1945, cobriu a Assembleia Constituinte de 1946, onde conhece o jornalista Carlos Lacerda, com quem teve longa relação profissional e de amizade. Trabalhou como jornalista no recém-lançado jornal Tribuna da Imprensa. É o único jornalista ainda vivo que participou da cobertura da Assembleia Constituinte de 1946. Foi assessor de imprensa de Juscelino Kubitschek durante a campanha deste à presidência da república em 1955, quando viajou por todo o pais acompanhando o candidato. Após a campanha, polêmico como sempre, volta ao jornalismo de oposição ao governo que ajudara a eleger. Trabalha também na televisão, num programa onde comenta a situação política, com sucesso. No começo da década de 1960, Helio Fernandes adquire o jornal Tribuna da Imprensa, fundado alguns anos antes por Carlos Lacerda agora governador do estado da Guanabara. Vários jornalistas importantes dessa época ganharam destaque com ele, como Paulo Francis e Sebastião Nery. Jornalista sempre polêmico e com ideias de esquerda, já era perseguido antes do Golpe Militar de 1964, preso pela primeira vez em julho de 1963 por ordem do Ministro da Guerra de João Goulart, general Jair Dantas Ribeiro. Após onze dias preso, quatro deles incomunicável, foi libertado por ordem do Supremo Tribunal Federal. Foi o redator do manifesto pela Frente Ampla, lançado por Juscelino, Lacerda e João Goulart e chegou a ser candidato a deputado federal pelo MDB, mas teve seus direitos políticos cassados em 1966. Com a violenta censura à imprensa imposta principalmente com o AI-5 em 1968, foi preso várias vezes, inclusive no DOI-CODI, foi afastado compulsoriamente do Rio de Janeiro e obrigado a passar períodos de exílio interno em Fernando de Noronha e em Pirassununga(SP). Ao contrario de outros donos de jornal, nunca aceitou a censura e nunca deixou de tentar publicar as notícias do período. Seu jornal foi o que mais sofreu intervenção durante o Regime Militar: teve mais de vinte apreensões e censores instalados dentro de seu prédio por dez anos e dois dias. Em 1973 foi preso por seis dias no quartel da Polícia do Exército na rua Barão de Mesquita. A sede do jornal chegou a ser alvo de um atentado a bomba, poucos dias antes do Riocentro, já na época final da ditadura militar, em 1981, mas no dia seguinte o jornal estava nas bancas. Além de irmão do Millôr, Helio Fernandes é pai dos jornalistas Rodolfo Fernandes e Hélio Fernandes Filho (fonte: Wikipédia)

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