Por Thomas M. Conway –

Quando Dan Hoskins tentou organizar colegas em uma fábrica no Oregon, no ano passado, chefes repressivos o obrigaram a passar pelo maior número possível de trabalhadores a caminho de uma reunião disciplinar no escritório de recursos humanos.

A empresa queria criar um clima de medo, lembrou Hoskins, não apenas ameaçando seu emprego, mas garantindo que os outros o vissem ser repreendido.

De acusações disciplinares forjadas a ameaças de demissões e outras táticas de intimidação, as empresas travam feroz guerra de intimidação para sabotar campanhas sindicais de organização dos trabalhadores e atormentar quem apoia o sindicato.

“Você está em uma zona de guerra”, disse Hoskins, que aceitou de bom grado os maus-tratos porque entende os benefícios que os sindicatos trazem para os trabalhadores. “A tensão é forte, e você sabe que vai ficar assim por meses.”

Infelizmente, os trabalhadores vítimas de abuso não podem esperar ajuda do governo Trump, que age para exterminar os sindicatos.

Mesmo com a pandemia de COVID-19 revelando a necessidade urgente de proteções mais fortes no local de trabalho, o NLRB (NLRB – National Labor Relations Board – Conselho Nacional de Relações Trabalhistas) intensificou uma campanha de terra arrasada com o objetivo de aniquilar o trabalho organizado e subjugar os trabalhadores nos EUA.

A sequência de decisões do NLRB leva os sindicatos à morte, por mil cortes, destruindo direitos e práticas há muito estabelecidos que permitem aos trabalhadores se unirem para construir uma vida melhor.

Por exemplo, o NLRB – dirigido por comparsas empresariais escolhidos a dedo por Trump – impôs etapas adicionais e desnecessárias ao procedimento de eleição do sindicato, apenas para arrastar o processo e dar aos patrões mais tempo para frustrar os esforços de organização dos trabalhadores.

E a agência foi além, permitindo aos patrões começar a reter endereços de e-mail e outras informações que os sindicatos precisam apenas para entrar em contato com eleitores em potencial.

O NLRB também determinou que os patrões podem punir trabalhadores apenas por mencionar uma campanha sindical a um colega durante o horário de trabalho. Em uma decisão repressiva concluiu que a mera referência a um esforço de organização – mesmo uma observação improvisada – seria um pedido de voto ilegal de um colega.

O NLRB existe para proteger os direitos dos trabalhadores. Mas, sob Trump, age a favor de empresas gananciosas, desesperadas para silenciar as vozes dos trabalhadores e acabar com os sindicatos a qualquer custo.

Hoskins disse que os vários esforços de organização que ele ajudou a liderar falharam em meio a regras injustas que restringem suas atividades, mas permitem que os patrões intimidem ferozmente os trabalhadores e encham a fábrica de papel – até mesmo armários e mesas do refeitório – com propaganda anti-sindical.

Ele comparou esse jogo desigual que os sindicatos enfrentam a uma campanha política em que apenas um candidato pode usar as redes sociais ou uma luta em que uma pessoa acerta apenas um soco mas recebe dez do adversário.

“Então devemos ganhar a luta de boxe?” perguntou Hoskins, que apoia os sindicatos porque dão voz aos trabalhadores no local de trabalho e forçam as empresas a dividir mais de seus lucros com as pessoas que os criam.

O governo republicano de Trump busca continuamente novas maneiras de manipular o sistema contra os trabalhadores.

Em um de seus maiores presentes para as empresas, o NLRB foi ao tribunal para derrubar uma lei do Oregon que dá aos trabalhadores um grau de proteção contra as perniciosas reuniões anti-sindicais que os patrões promovem regularmente, para depreciar os sindicalistas, mentir sobre seu trabalho e derrotar as campanhas sindicais de organização.

No Oregon os patrões podem realizar reuniões anti-sindicais, mas não podem forçar os trabalhadores a participar delas.

O NLRB entrou com uma ação para mudar isso, argumentando que a lei viola a liberdade de expressão dos patrões.

Está certo. O governo Trump quer dar mais liberdade aos patrões para mentir, intimidar e espalhar medo durante as iniciativas de organização, ao mesmo tempo que dá poderes às empresas para punir os trabalhadores até por mencionar um sindicato.

Hoskins participou de reuniões anti-sindicais ao longo dos anos, nas quais os chefes diziam falsamente que um sindicato poderia minar a competitividade de uma empresa e forçá-la a cortar empregos. “A emoção nº 1 que eles manipulam é o medo”, disse Hoskins, observando que um colega de trabalho, em pânico, o ameaçou por liderar a campanha sindical.

Se o NLRB derrubar a lei do Oregon, os patrões aumentarão a coerção e lançarão campanhas anti-sindicais tão brutais quanto a que Kumho Tire travou contra os trabalhadores em Macon (Geórgia, EUA)três anos atrás.

Depois que os trabalhadores começaram uma campanha de organização com o United Steel Workers (USW) –  – Sindicato dos Trabalhadores em Usinas Siderúrgicas), a Kumho os forçou a participar de reuniões anti-sindicais diárias – que tinham a duração de 90 minutos – nas quais a empresa repetidamente ameaçava fechar a fábrica, retirar o equipamento e eliminar seus empregos .

Kumho aumentou essa tortura com conversas de chão de fábrica nas quais os supervisores continuamente intimidavam os trabalhadores e exigiam saber como eles planejavam votar sobre o sindicato. As táticas de pressão tiveram início no momento em que os trabalhadores começavam seus turnos diários, criando uma atmosfera de puro inferno dentro da fábrica.

Mesmo assim, os trabalhadores perseveram em seus esforços de organização – assim como um número crescente de outros cidadãos.

O ataque do NLRB ao trabalho organizado e aos direitos dos trabalhadores ocorre à medida que mais trabalhadores – em empresas que vão da Trader Joe’s e Whole Foods à FedEx e ao multimilionário Warren Buffett’s Cort Furniture – buscam a proteção dos sindicatos.

A pandemia ampliou ainda mais a desigualdade de renda galopante nos EUA e ressaltou a indiferença das empresas à segurança no local de trabalho, como os trabalhadores da Cort Furniture e do Aeroporto Internacional de Orlando (Flórida) descobriram quando seus chefes os conduziram a reuniões anti-sindicais, apesar da necessidade de distanciamento social.

Esses e outros trabalhadores explorados percebem que só se organizando podem ganhar salários que sustentem a família, benefícios decentes e condições de trabalho seguras. No entanto, construir uma vida melhor para milhões de estadunidenses exigirá um NLRB comprometido com o respeito rigoroso aos direitos trabalhistas.

Trump nomeia os membros do NLRB, e do poderoso conselho geral da agência, e o Senado os confirma. Portanto, apenas a eleição de autoridades federais comprometidas com os direitos dos trabalhadores pode realmente colocar a agência de volta a seu curso normal, de defesa dos direitos trabalhistas.

Trump e seus aliados no Senado não apenas instalaram o advogado empresarial Peter Robb como conselheiro geral, mas colocaram o ex-membro do Congresso do Partido Republicano Marvin Kaplan e os advogados empresariais John Ring e William Emanuel num conselho formado por cinco pessoas – nomeações que deliberadamente desencadearam a guerra contra sindicatos e trabalhadores .

Em uma carta recente, o USW pediu aos senadores que rejeitassem a renomeação de Kaplan, cujo mandato expira neste mês, por Trump, por causa dos danos sem precedentes que ele ajudou a infligir a cidadãos como Hoskins, que só querem um tratamento justo no trabalho. Mas o Senado o confirmou para outro mandato.

Hoskins percebeu o valor da negociação coletiva anos atrás, depois de ver um patrão embolsar milhões de dólares em um único trimestre, enquanto alguns de seus colegas lutavam para sobreviver.

Desde então, ele de boa vontade suportou o assédio dos chefes durante a organização de campanhas, porque entende a diferença de mudança de vida que um sindicato pode trazer. Hoskins não se importa em lutar pelo sindicato. Ele apenas deseja que o NLRB finalmente lhe dê uma chance justa.

Thomas M. Conway é presidente da United Steel Workers, o maior sindicato industrial dos EUA.


Fonte: “People´s World”; tradução: José Carlos Ruy