Redação

Presidente do Senado disse ter considerado ‘grave’ pronunciamento em que presidente da República defendeu fim do isolamento social.Governadores e outros parlamentares também criticaram falas.

O presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), rebateu, na noite desta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro e afirmou que o Brasil precisa de uma “liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população”. Diagnosticado com o novo coronavírus, Alcolumbre disse, em nota, considerar “grave” o pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional de rádio e TV. O texto também é assinado pelo primeiro vice-presidente do Senado, Antônio Anastasia (PSD-MG).

>>Panelaço:  Bolsonaro é alvo de panelaço durante pronunciamento na TV

“Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque às medidas de contenção ao Covid-19. Posição que está na contramão das ações adotadas em outros países e sugeridas pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS).”

No pronunciamento, Bolsonaro pediu a reabertura do comércio e das escolas e o fim do “confinamento em massa”. As medidas têm sido utilizadas por prefeitos e governadores no combate ao novo coronavírus, que já deixou 46 mortos no país.

Alcolumbre também repudiou os ataques de Bolsonaro à imprensa e a governadores que determinaram quarentena nos Estados e disse que a crise no país exige “união, serenidade e equilíbrio”. O presidente do Senado diz que é preciso adotar “as precauções e cautelas necessárias” para o controle da pandemia, “antes que seja tarde demais”

“A Nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade. O Congresso continuará atuante e atento para colaborar no que for necessário para a superação desta crise.”

Mais críticas

A ex-aliada Joice Hasselmman (PSL-SP) criticou duramente o pronunciamento de Bolsonaro. Em letras maiúsculas, a deputada afirmou que a fala do presidente foi irresponsável e inconsequente, além de questionar a sanidade mental do chefe do Executivo.

“Em relação ao pronunciamento do PR sobre o CORONAVÍRUS concluo: @jairbolsonaro foi IRRESPONSÁVEL, INCONSEQUENTE E INSENSÍVEL! O Brasil precisa de um LÍDER com sanidade mental. Todas as chances que o PR teve de acertar ele mesmo jogou fora. ERRA E SE ORGULHA DO ERRO ESTÚPIDO” escreveu a deputada e ex-líder do governo no Congresso.

O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que Bolsonaro está desconectado da realidade.

“Em pronunciamento que atingiu o ápice da irresponsabilidade, negou a gravidade do novo coronavírus, insistiu que se trata de uma “gripezinha” e convocou as pessoas a voltarem às ruas. Segue na contramão de líderes mundiais que prezam pela sua população. É um crime contra a vida do povo brasileiro”, disse em nota.

Governadores também usaram as redes para se pronunciar. Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo também afirmou que Bolsonaro está “desconectado” da realidade no mundo.

“Jair Bolsonaro foi desconectado das orientações dos cientistas, da realidade do mundo e das ações do Ministério da saúde. Confunde a sociedade, atrapalha o trabalho nos Estados e Municípios, menospreza os efeitos da Pandemia. Mostra que estamos sem direção”, concluiu Casagrande.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que o pronunciamento de Bolsonaro “mostra que há poucas esperanças de que ele possa exercer com responsabilidade eficiência a Presidência da República.

“Em respeito às vidas dos maranhenses, bem como em sintonia com cientistas e profissionais da saúde, manterei no Maranhão todas as providências preventivas e de cuidado em face do coronavírus”, escreveu o governador no Twiter.

Os senadores ecoaram mais críticas. Líder do DEM na Casa, o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) disse que “a fala do presidente não esclarece”.

“Ao contrário, gera dúvida sobre o comportamento a ser seguido pela população, cuja boa parte é formada não por atletas, mas por idosos, diabéticos, hipertensos, estressados e deprimidos”, registrou no Twitter.

O líder do PDT, no Senado, Weverto Rocha (MA) escreveu nas redes que “o pronunciamento do presidente Bolsonaro vai na contramão da estratégia de combate ao coronavírus em todo o mundo. Irresponsável e inaceitável que ele insista em colocar vidas em risco, em nome dos resultado econômicos”. “Ainda bem que o STF devolveu autonomia aos governadores”, completou.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes também se manifestou em sentido contrário à fala do presidente. No Twitter, ele disse que a crise não suporta a insensatez.

“A pandemia do #covid19 exige solidariedade e co-responsabilidade. A experiência internacional e as orientações da OMS na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez. #FiqueEmCasa”.

Defesa

Filhos de Bolsonaro também usaram as redes sociais para comentar o pronunciamento do pai. O senador Flávio Bolsonaro (Sem partido-RJ) defendeu a fala e pediu que as pessoas voltem a trabalhar.

“Aqueles que torcem para que o vírus vença o Brasil estão revoltados com a coragem do presidente de escancarar a verdade! Vamos sair do isolamento horizontal para o vertical, protegendo os mais vulneráveis e permitindo que pessoas voltem a trabalhar”, escreveu o Flávio.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) escreveu que “líderes mundiais se preparam para o fim do confinamento”.

“Resguardar os grupos de riscos e permitir que a epidemia tenha sua natural curva de declínio — igual foi com o H1N1, que é mais letal do que o coronavírus — sem que com isso a recessão destrua todos os países”, registrou parlamentar.

O líder do governo na Câmara, deputado Vítor Hugo (PSL-GO), também elogiou o presidente.

“Excelente pronunciamento do nosso presidente! A sua visão de estadista e a sua coragem em ir na contramão da histeria coletiva, construída sem critérios racionais, vão salvar as vidas de milhões de brasileiros”, escreveu.


Fonte: O Globo