Por Siro Darlan –
Segundo o princípio de responsabilidade do filósofo Hans Jonas não se pode sacrificar o futuro pelo presente: se a humanidade se preocupar apenas com o presente, o futuro pode deixar de existir. Jonas, filósofo alemão do século XX trouxe à baila a responsabilidade coletiva a responsabilidade pelo destino de futuras gerações através de sua obra O Princípio Responsabilidade, que foi publicada em alemão, embora o filósofo vivesse nos EUA, e somente em 1984 foi publicado em inglês.
O Princípio da Responsabilidade espalhou em todo Planeta o dever de cuidar da Terra, cujo Dia Universal de proteção passou a ser celebrado no dia 22 de abril. Nos EUA surgiram diversos movimentos como o que se realiza anualmente em Albany, capital do Estado de Nova York, que é o Festival de Cinema de Justiça Ambiental de North Troy coloca os holofotes diretamente em seu quintal, a Região da Capital de Nova York, onde há décadas grupos de bairros têm lutado bravamente por ar limpo contra longas probabilidades em luta constante contra as indústrias poluidoras.
Uma das atrações do Festival será o curta-metragem “Albany Alert”, de Sonja Stark, um olhar nos bastidores da luta bem sucedida do ano passado para aprovar a Lei do Ar Limpo do Condado de Albany. Também testemunharam a estreia do poderoso novo curta-metragem de Dave Publow, “We Care About Our Kids: Voices of the Victims of Norlite”, sobre a farsa dos direitos humanos que vem se desenrolando em câmera lenta há quase 70 anos no incinerador de resíduos perigosos Norlite a poucos quilômetros da capital do estado, em Cohoes, NY. E experimentam “Na Sombra de Norlite”, um novo projeto multimídia da fotojornalista Catherine Rafferty que os levou para dentro dos apartamentos de Saratoga Sites onde os moradores estão morando a algumas centenas de metros de uma instalação comercial de descarte de resíduos tóxicos.
Na década de 1980, tendo como pano de fundo o brutal regime Pinochet, um gigante da mineração sueca despejou dezenas de milhares de toneladas de resíduos perigosos na cidade de Arica, no norte do Chile. Desde então, milhares de habitantes adoeceram e muitos morreram. Agora os sobreviventes estão buscando justiça em um inovador julgamento de responsabilidade corporativa transnacional. É uma história arrepiante e inspiradora com reverberações até a Região da Capital de Nova York – Arica e Troy são cidades irmãs no projeto de pesquisa “Nosso Solo” para desenvolver kits de teste de baixo custo para medir chumbo no solo!
Esses delitos ambientais tem se repetido em todo Planeta, sem que seus autores tenham sido responsabilizados. Em nosso país, não tem sido diferente.
A Bacia Amazônica abriga cerca de 60% das florestas tropicais do mundo, 20% da água potável que alimenta os oceanos e de 10% da biodiversidade global. Espalhada por oito países, a Amazônia se aproxima do seu ponto de inflexão em meio à aceleração do desmatamento e de crimes ambientais. Os esforços globais para acabar com a ilegalidade são pontuais e insuficientes. É preciso despertar, embora tardiamente, para nos engajarmos com esse tema de respeito ao meio ambiente, compromisso que assumimos com a humanidade, desde que aqui se realizou a Conferência Rio-92, de agregar os componentes econômicos, ambientais e sociais com a finalidade de alcançar outro modelo de desenvolvimento que seja sustentável, inclusive com a promoção de consumo de combustíveis fósseis.
Nos últimos anos tem sido notado um aumento da grilagem de terras, extração ilegal de madeira, mineração ilegal e comércio ilícito de animais selvagens, cumprindo a promessa do ministro do meio ambiente de aproveitar a pandemia sanitária, para “deixar passar a boiada”, prejudicando o clima e multiplicando a incidência dos crimes ambientais, a corrupção, o trabalho escravo e a violência no campo.
A biologia filosófica de Hans Jonas tenta proporcionar uma concepção una do homem, reconciliada com a ciência biológica contemporânea. A obra de Jonas foi profundamente influenciado por Heidegger, “O Fenômeno da Vida” tenta sintetizar a filosofia da matéria com a filosofia da mente, produzindo um rico entendimento da biologia, em busca de uma natureza humana material e moral. O Princípio Responsabilidade aborda os problemas sociais e éticos criados pelos avanços tecnológicos. Hans Jonas demonstra a necessidade de haver uma nova ética para lidar com o alcance sem precedentes do poder tecnológico. Jonas trata de uma ética que impõe limites ao processo tecnológico, especialmente à luz do perigo iminente que novas tecnologias possam causar.
Se antes o homem não tinha capacidade de influenciar drasticamente no ambiente natural, esta relação do ser humano com a natureza e o mundo mudou drasticamente. Com o desenvolvimento da tecnologia, a natureza se tornou vulnerável: passou a ser destruída pela humanidade. À medida que ocorrem inovações tecnológicas, formas mais poderosas de tecnologia são desenvolvidas. A tecnologia vem estendendo o alcance do poder humano muito além da capacidade humana de prever as consequências dos avanços tecnológicos.
O filósofo aborda as grandes transformações causadas pela tecnologia: o perigo nuclear, a destruição do planeta, o consumo desenfreado de recursos naturais e a Engenharia Genética.
Para Jonas, as relações entre conhecimento humano, poder tecnológico, responsabilidade e ética são complicadas e fundamentais. Na visão do filósofo, o mundo precisa que os seres humanos tomem conta dele – um fato sem precedentes na história. Os seres humanos precisam trabalhar para garantir o bem-estar de futuras gerações. E a infância e a juventude nunca estiveram tão ameaçados como atualmente. É preciso domesticar esse egoísmo e pensar nas geração que hão de vir. Se a relação dos pais com os filhos é limitada ao desenvolvimento destes, com relação ao Planeta e é ilimitada e contínua.
De nossas ações depende a permanência da vida humana na Terra. Cuidemos de nosso Planeta.
SIRO DARLAN – Juiz de Segundo Grau do TJRJ, Mestre em Saúde Pública e Direitos Humanos, membro da Associação Juízes para a Democracia, conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo, conselheiro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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Atualmente estimativas indicam que a poluição do ar cause sete milhões de mortes em todo o mundo, e custe cerca de US$ 5,11 trilhões. Acabar com transportes movidos a combustíveis fósseis é urgente. Até quando nossa civilização continuará errando mais e acertando menos??