Por Lincoln Penna –
No dia primeiro de janeiro de 2023, Lula reencontrou-se com a sua história.
Diferente da primeira eleição que o levara ao deslumbramento pelo feito depois de três eleições seguidas e pela preocupação de construir sua imagem junto aos poderosos, tanto interna quanto externamente, desta vez foi diferente. Bem diferente.
Marcado pela adversidade que não o abandonou mesmo tendo alcançado vitórias e logrado convencer os mais recalcitrantes, sem falar de sua prisão sem provas cabais senão meras conjecturas devidamente desfeitas, Lula fez reaparecer a liderança incontestável que é. Queiram ou não queiram, ele é a encarnação do povo brasileiro, com suas diferenças e contradições oriundas de sua origem.
Consciente de sua representatividade diante da ameaça de regressão e da mais completa versão do capital em crise, que é o fascismo, soube entender não somente o papel da diversidade, mas sobretudo da importância de reunir os que rejeitam as soluções antidemocráticas. Por isso, ganhou duplamente: ao construir um leque de alianças o mais amplo possível e de entender que precisa completar a obra que o motivou a candidatar-se várias vezes, ou seja, a de dar voz e dignidade ao povo.
A solenidade de posse foi marcada por essa compreensão, a de que não basta repetir suas gestões passadas, alvo de louvores quanto à redução da desigualdade sem, no entanto, abolir a perversidade desse desencontro entre os cidadãos brasileiros, e de ter favorecido ricos e pobres, cada qual nos limites de seus pleitos.
Desta vez, nos presenteou com as figuras humanas mais expressivas de nossa população.
Lá estavam todos ou quase todos representados. Lá estavam o cacique Raoni; a catadora de lixo Aline; o artesão Flávio Pereira; o menino Francisco da periferia de São Paulo; Ivan, o jovem que teve paralisia cerebral; a cozinheira Jucimara, que colocou a faixa; o professor Murilo de Quadros Jesus; e o metalúrgico Wesley Viesba Rodrigues Rocha.
Enebriados, emocionados estava a multidão a assistir a mais empolgante entrega da faixa, devidamente subscrita pelos que no local e no mais distantes rincões do pais assistiam e celebravam com orgulho. Estava sendo consagrada a democracia, no que ela tem de mais importante, a participação popular.
É preciso atingir a finalidade inúmeras vezes sublinhada em suas falas, quando do resultado eleitoral, no Congresso por ocasião de sua investidura e no parlatório, isto é, promover a mais exaustiva política social para dar passos significativos na direção da erradicação da miséria e da ameaça da barbárie.
Resta o fim, teria dito um comandante das tropas soviéticas ao fincar a bandeira de seu país quando da ocupação de Berlim. Quis com isso dizer que não bastava derrotar e ocupar a capital da Alemanha até então sob o domínio nazista. Era preciso impedir definitivamente o seu retorno. Logo, aquele ato era tão somente o início de um processo inconcluso, que deveria ser levado a cabo. Assim, como não basta cumprir o rito eleitoral e empossar o eleito do povo. A luta continua em várias trincheiras democráticas.
A presença de representações legítimas do povo brasileiro na entrega da faixa presidencial a Lula foi não apenas um gesto bonito, além de comovente. Representou um compromisso, que deverá ser cumprido e ao mesmo tempo cobrado por todas as forças sociais e políticas identificadas com velhas e novas demandas, todas no firme propósito de demarcar um novo tempo.
Esse tempo a ser construído terá necessariamente de ser um tempo de inclusão social a ultrapassar as medidas emergenciais de assistência aos mais carentes e das demais formas de justiça distributiva, para elevar a condição de vida de amplas parcelas de nosso povo. Este povo que um dia terá de exercer com mais amplitude os poderes de decisão firmou a convicção de que chegou a hora de ser realmente protagonista de seu destino.
A posse foi realizada cercada de muitas expectativas. Os compromissos assumidos e reiterados ao iniciar o novo mandato de Lula. Suas diretrizes são conhecidas e seu desejo de acertar os rumos de nossa história também foi sinalizado. Cabe ao povo estar atento e forte para que não amarguemos novos retrocesso.
Iniciamos uma nova caminhada em direção ao futuro decantado em nossa literatura e sonhado pelo povo. Ela tem à frente desafios, obstáculos a serem ultrapassados, mas conta com a determinação e a vontade coletiva de muita gente capaz de transformar esses desejos em realidade. A luta pela construção do Brasil democrático e voltado para a imensa maioria de nossa gente começou.
Mãos à obra.
LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON); Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
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