Por Maitê Rodriguez –
É um fato inegável: a tecnologia mudou o jeito de viver. Com a chegada dos computadores, a internet e, posteriormente, os smartphones, tudo se tornou mais simples. Essa evolução causou um impacto tão grande que os meios precisaram se adaptar, inovando no jeito de atrair consumidores. O avanço tecnológico possibilitou o surgimento dos aplicativos móveis, mais conhecidos como apps. Com o objetivo de facilitar a realização de atividades específicas, eles conquistaram facilmente os usuários de smartphones e trouxeram mais praticidade ao cotidiano das pessoas. Mas onde começa a história dos apps? É preciso voltar no tempo.
Em 1946, surgiu o Electronic Numerical Integrator and Computer (ENIAC ), o primeiro computador do mundo. Desenvolvido por cientistas americanos a pedido do exército, ele foi construído na Segunda Guerra Mundial para resolver uma grande quantidade de cálculos balísticos. Pesava cerca de 30 toneladas e ocupava uma área de 180 m², mais ou menos o tamanho de um apartamento com três quartos.
O processamento de dados do ENIAC era feito por meio de cartões perfurados manuseados por mulheres que trabalhavam no exército. A produção dessa máquina custou cerca de US$ 500 mil na época, o que hoje, com a inflação, equivaleria a aproximadamente US$ 6 milhões. Esse computador funcionou por dez anos e realizou mais contas do que a humanidade havia conseguido até aquele período.
O surgimento do ENIAC revolucionou a área da informática, e foi só o primeiro passo para estimular a criação de outros computadores. Pouco a pouco, as máquinas foram evoluindo tanto no seu tamanho quanto no seu processamento. Por conta do alto custo financeiro, os computadores eram exclusivamente utilizados por grandes empresas e órgãos governamentais.
Foi só no fim da década de 70 que a computação doméstica foi ganhando espaço. Desenvolvido por Steve Jobs e Steve Wozniak, o Apple I, lançado em 1976, é considerado o primeiro computador pessoal no mundo a ser vendido totalmente montado. O sucesso foi tanto que logo foi lançado o Apple II, com capacidades gráficas e de som.
Essa época foi muito importante para a história da computação. O desenvolvimento da tecnologia permitiu que as máquinas reduzissem seu tamanho, aumentassem sua velocidade e seu processamento de dados. Com o preço acessível, pela primeira vez, as pessoas comuns tinham contato direto com os computadores, o que permitiu uma nova forma de se relacionar com as informações. Foi o começo da realidade contemporânea.
É claro que com esse avanço, outros jeitos de melhorar os computadores, também chamados de PC’s (Personal Computers), foram surgindo ao longo do tempo. Os chamados “softwares” são usados para definir uma sequência de instruções que são interpretadas por um computador. Já os softwares de aplicativos são programas que foram criados para exercer uma função própria, como, por exemplo, o Microsoft Word, que é um editor de texto.
Com a ajuda desses aplicativos desktop, o usuário pode resolver problemas gerais e realizar determinadas tarefas, seja em um ambiente de trabalho ou para uso pessoal. Os programas para computadores foram adquirindo uma nova forma e se adaptaram aos dispositivos eletrônicos móveis, como os players de música e o telefone celular.
A evolução do celular levou ao que hoje é popularmente conhecido como smartphone. Esse aparelho é uma combinação das características de um computador, com funcionalidades avançadas e que são estendidas pelos aplicativos móveis processados por seu sistema operacional. O IOS, da Apple e o Android, do Google são alguns desses sistemas.
O primeiro produto a mesclar a telefonia com a computação foi o IBM Simon, lançado em 1994. Apesar de ter muitas funções de um smartphone, como a tela sensível ao toque, ele não era conhecido como tal. Foi só em 1997 que o termo smartphone foi utilizado pela primeira vez com o lançamento do GS88 da Ericsson. A popularização veio com os aparelhos da Nokia e do Blackberry, que dominavam o mercado até a chegada do Iphone da Apple.
Com a mudança natural do celular para os smartphones, como explica o pesquisador e analista de sistema, Antoanne Pontes, de 36 anos, os fabricantes começaram a implementar outras utilidades além da ligação e do armazenamento de contatos. As empresas parceiras se aproximaram destes fabricantes e levaram novas funcionalidades e novos programas aos smartphones, como o acesso a e-mails e navegador de internet.
“O grande diferencial que fez os smartphones se tornarem tão populares e surgirem milhares de aplicativos foi a criação da loja online para Iphone feita pela Apple. Logo em seguida, na abertura para desenvolvedores, submeter seus apps para serem vendidos nesta loja. A Apple ficava com 30% do valor da venda e o restante era do dono do aplicativo. Isto fez, inclusive, com que grandes corporações, como a Blackberry, perdessem mercado”, explica o analista.
Essa popularidade fez com que, no segundo trimestre de 2013, os smartphones respondessem a 51,8% das vendas globais de telefones móveis, conforme estudo da consultoria Gartner, superando pela primeira vez os celulares tradicionais, que tiveram queda de 21% no mesmo período. Atualmente, o Brasil tem mais smartphones ativos do que pessoas. Dados da Fundição Getúlio Vargas revelam que existem 220 milhões de aparelhos ativos no país para 208, 5 milhões de habitantes, de acordo com a última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE).
A descoberta de que é possível usar o celular para outros intuitos além de ligar e mandar mensagens pode estar relacionada à propagação dos smartphones. Os aplicativos apareceram nas mais diversas funcionalidades e categorias, desde entretenimento até negócios profissionais. E quanto mais são utilizados, mais eles se tornam presentes na rotina da pessoas.
“Eu costumo utilizar muitos aplicativos ao longo do meu dia”, conta o estudante João Gabriel, de 20 anos. Para ele, os apps fazem com que os processos, que antes seriam muitos mais complexos, sejam resolvidos de maneira mais fácil. “Recentemente eu tenho usado bastante o My Fitness Pal, que me ajuda na minha rotina de dieta. Ele atende a minhas necessidades pessoais e me auxilia a ter uma saúde melhor”.
O estudante Thiago Haupert, de 19 anos, diz que usa em média de 15 a 20 aplicativos por dia. Ele ainda conta que apesar de utilizar bastante os apps voltados para entretenimento, tende a preferir aqueles que atendem a suas necessidades pessoais e acadêmicas. “Eu tenho apps muito específicos para os estudos. Uso o Gmail para acessar os e-mails, o Drive para fazer trabalhos, Photomath para resolver equações e o Khan Academy que tem vídeo aulas”.
Um levantamento feito pela empresa norte-americana App Annie, aponta que o brasileiro gasta em média 200 minutos por dia utilizando apps, o que nos coloca na quarta posição do ranking de países que mais consomem aplicativos no mundo. No ano de 2017, a quantidade de aplicativos baixados ultrapassou a marca de 175 bilhões de programas, impulsionado principalmente pelo mercado brasileiro e indiano.
O programador e desenvolvedor, Jonathas Guerra, de 29 anos, afirma que o mercado de aplicativos está fervendo. “Está extremamente valorizado. Existe um déficit de pelo menos meio milhão de profissionais na área de desenvolvimento.” Para ele, fazer parte desse mercado trata-se de uma empolgante missão de desenvolver algo que não existe. “Além de todos os benefícios financeiros, você aprende diariamente. Todo dia algo novo surge, o que é bastante desafiador.”
Na área há mais de 15 anos, Jonathas explica o que é preciso para a criação de um aplicativo mobile: “É necessário ter conhecimento avançado de linguagem de programação, como por exemplo o JavaScript e o Swift. Devem estar envolvidos no projeto um programador, um designer e um desenvolvedor front-end. Porém apenas um profissional pode ser tudo isso, que é chamado de Desenvolvedor FullStack.”
O analista de sistema, Antoanne Pontes, acrescenta sobre como é cada etapa dessa criação: “Inicialmente um problema é identificado, em seguida a viabilidade de resolver é avaliada. Uma vez que se entende a possibilidade, os papéis e perfis envolvidos são mapeados e então inicia-se a parte da ideação do processo que o aplicativo vai fazer. Por último, é programar e submeter para publicação nas lojas de aplicativos.”
Duas das lojas online de aplicativos mais utilizadas são a Google Play Store e a App Store. A loja disponível no seu smartphone vai depender do sistema operacional utilizado no seu aparelho. De acordo com a empresa americana Gartner, 97% dos usuários utilizam os sistemas Android e IOS. Já as plataformas Windows e Blackberry somam, juntas, apenas 2,8% do mercado.
Em 2017, a Google Play ultrapassou a App Store em aplicativos disponíveis. Dados da plataforma AppFigures, mostram que a loja da Apple finalizou o ano com 2,1 milhões de apps disponíveis, menos 5% em relação ao ano anterior. Já a loja do Google teve um crescimento de 30%, chegando a 3,6 milhões de aplicativos para quem usa Android.
Com tantos aplicativos à disposição, existem alguns que não são tão facilitadores e acabam não servindo para nada. De acordo com Antoanne Pontes, esses apps são na verdade coletores de informações pessoais para fins lucrativos. “Mas não precisamos ficar muito preocupados, pois são poucos e quando descobertos, rapidamente são removidos das lojas”, diz o especialista.
Ainda sobre a grande quantidade de aplicativos disponíveis, Antoanne afirma que os voltados para comunicação são certamente os mais utilizados, principalmente os de troca de mensagens instantâneas. A estudante Tayná Vitória, de 20 anos, diz que o WhatsApp é o seu app favorito, pois permite sempre estar em contato com seus amigos e familiares. “É um aplicativo onde consigo interagir e trocar ideias rapidamente, além de fazer vídeos chamadas e ligações”.
Em um período de três meses, as pessoas gastaram 85 bilhões de horas no aplicativo WhatsApp. A análise feita pela empresa Apptopia foi publicada na revista americana Forbes, e ainda aponta que usuários do sistema Android gastam cinco vezes mais tempo no app de mensagens do que os que possuem sistema IOS. Em comparação, nesse mesmo tempo, foram gastos 30 bilhões de horas no Facebook.
Apesar dos apps de mensagens e redes socais serem os favoritos, são os jogos que arrecadam mais financeiramente. Segundo relatório da empresa App Annie divulgado em 2018, o mercado de games mobile no Brasil cresceu cerca de 60% nos últimos dois anos. O setor já é um dos principais, representando 75% dos gastos nas lojas da Apple e do Google.
O programador de jogos digitais Igor Santana, de 22 anos, afirma que esse crescimento abriu espaço para muitas oportunidades na área dos games. Os consoles, como o PlayStation e o Xbox, tem o valor um pouco alto assim como seus jogos, então os aplicativos em smartphones possibilitam que o usuário tenha diversos games em seu aparelho sem gastar muito dinheiro.
“A gente está muito mais expresso. Passamos pouco tempo em casa e quando estamos não temos tempo para jogar. Durante o dia, perdemos muitas horas em condução, como ônibus ou trem, por isso as pessoas acabam baixando jogos para se distrair no caminho. Com o aumento da força, da potência e da memória dos celulares, cada vez mais os jogos, que antes só serviam para consoles ou PC’s, migram para o mobile”, explica Igor.
Um dos aplicativos pioneiros na história foi o jogo Snake, conhecido no Brasil como o “jogo da cobrinha”, popularizado nos celulares da Nokia no fim dos anos 90. Desde o seu lançamento, os games mobile evoluíram bastante, tanto no quesito visual, quanto no jeito que impactaram na sociedade. Hoje, os jogos para celular se tornaram tão famosos que existem até campeonatos mundiais para alguns.
Conforme pesquisa do site Versus, o Clash Royale é o primeiro da lista de jogos mais populares, contando com mais de 100 milhões de jogadores diários em 2016 e possuindo um torneio mundial chamado Crown Championship. Dentre os outros games em destaque no Brasil, podemos citar o Free Fire, Helix Jump, Subway Surfers, PUBG Mobile e Pou.
Diante a tantos números e dados, é mais do que comprovado que os aplicativos chegaram para transformar radicalmente a maneira como os seres humanos vivem. Tudo mudou: a forma de comunicar, o modo de se relacionar, produzir, consumir e se informar. Em todos os ambientes a tecnologia está sempre presente. Hoje não é preciso mais sair de casa para pagar contas ou para pedir uma refeição. Nunca mais será preciso fazer sinal para pegar um táxi na rua. Até o shopping se tornou dispensável, pois é possível fazer compras pelo celular com um simples toque.
A revolução tecnológica fez com que os aparelhos de smartphones se tornassem essenciais e extremamente importantes na rotina da pessoas. Todos se aproximaram do universo virtual, mas será que isto afasta o ser humano da realidade? É preciso refletir até que ponto a tecnologia é favorável e saudável para a convivência em sociedade. Em pleno século 21, essa constante modernização deve ser vista como aliada e não como uma forma de escapar do mundo real. A rede social não pode substituir a realidade social. O futuro já chegou e é preciso aprender a se adaptar da melhor maneira a essa nova vida em aplicativos.
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