Por José Macedo –
Esse artigo significa minha homenagem póstuma, à professora Maria da Conceição Tavares, fugitiva da ditadura de Salazar, aos 23 anos e, falecida, neste dia 08.
Ela ensinou a muitos de nossa geração a pensar, criticamente, sobre economia política e sobre nossas mazelas.
No texto anterior, fiz um extenso comentário sobre a crise econômica e tentativas de superação, na perspectiva capitalista, o agronegócio e a Reforma Agrária.
Esta, é um gargalo de difícil enfrentamento, diante das duras resistências de poderosos latifundiários, que já ocupam cerca de 45% das terras cultivadas.
Em 1930, Getúlio Vargas inaugurou a Nova República, enterrou parte do atraso da Velha, herança da incompleta Proclamaçào da República, em 1889.
Em 1937, Getúlio Vargas instala o Estado Novo, um período manchado pelo autoritarismo e ferrenha ditadura, mas foi deposto, em 1945.
Getúlio fechou o Congresso, interferiu no Sistema de Justiça, prendeu opositores ou, quem o contrariasse.
As prisões ficaram cheias de politicos e de intelectuais, que se opuseram ao automatismo, à repressão impiedosa, a falta de liberdade, não permitindo manifestações, o exercício da crítica e do livre pensamento.
Filinto Muller foi um militar, chefe da polícia política, no Estado Novo, foi um terror, prendeu políticos e intelectuais, arbitramento, ordenando torturas e perseguições a opositores.
Assim, o campo político da “Era Vargas” foi desastroso, um paradoxo, diante de suas conquistas, avanços sociais e econômicos.
A Era Vargas foi responsável pela criação dos pilares estruturantes de um Estado moderno, sob o prisma econômico, social e necessários fundamentos.
Algumas ações merecem ser lembradas: O direito de voto das mulheres, de significado exercício de cidadania, destaco.
Getúlio Vargas criou a previdência social, a CLT, O salário mínimo, o BNDES, a Petrobras, a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional (Eletrobrás, a Vale do Rio Doce.
Getúlio Vargas empreendeu as bases para uma economia capitalista e independente das economias centrais imperialistas, pensando na substituição de importação, na Lei das vantagens comparativas, libertando-se da vocação de mera exportadora de produtos primários e agrícolas, ou seja, deixando de ser uma nação, essencialmente, agrícola.
O governo nacionalista de Getúlio Vargas (1930-1945) gerou insatisfação entre militares de alta patente, por isso, foi deposto, em 29 de outubro de 1945.
Getúlio refugia-se em sua fazenda, no RGS., mas atento aos acontecimentos.
Mas, em 1950, retorna ao poder, após eleito, democraticamente.
Porém, sob profunda pressão e acusações, suicida-se, em 1954.
A CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), vinculada às Nações Unidas, exerceu papel relevante, fazendo com que, os países latino-americanos conscientizassem-se das desvantagens, codiderando as economias centrais e desenvolvidas.
As relações de troca entre nações eram desfavoráveis e empobrecedoras para as economias periféricas aprofundando, assim, as disparidades.
A CEPAL contrariava a Escola de Chicago (chicagoan boys) e monetaristas, influenciados, alunos de Milton Friedman, Eugênio Gudin, Roberto Campos e outros.
A onda desenvolvimentista motivava, inclusive, engenheiros a estudarem economia, disseminando modelos de econometria, moda e atrativo para ser economista, exibir modelos matemáticos complicados, assessorando governos e instituições, na onda eufórica, o mito crescimento econômico e do desenvolvimentismo.
O crescimento do PIB e da consequente renda nacional “per capta” empolgaram, até porque a regra era crescer o bolo e depois, dividir.
Essa visão perdurou, do mesmo modo, durante os 21 anos, do golpe civil, militar e empresarial da ditadura de 1964.
Eu cursava economia na UFBA (UNIVERSIDADE DA BAHIA), lia apostilas da CEPAL e livros de Celso Furtado, Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré, entre outros.
Quando me transferi para o Rio, no último ano de conclusão do curso, assisti algumas de suas aulas.
No dia 11 de abril de 1984, após o comicio das “Diretas Já” (dia 10), fui convidado por meu ex-professor da UFBA, Jairo Simões, para um almoço no restaurante La Mole, no Leblon, na Dias Ferreira.
Participaram desse almoço: Rômulo de Almeida, Maria da Conceição Tavares, Jairo Simões e o jornalista Paulo Henrique Amorim.
A economista, Maria da Conceição Tavares era matemática, economista e professora da UFRJ e da UNICAMP.
Ela emitia com veemência críticas aos economistas que abusavam dos modelos econométricos.
Para ela, esses modelos matemáticos eram imprestáveis e inúteis.
Seus estudos críticos à economia brasileira eram centrados na má distribuição da renda, na fome, exclusão social, desvantagem nas relações de troca, necessidade da Reforma Agrária, fatores e variáveis, responsáveis pela eternização do subdesenvolvimento, da pobreza e da subordinação econômica, enfim da dependência, como dizia Brizola: “As perdas internacionais”.
Maria da Conceição não era marxista, mas utilizava, como fundamento, do instrumental marxista em seus estudos e reflexões.
O economista, Celso Furtado, inspirador daquela geração de estudantes e de economistas, também, não era marxista, apesar das agudas críticas ao capitalismo, fundadas na teoria da dependência
Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e outros economistas cepalinos, nunca, declararam-se marxistas, eram da esquerda latino-americana, cujo pensamento era crítico ao capitalismo predador, rentista e concentrador de renda.
Maria da Conceição Tavares inspirou centenas de alunos, ensinou a formar o pensamento crítico sobre a economia, o Estado e sua função indutora do desenvolvimento econômico.
O estudo da economia inclui e se subordina à política e a história, pensava a ilustre professora, que já nos deixa saudades e fará falta, seus alunos e seguidores.
A CEPAL contrariava a Escola de Chicago (chicagoan boys) e monetaristas, influenciados, alunos Milton Friedman, Eugênio Gudin, Roberto Campos e outros.
Os monetaristas, os Chicagoan Boys, todos os defensores do Estado mínimo e das privatizações.
O crescimento do PIB e da consequente renda nacional “per capta” empolgavam, a regra era o crescer o bolo e depois, dividir.
O país consciente sentirá falta da voz, sentirá falta das aulas, sobremodo das coerentes e sábias críticas dessa portuguesa, assumidamente, brasileira, professora Maria da Conceição Tavares.
Sua voz e ensinamentos ecoarão nas ondas do universo, que muito a agradece.
Vá em paz, ilustre mestra!
JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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