Redação

A partir de 2024, todo equipamento com bateria que ligamos na tomada e é vendido na Europa terá de usar o padrão USB-C. Os smartphones Android mais modernos já o usam, muitos laptops também, assim como iPads. A entrada USB-C é pequenina, portanto cabe em qualquer aparelho. Não importa se colocamos o cabo de um lado ou do outro, sempre encaixa. Tolera taxas de transferência de dados altas e carregamento rápido.

E, como o mercado europeu representa um PIB de US$ 18 trilhões, todas as empresas se adaptarão. Os iPhones, já no ano que vem, trocarão o lightning da Apple pelo novo padrão.

NO MUNDO TODO – O resultado da política europeia é que o mundo todo adotará um só tipo de entrada. É, pois, hora de a gente prestar atenção. Os centros mundiais da inovação podem ainda ser EUA e China. Mas é a Europa que está organizando o mundo digital para todos nós.

Essa regulação pode parecer boba perante outras brigas que a União Europeia (UE) vem comprando —uns dez processos antitrustes, lei obrigando transparência de algoritmos, regras duras para competição, e por aí vai. Mas só parece boba. Hoje gastamos muito dinheiro com cabos e carregadores.

O preço do que compramos aumenta porque o aparelho tem de vir com a dupla fio mais tomada. Se um só desses pares passar a carregar tudo — do notebook à caixa de som —, a vida de todo mundo ficará mais simples, os custos do equipamento diminuirão e, no conjunto, a indústria passará a ser mais sustentável.

O NOME DELA – No centro da regulação digital europeia está uma política liberal de 54 anos chamada Margrethe Vestager, que já havia servido como vice-premiê e ministra da Fazenda na Dinamarca. Ela é economista e lidera, na UE, a Comissão de Adequação Digital. Não é só a excelência técnica de Vestager que permite à Europa avançar rapidamente perante temas em que outros países, como os próprios Estados Unidos, travam.

A estrutura de governança da UE, para o bem ou para o mal, ajuda muito. Ou, dito de outra forma, burocracia, quando bem estruturada, funciona.

A polarização do mundo travou parlamentos nacionais. É assim por toda parte — alguns ainda conseguem ser minimamente funcionais, mas quaisquer pautas divisivas têm dificuldade de caminhar. Na Europa, as leis que valem para todo o bloco são elaboradas independentemente dos parlamentos. Corpos técnicos foram erguidos para cada área, com gente tecnicamente habilitada e políticos no comando.

EM DETALHES – Cada problema neste mundo complexo em que vivemos é estudado nos detalhes. Um Projeto de Lei é elaborado. Só aí os parlamentos de cada país aprovam ou não.

Descolar a elaboração das leis que tratam de temas complexos da aprovação tornou a Europa eficiente no mundo digital. Com muita frequência, a União Europeia é criticada por burocracia excessiva — e há muito de verdade na crítica.

Mas, perante o problema de pôr ordem nos impérios digitais que buscam se impor aos governos, a burocracia vem funcionando a favor.

DO OUTRO LADO – Afinal, existem também corporações muito grandes, muito ricas, muito poderosas, que desenvolvem tecnologias mal compreendidas. Tecnologias que impactam de inúmeras maneiras nosso cotidiano.

Às vezes, mudando a dinâmica do debate público. Dificultando o fluxo de informação de qualidade em democracias. Estabelecendo monopólios que impedem a entrada de startups inovadoras em mercados estabelecidos. Até influenciando o preço de produtos na manipulação dos marketplaces do comércio eletrônico.

Neste ano, leis europeias pela primeira vez regularão todos esses espaços. Ao fazê-lo, seus efeitos serão sentidos até bem longe do continente.

Fonte: O Globo


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