Por José Carlos de Assis

A crise forjada por Eduardo Bolsonaro contra a China atesta o grau de primarismo com que as relações exteriores brasileiras estão sendo conduzidas. Em ordem hierárquica, temos três eventos ditados pela mais absoluta imbecilidade. Primeiro, o ataque gratuito do filho do Presidente às autoridades chinesas, bem à altura da imbecilidade do pai. Segundo, a nota igualmente idiota do Ministro das Relações Exteriores que jogou mais fogo na fogueira, ao questionar a iniciativa da Embaixada chinesa que respondeu ao moleque que se aproveita da condição de filho de Presidente, este igualmente aloprado, para lançar farpas contra a China.

Entretanto, o descalabro não parou aí. O vice-presidente Hamilton Mourão que sabe de tudo arvorou-se em grande diplomata chamando a atenção dos chineses para como devem fazer diplomacia. No seu entender, a nota insolente de Eduardo Bolsonaro, que circulou pela internet, não deveria ser respondida pelas redes sociais. O garoto tresloucado, que é nada menos que presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, podia fazer suas estripulias de garoto vadio pela internet, claro. Mas a China deveria engolir em seco e recorrer a canais diplomáticos educadamente indicados por Mourão.

Grandes idiotas, vocês não sabem o que é a China! Por trás da China atual há três mil anos de civilização.

Ao contrário do que pensa o idiota Bolsonaro, a China, para além de ser um país dirigido de forma competente pelo Partido Comunista, é um país de longa tradição em múltiplos campos, inclusive na diplomacia. O comercial é outro desses campos. Paralelamente ela exibe uma das mais importantes culturas do mundo, uma tradição arqueológica fantástica, além de ser uma nação de vanguarda em todas as tecnologias. Nós, nisso, estamos rastejando.

Não há como deixar de assumir o lado da China nesse entrevero. E é óbvio que a China vai retaliar. Ela pode fazer um julgamento realista e deixar passar o tempo, confiando em que os Bolsonaros assumam um comportamento menos infantil nas relações externas. Mas pode, por outro lado, endurecer o jogo. Nesse caso, tenho duas sugestões: primeiro, que o agronegócio pressione para valer a família Bolsonaro a fim de que ela se desculpe com a China, publicamente, resguardando relações comerciais nas quais obviamente somos a parte fraca. Segundo, que a China adote uma atitude serena em relação à família, suspendendo as relações diplomáticas e comerciais com o Brasil até que um presidente confiável e responsável assuma o Planalto.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.