Categorias

Tribuna da Imprensa Livre

A Cruz nossa de cada Dia
Colunistas, Geral

A Cruz nossa de cada Dia

Por Michelle Meneses

Nesta sexta-feira Santa, assisti ao excelente filme A Paixão de Cristo, dirigido por Mel Gibson, que em seu lançamento em 2004, gerou muita polêmica em torno das fortíssimas cenas do espancamento e da crueldade a que Jesus Cristo foi submetido.

Porém o filme vai muito além das chocantes cenas de violência, ele nos faz refletir sobre o atual momento que vivemos no Brasil.

A condenação de Jesus, se inicia com um “julgamento” repleto de ilegalidades, mesmo para aquela época, mais de 2000 anos atrás!

Primeiro Jesus foi preso e acusado de blasfêmia por se declarar “Filho de Deus”, foi levado para ser julgado à noite (fora do horário para realização de tais atos processuais) perante Juízes que não tinham competência para tal (olha aí o Juiz Natural e a suspeição) sem direito à defesa e sem provas do “crime” pelo qual era acusado.

Jesus teve seu martírio sacramentado por Julgadores Parciais, ávidos pelo poder e cheios de cólera, que necessitavam de um bode expiatório, para acalmar a população ensandecida por “Justiça” naquela comemoração de Páscoa em Jerusalém.

Juízes incompetentes, Acusações pífias , Provas inexistentes, uma Turba raivosa e envenenada por falsas notícias, mistura-se tudo isso e em poucas horas, Jesus de Nazaré foi preso, julgado, sentenciado e condenado à morte.

Açoitado, torturado e humilhado por soldados, homens da Lei, um resiliente Jesus percorreu a via dolorosa até ser crucificado.

Lembra muito bem os dias atuais.

Onde milhares de pessoas são acusadas injustamente e pagam por crimes que não cometeram!

Incrível como a humanidade mudou tão pouco em todo esse tempo.

Aqui no Brasil diariamente pessoas são condenadas com base em provas duvidosas e sem o respeito ao devido processo legal.

A Justiça é cega, mas parece que nem sempre, pois, quanto mais escura for a cor da pele, quanto mais pobre for o “suspeito “, as chances de ser condenado por crimes que jamais cometeu são enormes.

Vivemos tempos difíceis, o mundo foi assolado por um Vírus letal, que encontrou solo fértil em terras brasileiras, onde a Ciência foi renegada e falsos profetas indicam curas e remédio milagrosos!

Pobre Brasil, duramente castigado pelo Coronavirus, pela crueldade de um Presidente incapaz e negacionista e pelo sentimento de ódio que paira sobre a população.

Fomos jogados à própria sorte, onde o cada “um por si e Deus por todos”, se tornou um mantra macabro de sobrevivência!

Em sua breve existência Jesus Cristo nos ensinou que devemos amar uns aos outros, a ter compaixão pelos mais necessitados e acima de tudo ter solidariedade pela dor do próximo.

Infelizmente vivenciamos hoje em nosso país a falta de humanidade e empatia pela dor do outro!

A história da paixão de Cristo, chama atenção por um detalhe, que muitas vezes passa despercebido, em determinado momento ao longo da “Via Crucis”, os soldados romanos exigiram que um homem do povo que ali estava, ajudasse Jesus a carregar a Cruz, pois, ele estava muito machucado e já não tinha forças para carregar a Própria Cruz até o derradeiro destino.

Jesus, então, fez-lhe um aceno de ternura e falou: “Simão, guarda a fé, sobretudo, pois todo o bem que se faz é uma luz no caminho”.

Esse homem do povo era Simão de Cirene, que mesmo por obrigação, ajudou Jesus a carregar sua cruz por boa parte da via dolorosa até o seu calvário.

Pouco se fala deste homem na Bíblia ou em livros de história, contudo a sua atitude nos serve de lição para 2021.

Quantos de nós estamos dispostos a carregar a “Cruz ” do outro? Quantos de nós estamos preparados para estender às mãos ao outro sem pedir nada em troca?

Mesmo sendo obrigado pelas circunstâncias daquele momento, Simão não negou ajuda à Jesus e nem mesmo o fez somente pela imposição dos soldados, mas, por compaixão dividiu o peso daquela cruz, daquela dor com alguém que jamais tinha visto!

Uma parcela considerável da sociedade brasileira pensa exatamente ao contrário: Se a “Cruz” que um irmão carrega, não nos pertence, então não devemos carregá-la!

Percebemos nitidamente esse comportamento nesse momento de extremo sofrimento pelo qual estamos passando, são poucas pessoas que estão dispostas a agir de modo digno, solidário e responsável.

Se a Cruz é pesada e Você não está disposto a ajudar, que ao menos não atrapalhe àqueles que lutam diariamente para curar e amenizar a dor dos que sofrem.

Que sejamos Luz na vida do outro.
Feliz Páscoa!


MICHELLE MENESES – Advogada, Escritora, Mãe de 4 filhos e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Related posts

Deixe uma resposta

Required fields are marked *