Por Siro Darlan –
Nunca essa frase da filósofa alemã Hannah Arendt esteve tão presente como no sistema penitenciário brasileiro em estado de coisa inconstitucional. Não apenas os carcereiros, mas promotores e juízes se jactam da mediocridade de não pensar.
Nada é mais importante para o homem moderno que a sua liberdade. Como afirmou Huxley em seu Admirável Mundo Novo, não é aquilo que tememos que irá nos oprimir no futuro, mas aquilo que amamos. Como amar e respeitar uma “Justiça” que oprime e seleciona suas vítimas pela cor da pele e por sua posição social?
A Academia Brasileira de Letras do Cárcere foi convidada para ser representada através de seus Acadêmicos, homens e mulheres que já saíram do cárcere ou não, mas se reconciliaram com a sociedade escrevendo literatura sobre a superação do crime, do sofrimento e a dor do cárcere, para participar do lançamento Internacional da Rede Global Freeddom Scholar – Rede Global de Acadêmicos da Liberdade a se realizar em São Paulo nos dias 31 de agosto e 1 de setembro. A finalidade do encontro é discutir a educação e a literatura como forma de superação do encarceramento e o não encarceramento.
Estarão presentes egressos dos sistemas penais de diversos países. Acreditando que o discurso apregoado pelo CNJ fosse à vera, e que a leitura e escrita fossem estar na ordem do dia na aplicação privativa de liberdade em substituição às torturas, corrupções e violências psicológicas e físicas, fomos animados solicitar às cavernas das Varas de Execução Penal as respectivas autorizações para que os apenados em cumprimento de pena em liberdade condicional viajassem para São Paulo e participar desse evento educacional.
Iludidos compramos roupas e passagens para os acadêmicos da ABLCarcere nos representassem com suas poesias e literatura. Ledo engano, quando um promotor opinou contrariamente a essa viagem e o Poeta das Favelas Edilberto caísse em prantos e recitasse: “ Ao meio dia bato na porta da VEP/ Quero respostas para as minhas perguntas/ Como Poeta já deixei meu legado/ Não sou cavalo pra ninguém andar montado”. Certamente teria sido mais fácil para esses heróis da resistência a volta para o crime onde seriam mais respeitados do que muitos ditadores da Lei, mas tiveram sensibilidade social e trocaram as armas pela pena. Eles saíram da Caverna de Platão, mas seus algozes continuam numa caverna mais profunda que a de Platão. Por essa razão só livros são importantes. Por essa razão, nada suprime a cultura e a capacidade de pensar sobre si próprio e por si mesmo.
Em certa medida, a liberdade é também uma questão de escolha.
Certamente os Acadêmicos, ainda que frustrados, são mais libertos que seus algozes.
Bem, é claro que o juiz é quem decide, mas sua pouca cultura humanista torna mais fácil despachar, “Indefiro na forma da promoção do MP”.
Com certeza essa decisão que banaliza o mal será tema do seminário, onde a liberdade do ser humano será valorizada como não tem sido por aqueles que fazem corar de vergonha o Rei Salomão bíblico, sobretudo quando seu homônimo tem sido o Ogro das Trevas Togadas.
SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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