Por Sérgio Cabral Filho –
Acabo de assistir ao filme “Zona de Interesse”, produção da BBC, direção e roteiro do inglês Jonathan Glazer. Uma porrada no estômago!
Ao assistir a essa obra de arte cinematográfica, não pude deixar de lembrar da Intelectual judia Hannah Arendt, alemã de nascimento e cidadã americana, que cunhou a expressão “a banalidade do mal”.
Desde sábado à noite, após a sessão do cinema, que não paro de refletir sobre a capacidade de certas sociedades de conviver com horrores diários ao seu redor sem impedi-los de se expandir e, muitas vezes, prevalecer.
Conviver com milicianos e traficantes no comando de bairros e comunidades, onde determinam quem entra e quem sai do território. Quanto cada morador paga por mês pela sua segurança, o valor da cobrança aos comerciantes, a energia e a TV a cabo. O serviço de vans e mototaxis, além de outros nichos de explorações tão absurdas como essas citadas, verdadeiras banalidaes do mal…
A intolerância à opção sexual do outro, como se alguém, que não é a pessoa, possa ser responsável pelo seu gosto sexual! Banalidade do mal…
A intolerância aos PCDs, a incapacidade de adaptar lugares e serviços a essa população gigante e discriminada, a falta de escolas e mercado de trabalho para integrá-los, banalidades do mal…
O abominável preconceito racial, entranhado na sociedade brasileira, aos pretos e pardos. A falta de sensibilidade de não reconhecer 300 anos de escravidão do povo negro nesse país.
A resistência às cotas raciais. Invoca-se o mérito e as histórias de “self made men” como se a meritocracia individual se sobrepujasse às regras justas e coletivas, que equilibram o jogo da disputa da vida, ao equalizar oportunidades a partir do reconhecimento histórico da injustiça cometida por séculos e que perdura de outras formas no Brasil de hoje, banalidade do mal…
As mulheres são tratadas como pessoas de segunda classe em diversas sociedades do mundo. E se convive com isso sem uma indignação das nações ricas. Me refiro a milhões de mulheres! Que são impedidas de respirar livremente. De ser o que gostariam de ser e não podem, sob pena de castigos severos e até a morte, em muitos casos, banalidades do mal…
Agora mesmo, no Oriente Médio, assistimos a uma organização terrorista, o Hamas, cometer barbaridades e afirmar seu objetivo de extermínio dos judeus e de Israel. E há no mundo democrático quem apoie esses psicopatas!
Retorno ao filme “Zona de Interesse”. Rudolf Hoss é o chefe de Auschwitz. Vive numa bela casa, com sua família, vizinhos do campo de concentração que exterminou mais de 1 milhão de judeus. Tem uma vida açucarada ao lado da fumaça e das cinzas de Auschwitz.
O filme é baseado no livro de Martin Amis, Companhia das Letras, editado em 2015 no Brasil, e disputa os principais prêmios do cinema, inclusive o Oscar de melhor filme e direção. Além do Bafta, a principal premiação cinematográfica do Reino Unido.
Imperdível! Além de nos deixar reflexivos e estupefatos, por mais que já tenhamos fartas informações sobre a maior barbaridade e crueldade feita contra uma população específica na história da humanidade.
Hoje, os grandes bancos e as grandes empresas do mundo têm como princípio e foco o conceito ESG- Sustentabilidade ambiental, social, e governança.
Que tal o mesmo conceito para as nações?
Por que os organismos internacionais, por exemplo, como Banco Mundial, FMI, entre outros, não impõem regras do tipo ESG, para financiar nações? Além dos cumprimentos de metas econômicas e de gestão fiscal, estabelecidos por essas entidades, que se imponham regras humanitárias e ambientais. Sem isso não há grana!
Seria um grande passo civilizatório.
SÉRGIO CABRAL FILHO – Jornalista e Consultor Político da Tribuna da Imprensa Livre.
Instagram @sergiocabral_filho
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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