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O Im(pro)pério de Janja – por Wander Lourenço
Opinião

O Im(pro)pério de Janja – por Wander Lourenço

Por Wander Lourenço

Inicio este artigo com a menção de que não sou cientista político ou faço parte do primeiro escalão diplomático do Itamarati nem muito menos pleiteio me postular ao cargo de cronista d’O Globo ou da Folha de São Paulo.

Não obstante, devo avisá-los que pretendo exercer o direito de expressão para opinar sobre o episódio protagonizado pela primeira-dama do país, Dona Rosângela Lula da Silva, e o Sr. X – informo que assim irei chamá-lo por recusar-me a digitar o nome próprio deste indivíduo; mas, por favor, não tome como ofensa pessoal; e, sim, à Policarpo Quaresma, como uma espécie de higienização linguística que diga não aos estrangeirismos em toda mídia vigente.

Preâmbulo exposto, partindo do pressuposto de que, nem à esquerda ou à extrema-direita, não há santo de oratório nesta República onde se diz que Deus é brasileiro, peço-vos que analisemos o palavreado da socióloga afamada, sem nenhum juízo de valor do mérito de que o turpilóquio fosse merecido ou não, visto que o ideólogo bilionário da política expansionista da desinformação, de fato e à direita, tornou-se a mais incômoda reencarnação drummondiana da pedra no sapato da gestão Lula e do governo do Partido dos Trabalhadores e aliados, além do mais disforme pedregulho no Mocassim italiano do inflamável ministro do STF, que até hoje lhes (nos) deve explicação pelo arquivamento das acusações processuais contra o ex-mandatário responsável pela estúrdia Reforma Trabalhista pátria e otras cositas más.

Desta feita, o fato é que a Sra. Janja da Silva, tida por opositores e desafetos como autoritária e possessiva, diga-se de passagem, sem qualquer intenção palpável, remeteu-nos às paginas da História colonial, ao nos reportar ao período do Ciclo do Ouro da Capitania das Minas Gerais. Dera-se que, naquela época, a folclórica e espevitada Xica da Silva, amásia do Contratador de Diamantes João Fernandes de Oliveira, insurgiu-se contra os asseclas administradores da Metrópole lusitana, com o dedo em riste da opulência e da insubordinação. Logo, diante de tamanha demonstração de poder e afirmação, a ex-escrava mestiça Xica Parda era reconhecida pela população do Arraial de Santo Antônio do Tejuco, como a Xica Que Manda. Entretanto, sendo El-Rey d. Lula I muito mais do que um embasbacado reinol que aportou que aportou no Brasil-Colônia do século XVIII, com a incumbência de vigilância canina sobre o processo de exploração das pedras preciosas extraídas da minas, pois para isto já existe o seu ministro Fernando Haddad, creio eu que a força decisória da primeira-dama Janja Que Manda seja ainda mais imponente do que a exercida por Xica da Silva.

Neste contexto, no bojo de uma Nação soberana, que se equilibra por sobre o provérbio de que “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, a cônjuge de Sua Alteza Luís Inácio Lula da Silva, sentiu-se em pleno direito de também ser ela tão desbocada como a Xica da Silva, diante dos chefes de Estado e de toda imprensa internacional, convocados para participação e cobertura do G20, na antiga Corte do Rio de Janeiro. Por outro lado, se o poder pode subir a cabeça até quem não possui, imagina-se que, já que o chefe de Estado não lhe impõe quaisquer limites de função e hierarquia – vide a equivocada indicação aos ministérios da Igualdade Racial e da Cultura –, a Janja Que Manda resolveu agredir verbalmente (em inglês indefectível!…) o Sr. X, sem medir as drásticas consequências do verbo transitivo direto, ainda que quem pratica o ato o fará com ou contra alguém, salvo engano gramatical.

Nesta toada, sempre soube-se que quem recorre aos impropérios perde a razão; e, desde os primórdios do mundo civilizado, esbravejar contra o próximo através de palavras de baixo calão nos impulsiona ao patamar de bazófias e grosserias, que, por sinal, ao que nos parece, deve ter sido herança do governo anterior, que humilhou o país à condição de pária.

Por fim, mesmo que o presidente da República tenha desautorizado a primeira-dama Janja Que Manda, a mulher-bomba, ressaltando não haver necessidade de xingar ninguém, o tiro no pé já foi disparado e a munição concedida ao inimigo em sua trincheira bélica à extrema-direita, de onde o seu líder já aponta e cita “problema diplomático”, propiciando, dessarte, o bombardeio sem fogos de artifício, por parte de quem sempre fora partidário do ódio e do despautério que, para muito além da ofensa verborrágica e desnecessária, como diria o Poeta, nos iguala em desgraça, neste espetáculo tétrico (e/ou patético), a que somos obrigados a assistir, mesmo sem termos comprado o impagável ingresso da desfaçatez e da intolerância humana, tão em voga na administração passada, que se notabilizou pelo insulto gratuito e irresponsável, impelindo-nos ao patamar de persona non grata, à luz do degredo histórico, político e social.

WANDER LOURENÇO é professor, cineasta, poeta, letrista e escritor. PhD em Literatura Comparada pela Universidade Clássica de Lisboa; pela PUC-GO; e pela UFMG. Doutor, mestre e especialista em Literatura Brasileira pela Universidade Federal Fluminense. Produtor e diretor do documentários “Carlos Nejar, o Dom Quixote dos Pampas (2015); “Nélida Piñon, a Dama de Pétalas” (2017); e o “Cravo e a lapela: biografia de Ricardo Cravo Albin” (2021). Livros recentes: Escrevinhaturas – Poesia / Editora Elefante-SP (2022); e A República do Cruzeiro do Sul – Romance histórico / Editora Almedina (2023).

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