Por Cacau de Brito –
Notícias e imagens atemorizam o carioca todos os dias e escancaram o flagelo da violência. Esta é uma guerra urbana que revela a fragilidade das políticas de segurança e as consequências da desigualdade social.
A gente tenta se acostumar, ignorar ou esquecer, mas não consegue. Ontem foi um assassinato a facadas que chamou a atenção. Hoje, a disputa por pontos de venda de drogas que atrai os olhares de todos. Temos a violência no trânsito, a violência doméstica, a violência no esporte… e a vida precisa seguir. Assim, um fato aterrador, hoje, nos ajuda a esquecer a consternação de ontem; a dor se transforma em número e os olhos já não têm mais lágrimas para chorar.
O custo da violência é estimado em trezentos milhões de reais por dia no Brasil e estes valores não contabilizam o sofrimento físico e psicológico das vítimas. Os homicídios cresceram 29% na década passada, sendo de 48% entre os jovens. O estudo denominado Mapa da Violência divulgado pela Unesco recentemente revela que os jovens são as maiores vítimas das mortes por armas de fogo no Brasil. Dos 42.416 óbitos por disparo de armas de fogo em 2012, 24.882 foram de pessoas na faixa de 15 a 29 anos, o equivalente a 59%. Em termos demográficos, os jovens correspondiam a pouco menos de 27% da população brasileira.
A pobreza, a fome, a falta de oportunidades, a precária escolarização, a baixa qualificação para o trabalho, a falta de acesso ao lazer e à cultura ainda influenciam os números da violência. Ou seja, a desigualdade social ainda é um combustível da criminalidade e este perfil social da violência provoca confusões que se convertem em abusos por parte das autoridades governamentais responsáveis pela segurança pública, gerando a criminalização da pobreza. Sabe-se que o crime se espalha por todas as classes sociais, embora seja mais perseguido nas classes empobrecidas.
O crime organizado escolheu as favelas para se instalar e recruta quase todo o seu pessoal ali. Com isso, a associação entre crime e pobreza ganhou uma nova dimensão. O que se vê é que muitos jovens se tornam vulneráveis à escolha de vias ilegais como forma de sobrevivência.
Essa opção pelo crime ainda é favorecida pela tolerância cultural em relação aos desvios sociais e também pelas deficiências de nossas instituições, apesar de tanto investimento feito pelo Estado nos último anos. Somam-se a estes fatores a ineficiência policial, a estrutura e os processos judiciários ultrapassados e um dos piores sistemas prisionais do mundo. As estratégias utilizadas na segurança pública são meramente reativas e quase sempre repressivas. A utilização da tecnologia da informação ainda é incipiente e quase não existem esforços conjuntos de prevenção e redução dos índices de violência.
Nas últimas décadas o foco da criminalidade vem se ampliando. Crianças e jovens de todas as classes sociais sofrem intensa exposição a programas televisivos e jogos eletrônicos cada vez mais violentos. Hoje é cada vez maior o número de jovens da alta classe média que agridem, por diversão ou intolerância. As vítimas? Como sempre, os negros, os homossexuais, os nordestinos e indígenas. Os resultados? A violência banalizada! A vida humana banalizada!
Conviver com a violência no Rio de Janeiro ainda se torna um desafio maior na medida em que a propaganda e os valores consumistas levam uma parcela considerável de jovens já segregados no espaço urbano à obtenção de bens materiais e prestígio social por meio da violência.
Pense nisso: desigualdade social, qualidade de vida degradada na periferia, baixo investimento em educação e qualificação profissional, precarização do trabalho e salários insuficientes ainda nos farão conviver por muito tempo com a violência em suas mais variadas formas de expressão.
Este Rio de violência não é o que queremos, mas, se esta foi a semente plantada pelos nossos governantes, estamos em plena fase da colheita.
CACAU DE BRITO é advogado, escritor, membro da Igreja Batista do Recreio e do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Reconhecido por sua atuação em defesa dos direitos fundamentais e militância na área dos Direitos Humanos. Foi diretor e coordenador-geral do Procon-RJ, assessor na Secretaria Municipal de Trabalho e Renda – SMTE, no Rio de Janeiro e chefe de gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ, em duas legislaturas. Fundador da Associação dos Advogados Evangélicos do Rio de Janeiro. Colaborador do Projeto Cristolândia, um programa permanente de prevenção, recuperação e assistência a dependentes químicos e codependentes, dirigido pela Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Fundador e coordenador do Movimento O Rio pede paz e do Fórum da Cidadania do Rio de Janeiro.
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