Por Ricardo Cravo Albin –

Há tempos não me emocionava tanto quanto ao ver há minutos pela TV a entrevista do meu querido Fausto Silva em preito de agradecimento aos doadores do seu novo coração, que acabou de lhe salvar a vida.

Afeiçoei-me a Fausto depois de conviver com ele por quase dois meses em São Paulo, ainda nos estúdios da Globo. Fui seu único convidado para avaliar as possibilidades de extração de sons e de música a partir de grupos musicais que não empregassem a fonte natural, do canto, a voz, mas de movimentos possíveis e originais a partir do próprio corpo humano, como cabeça, tronco e membros. Até o estalar ancestral de dedos teria sido criativamente proposto por concorrentes.

Ao saber que ele estava próximo a morte em hospital à espera da doação de um coração, passei a acompanhar todos seus passos, torcendo com fervor pela recuperação de uma das melhores figuras das muitas que pude conhecer nessa vida de intimidade com tantos artistas e apresentadores de rádio e TV.

Rezei e torci pelo desfecho ideal para a doce figura que estimo e amo, o Fausto: o rápido aparecimento de doador a tempo de salvá-lo e, o melhor, que o sucesso do seu transplante estimulasse outras pessoas a fazer o mesmo.

A doação de órgãos de um corpo, cujas famílias deveriam ser informadas antes de qualquer coisa, mesmo da parte de doadores em pleno viço de saúde, ou, ao contrário, já idosos – o meu caso. Por isso corri a escrever bilhete para meus familiares – “Oh gente, em caso de minha morte: doação geral de órgãos que ainda possam ser transplantados”. Claro que bem sei dos desgastes do meu corpo pelas décadas já vividas, mas como dizia a canção e a sabedoria popular – “a esperança é sempre a última que morre”. Torcida total a minha no sentido de poder ajudar, ser útil.

Perdoem-me os destinatários dessa carta pública, especialmente este queridíssimo Fausto e os familiares do doador Fábio Cordeiro da Silva, jogador de futebol e pedreiro de 35 anos.

Porque é para eles, os doadores e suas atentas famílias, que projeto meu profundo suspiro de gratidão. A extração de órgão central do corpo de qualquer ente querido para salvar outro ser humano é ato supremo de solidariedade.

E quando o receptor e titular de um largo e generoso coração como Fausto Silva, a natureza explode em milhares de bolhas de champanhe em celebração, reconhecimento e euforia.

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É como me sinto e o que me leva aqui a escrever esta croniqueta, em feitio de apelo a tantos amigos e conhecidos que possam ser generosos. Portanto, que as preces se multipliquem pela alma deste doador do coração do Fausto. E de todos os demais, que podem autorizar (de imediato) seus familiares ao gesto extremo e mais eloquente que pode existir neste mundo de tantas misérias, desatenções, injustiças e egoísmo: a possibilidade de salvar vidas, de estancar sofrimento, de ser portador de felicidade, este de fato o único bem que vale a pena nessa existência terrena sempre efêmera e fugaz.

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P.S – Barbara Heliodora 100 anos.

Mundo do teatro celebra hoje os 100 anos de Barbara Heliodora - Folha PE

Barbara Heliodora, filha de amigos queridos a poetisa Ana Amélia e o goleiro do Fluminense e historiador Marcos Carneiro de Mendonça foi escritora de primeira linha nas letras cariocas. Seu centenário, agora celebrado, evoca uma das mais altas críticas historiadoras do teatro no Brasil e no mundo. Bárbara sempre morando na magia do Largo do Boticário, em frente a famosa Mansão dos Abacaxis, dos pais, foi tanto temida quanto respeitada pela classe teatral. E por todos que dela se aproximavam.

Saudades eternas, extensivas a Patrícia Heliodora, amiga desde sempre.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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