Redação –
O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias, por GDias, deixou a sede da Polícia Federal, em Brasília, no começo da tarde desta sexta-feira (21/4), após prestar depoimento por mais de quatro horas à Polícia Federal nesta sexta-feira. Ele chegou no prédio por volta das 9h20 e saiu às 13h30.
Dias foi ao local para ser ouvido sobre os ataques do 8 de janeiro. Aos investigadores, ele negou ligação com os atentados. A oitiva ocorreu por determinação do ministro Alexandre de Moraes, que pretende apurar se Gdias escondeu as imagens do governo e da própria Polícia Federal e as explicações para a presença dele no local.
O ex-ministro negou que tenha envolvimento com a invasão dos prédios públicos, disse que a investigação provará sua inocência e que decidiu se afastar do cargo para atuar em sua defesa. Deveria começar respondendo a estas três perguntas:
1 – POR QUE HOUVE UM TRATAMENTO CORDIAL AOS INVASORES?
Essa é a questão mais importante na queda do ministro — e segundo interlocutores do governo foi a que mais irritou o presidente. Ela foi determinante na queda do ministro.
As imagens mostram que os invasores não eram pacíficos. Eles aparecem destruindo vidros e um relógio histórico. As imagens revelam uma série de evidências de um comportamento cordial por parte dos funcionários e seguranças do GSI — alguns deles militares.
Em alguns trechos, os funcionários do GSI aparecem conversando calmamente com os invasores; em outras imagens, os funcionários cumprimentam cordialmente os vândalos;
Um homem pega um extintor de incêndio, que foi usador por diversos vândalos para destruir os prédios. Um funcionário do GSI assiste passivamente e não fala nada;
Um major do GSI aparece abrindo uma porta de onde os invasores tiram garrafas de água para se refrescar; Gonçalves Dias aparece caminhando ao lado dos invasores, aparentemente mostrando a saída para eles.
As investigações precisarão esclarecer porque não houve prisão imediata dos invasores — e porque os funcionários e o ex-ministro não parecem estar tentando evitar as invasões ou chamar reforços.
DIZ O EX-MINISTRO – GDias se defende afirmando que suas ações e da equipe naquele dia tiveram o objetivo de tirar os invasores de locais sensíveis e levá-los ao segundo andar para serem presos.
“Eu entrei no palácio depois que o palácio foi invadido e estava retirando as pessoas do terceiro piso e do quarto piso para que houvesse a prisão no segundo”, disse o ex-ministro à Globonews.
“Na sala ao lado (da sala) do presidente, eu retirei três pessoas que estavam lá dentro e mandei descer pro segundo (andar). Eu fui verificar se as portas estavam fechadas e se não houve nenhuma depredação lá dentro.”
2 – POR QUE ESSAS IMAGENS DEMORARAM TANTO PARA APARECER?
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Lula teria pedido diversas vezes ao general as imagens do sistema de segurança daquele dia. Uma das explicações dadas anteriormente era de que uma das câmeras tinha sido quebrada.
De acordo com o jornal, o presidente, que colocou as imagens sob sigilo, teria sido surpreendido pelo vazamento nesta semana. Oficialmente, o governo diz que a Polícia Federal está investigando todas as imagens do dia.
Dias depois do ataque, o governo chegou a divulgar imagens da invasão do Palácio do Planalto — como as que mostram um invasor derrubando o relógio histórico — mas os trechos eram editados.
DIZ O EX-MINISTRO – Gonçalves Dias nega que tenha impedido acesso do presidente às imagens, e disse que tudo foi distribuído aos órgãos competentes que investigam as invasões.
O ex-ministro defendeu também que condutas como a do funcionário que foi filmado distribuindo água aos invasores sejam punidas.
“Aquilo é um desvio de atitude”, disse, referindo-se à cena.
Ainda assim, Dias defendeu que a escolha de imagens como essa, de um funcionário distribuindo água, foi seletiva demais.
3 – POR QUE GONÇALVES DIAS ESTAVA EM BRASÍLIA NO DOMINGO?
Ainda não está claro porque o ministro estava no gabinete no dia dos ataques. As imagens mostram que ele anda sem escolta em meio aos invasores.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-comandante militar do Palácio do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, enviou reforços do Batalhão da Guarda Presidencial para o Palácio do Planalto dois dias antes dos ataques para Brasília.
Mas a presença do efetivo foi dispensada pelo GSI no dia 7 de janeiro — um dia antes da invasão. Não se sabe porque esse efetivo foi dispensado, justamente na véspera dos atos violentos.
Fonte: BBC
AGENDA
https://www.oabrj.org.br/eventos/juizes-perseguidos-estado-direito
Comandante diz que Exército investigará e processará os oficiais da ativa envolvidos
A primeira baixa do governo Lula foi de um general, justamente no Dia do Exército, após uma solenidade com a presença do presidente, que conversou amigavelmente com o ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante da Força, general Tomás Paiva. Houve, porém, uma evidente articulação para isolar as Forças Armadas da crise com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o general Gonçalves Dias.
Assim, Múcio foi convenientemente excluído da reunião com o vice Geraldo Alckmin, os ministros do Planalto e da Justiça, mais o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos, em que Lula decidiu demitir o general. A ausência foi combinada.
DISSE MÚCIO – “É um caso particular, o Exército não tem nada a ver com isso”, me disse Múcio, sobre Gonçalves Dias retirando vândalos suavemente do andar do gabinete presidencial, enquanto oficiais do GSI até serviam água a eles.
O general Tomás ecoou: “Não tenho alcance sobre os envolvidos, que estavam fora do Exército. Mas quem voltar, aí é outra coisa”, me disse. Eles serão investigados pela Justiça e depois, condenados ou absolvidos, poderão sofrer processo disciplinar na Força. “Se não for crime, pode ser transgressão disciplinar”, deixou claro o comandante.
Demitido “a pedido”, o general Gonçalves Dias, que está na reserva há 11 anos, está repetindo a versão de que foi ao Planalto após a invasão, testou se a porta da sala de Lula estava fechada, no terceiro andar, e conduziu “manifestantes” para o segundo, onde seriam presos. O problema é que a PF e a PM tinham ordens de prender todos eles, mas o GSI mandou não prender ninguém. Só depois de se reunir com outros ministros no Ministério da Justiça, Gonçalves Dias deu a ordem de prisão, por telefone.
ORDEM DE PRISÃO – Segundo um auxiliar do presidente, o general ficou próximo de Lula nos dois primeiros mandatos e “é íntegro, correto”, mas há um consenso de que os vídeos são “estarrecedores”, porque flagram os oficiais do GSI ajudando os invasores e também porque Gonçalves Dias, o chefe, cometeu vários erros.
Enquanto Andrei Passos afastou a cúpula e 21 superintendentes da PF, ele manteve no GSI “os golpistas do general Heleno e do Bolsonaro”. Na véspera do 8/1, não viu, ou desconsiderou, o ofício da própria PF alertando para a gravidade da situação e não reforçou a segurança do Planalto. E, no dia, foi “leniente, até conivente”, com os invasores. Houve traição?
O bom da história é que, assim como o governo não quer envolver o Exército na crise, o Exército não vai passar a mão na cabeça de ninguém. Cada um que responda pelos seus erros, ou crimes.
Fonte: Estadão
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